Há pouco mais de duas semanas macacos bugios (Alouatta guariba) foram filmados agonizando em uma mata fechada no município de Plácido de Castro, no Acre. Publicadas na internet, as imagens foram compartilhadas com a especulação de que os primatas não-humanos teriam sido acometidos de COVID-19. Contraindo os boatos, o relatório parcial da investigação apontou nesta quinta-feira (01) que os animais morreram de febre amarela.
“O diagnóstico dos PNHs (primatas não-humanos) foi confirmado pelo Instituto Evandro Chagas para febre amarela. Estamos aguardando o Ministério da Saúde liberar uma nota técnica para maiores esclarecimentos”, conta Seleucia Nóbrega, médica-veterinária da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), que participou da equipe que analisou os macacos.
Seleucia e outros profissionais da Sesacre, do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (IDAF), da Secretaria Municipal de Saúde e Vigilância Sanitária (Semsa/Visa) foram os responsáveis pela coleta e necrópsia dos animais. Assim que a possibilidade dos animais estarem com COVID-19 começou a circular entre a população, os especialistas foram até o local onde as imagens foram feitas e encontraram dois macacos mortos e os ossos de um terceiro.
Após orientar os moradores da região, os profissionais coletaram o material biológico dos animais no Departamento de Controle de Zoonoses (DCZ). As amostras foram enviadas para o Laboratório Central de Saúde Pública do Acre (Lacen), em Rio Branco, e posteriormente para o Instituto Evandro Chagas, em Belém, no Pará.
Para evitar que os animais fossem perseguidos por conta do temor relacionado à possível transmissão do coronavírus, a Sociedade Brasileira de Primatologia advertiu a respeito da falta de evidências que confirmassem a doença. Em nota, também assinada pela Sociedade Brasileira de Mastozoologia, pela Universidade Federal do Acre (Ufac), pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Institute for Zoo, a instituição ressaltou que a suspeita inicial era febre amarela, pois a doença é endêmica da região e o seu vírus está em período de maior circulação.
Com a confirmação da doença, o Ministério da Saúde divulgará uma nota técnica com esclarecimentos, orientações e medidas que serão adotadas para a segurança sanitária dos moradores. Provavelmente a população local deverá ser vacinada.
“Em geral os PNH com febre amarela apresentam febre, perda de apetite, ficam apáticos, desidratados, e alguns podem apresentar hemorragias na boca e no intestino (esses coletados não tinham quadro hemorrágico)”, afirma Seleucia.
Os macacos são considerados sentinelas para a febre amarela, uma doença grave que chega a matar 30% das pessoas infectadas. Por ser grave em humanos, e mais grave ainda em macacos – em bugios a mortalidade chega a impressionantes 90% –, o menor sinal de mortandade de primatas não-humanos na floresta é indicativo de que nesse local pode estar sob incidência do vírus, que é transmitido pelos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Por isso, a coleta dos animais mortos pela vigilância sanitária, posterior laudo e notificação das autoridades de saúde são obrigatórias.
“O encontro de macacos mortos em uma dada área, em um dado momento, é um sinal de alerta importante de que uma coisa está acontecendo diferente, e que essa coisa diferente pode ser a febre amarela, que pode atingir os humanos daqui um tempo”, explicou o veterinário e entomologista Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em entrevista a ((o))eco em dezembro de 2019.
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