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Bateu asas e voou: relatório critica proibição do comércio de espécies silvestres

Estudo sobre comércio de aves na Amazônia afirma que a proibição no Brasil pôs fim a um período de exageros, mas impediu que país aproveitasse economicamente a biodiversidade

Vandré Fonseca ·
16 de janeiro de 2019 · 5 anos atrás
Proibição de comércio de espécies silvestres no Brasil pôs fim a um período de exageros, mas impediu que país aproveitasse economicamente a biodiversidade., defende relatório. Foto: Pixabay.

Manaus ‒ A proibição da venda de animais silvestres pode ter contribuído para reduzir, e muito, o tráfico internacional de aves sul-americanas. Mas depois de cinco décadas de proibição, especialistas apontam que as políticas restritivas de países como o Brasil, Colômbia, Bolívia e Equador levaram essas nações a abrir mão de um negócio lucrativo, e que também tem contribuído no combate ao tráfico ilegal e conservação: a criação e comercialização de espécies silvestres.

Essa conclusão está no relatório Bird’s-eye view: Lessons from 50 years of bird trade regulation & conservation in Amazon countries (Visão com olhos de pássaro: Lições de 50 anos da regulamentação do comércio e conservação nos países amazônico, em uma tradução livre), divulgado nesta quarta-feira (16) pela organização não governamental internacional Traffic, com apoio do WWF. A Traffic atua para que o comércio de espécies selvagens não seja uma ameaça à conservação da natureza, segundo afirma a página da organização na internet.

O relatório destaca que a proibição pôs fim ao comércio predatório que estava dizimando espécies sul-americanas até a década de 1960. Cita o exemplo de 25 mil beija-flores caçados no estado do Pará, em 1932, para servirem de enfeite em caixas de chocolate na Itália. Porém a proibição, determinada a partir de 1967, impediu que o Brasil e vizinhos amazônicos desenvolvessem alternativas econômicas rentáveis para aproveitar e proteger a biodiversidade.

O Brasil possui a terceira maior diversidade de aves do mundo, atrás da Colômbia e do Peru. Entre os dez países com maior número de espécies de aves registradas, seis são amazônicos (Além dos três já citados, Equador, Bolívia e Venezuela). Com tanta riqueza batendo asas na região, turismo de observação de aves é apontado como um importante incentivo econômico a preservação das aves.

Proibição criou oportunidades, no exterior

Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) voa no Pantanal. Foto: Fábio Pellegrini.

A proibição do comércio no Brasil, aponta o relatório, não evitou que milhares de pássaros tenham saído ilegalmente do país. Estima-se, segundo o texto, que até 10 mil araras-azuis (Anodorhynchus hyacinthinus) tenham sido contrabandeadas, inclusive com documentação obtida em países vizinhos, como Argentina, Bolívia e Paraguai. Como resultado, as Filipinas se tornaram o maior exportador de araras-azuis. Ao Brasil restou investir em ações intensas de conservação, para recuperar a população selvagem que estava desaparecendo.

O estudo lembra ainda que a recuperação de espécies protegidas da exploração comercial encontra obstáculos, como a degradação ambiental, poluição e perda de habitats, que afetam tanto espécies comerciais quanto as outras. Das 1809 espécies de aves que ocorrem no Brasil, segundo o texto, 170 estão classificadas como ameaçadas, pelos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Mas o relatório faz críticas às políticas restritivas, que impediram de buscar alternativas à captura de animais silvestres e impediram o Brasil de lucrar com a sua biodiversidade. “O Brasil produziu a situação oposta a de um monopólio: involuntariamente, colocou o direito de se beneficiar comercialmente de suas espécies autóctones nas mãos de qualquer outro país que escolhe lucrar com elas”, afirma um trecho do estudo, assinado pelo biólogo Bernardo Ortiz-von Halle, diretor da Traffic na América do Sul.

A África do Sul, citada no relatório, se tornou o maior exportador mundial de papagaios sul-americanos entre os anos 2000 e 2013, graças a reprodução em cativeiro. O país africano exportou, durante esse período, 144.088 aves de espécies sul-americanas, o que significa 22% de todas as vendas no mercado internacional. No total, mais de 650 mil papagaios sul-americanos foram vendidos em todo o mundo, ao longo desses anos. Só 49% do total, por países do continente.

inte e três cacatuas e um papagaio foram encontrados amontoados em garrafas plásticas de água a bordo de um navio na Indonésia. Foto: Petrus Riski/Mongabay.

Em relação ao Brasil, o relatório destaca ainda a ameaça representada pelo comércio ilegal de pássaros dentro do território Brasileiro, que não tem sido evitado pelas leis que impedem a comercialização e regras impostas sobre criadores. O texto cita que, segundo o Ibama, 38 milhões de aves são retiradas na natureza para serem vendidos ou terem partes de seu corpo, como as penas, vendidos. Porém, apenas uma ínfima fração desse número, 35 a 40 mil animais, são apreendidos.

Relatório pede abordagem mais realista sobre o tráfico de animais

Na conclusão, Halle afirma, em outras, que a criação de aves como animais de estimação é um costume que não será abandonado tão cedo. E também que as unidades de conservação não garantem total proteção aos animais que vivem dentro delas. Ele pede uma abordagem mais realista do problema.

Para Halle, a marginalização de criadores profissionais podem ter afetado oportunidades de conservação de muitas espécies brasileiras. A necessidade do país recorrer a criadores estrangeiros é uma demonstração de que o país estaria equivocado em suas políticas restritivas, adotadas há mais de 50 anos.

“Enquanto isso, traficantes profissionais da vida selvagem e suas redes criminosas, aqueles que estão atrás das espécies mais valiosas, raras e ameaçadas, operam seus negócios aproveitando as múltiplas oportunidades que o país oferece: tamanho, pobreza, corrupção, fraco sistema legal, complexidades institucionais e desarticulação dos esforços”, afirma Halle, na conclusão.

 

Saiba Mais

Relatório – Bird’s-eye view: Lessons from 50 years of bird trade regulation & conservation in Amazon countries

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Comentários 7

  1. Edilson diz:

    Prender hatod e caes tambem é.ou vc achs q eles sempre foram domesticos.os animais q são abatidos para servirem d comida vc acha correto sacrificalos


  2. Jean Kopp diz:

    Fui criador legalizado um certo tempo. Por falta dele fiquei alguns anos sem criar.Agora estou tentando reativar meu cadastro, já fazem dois anos e não consigo.Aqui no RS é o SEMA.Isso acaba incentivando a criar ilegalmente. É uma pena toda essa BURROCRACIA.
    [email protected]


  3. Eduardo diz:

    Respeito a opinião dele, mas lugar de animal silvestre é na natureza. Costumes mudam. Levam tempo, mas mudam. Ordenar o "comércio" não vai resolver esse problema.


  4. Marianna diz:

    e preciso cuidar da nossa fauna e flora Aprovado


  5. Max diz:

  6. Daniel diz:

    Patético. Comércio de animais silvestres ė eticamente e moralmente condenável e só o que vai fazer é alimentar um mercado consumidor, que baseado em uma motivação imoral de manter animais em cativeiro, não vai pensar nem meia vez em comprar do tráfico, ao invés de bancar os preços altos da criação em cativeiro.


    1. leo diz:

      Ninguém quer o comércio de aves silvestres. Mas sim a reprodução em cativeiro de animais de origem silvestre. Como o Mundo todo faz há tempos.

      Agredir factos é perda de tempo.