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Ar na Floresta da Tijuca é 6,9 vezes mais puro que no restante do Rio, diz estudo

Pesquisadores mediram, em 4 áreas da cidade, a concentração de compostos que dão origem ao ozônio, gás altamente poluente quando em baixas altitudes

Gabriel Tussini ·
7 de junho de 2023

Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Veiga de Almeida (UVA) demonstra a diferença que a Floresta da Tijuca faz na qualidade do ar de seu entorno. Medindo a quantidade de hidrocarbonetos precursores do ozônio (O³) em 4 pontos da cidade, os cientistas chegaram à conclusão de que quanto mais distante da floresta urbana, mais poluído é o ar. As medições encontraram concentrações de poluentes quase 7 vezes maiores na região estudada mais distante da floresta.

O ozônio, uma molécula vital em partes mais altas da atmosfera – a camada de ozônio, na estratosfera –, é um gás de efeito estufa altamente poluente e com efeitos adversos à saúde quando em baixas altitudes. Ele se forma próximo de nós de forma secundária, a partir dos elementos precursores, como certos hidrocarbonetos e o óxido de nitrogênio (NOx). Ao lado do chamado material particulado fino (pequenas partículas suspensas no ar após a queima de combustíveis fósseis, por exemplo), o ozônio é considerado o maior responsável pela poluição atmosférica.

Foram medidos hidrocarbonetos precursores do ozônio em 4 áreas, e os resultados encontrados mostram que quando a cobertura florestal diminui, a poluição assume o lugar: na Floresta da Tijuca, foram aferidos 21,5 µg m-3 (microgramas por milímetro); no vizinho Parque Estadual do Grajaú, 35,5 µg m-3; na área urbana do bairro da Tijuca, 57,9 µg m-3; e no bairro de Del Castilho, distante cerca de 8 km do parque nacional, foram encontrados 148,6 µg m-3 dos precursores do ozônio. Ou seja, os níveis de poluição na floresta são quase 7 vezes menores do que na área urbana mais distante medida pelo estudo.

Áreas aproximadas das medições. Foto: Reprodução/Google Maps

“As medições que fizemos em comparação com outras áreas urbanas da cidade nos provaram que a densidade de cobertura vegetal de Mata Atlântica presente no Parque Nacional da Tijuca funciona como uma barreira contra a poluição atmosférica”, explicou Cleyton Martins, professor do mestrado em Ciências Ambientais da UVA e um dos autores do estudo. Segundo ele, os dois pontos de amostragem em áreas de floresta são visitados por centenas de pessoas por dia, mas mesmo assim “a densidade de mata impede que a poluição se estenda até a floresta”.

Martins destaca a importância da preservação florestal para a saúde e bem-estar da população, mais uma vez comprovada cientificamente. “A Floresta da Tijuca, bem como toda a Mata Atlântica, desempenha um papel fundamental na mitigação dos poluentes atmosféricos, sobretudo em grandes cidades como o Rio de Janeiro”, frisou. “Preservar a Mata Atlântica e criar mecanismos para tal é dever de todos, sobretudo considerando a sua importância não só pela sua biodiversidade, mas também para a regulação climática e disponibilidade hídrica, e ainda para a qualidade do ar e a mitigação das mudanças climáticas”, concluiu.

  • Gabriel Tussini

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

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