Uma cachoeira tingida de azul para um chá revelação. Essa história que não parece real nada tem de fictício, e aconteceu neste final de semana no córrego Queima-Pé, em Tangará da Serra (MT). Vídeo que circula nas redes sociais não deixa dúvidas sobre o ocorrido, ao mostrar a cachoeira mudando de cor, enquanto um casal comemora, na presença de convidados, a revelação do sexo do bebê. O registro viralizou, mesmo após ter sido deletado das redes sociais dos que estavam presentes no evento.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Tangará da Serra esteve no local nesta segunda-feira (22), juntamente com a equipe de fiscalização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT), para colher informações sobre o episódio. No final da tarde, a pasta disse que está processando os dados coletados e novos esclarecimentos devem ser divulgados posteriormente.
Conforme apurou ((o))eco, a cachoeira alvo da substância está situada abaixo da estação de captação de água da cidade. A localização diminui o risco de contaminação através do consumo para a população, porém, no entanto, não livra o curso d’água da possibilidade de alterações ambientais causadas pelo material ainda não identificado, que mudou a sua cor. “Se é uma substância que pode trazer algum dano para saúde humana, isso é uma preocupação eminente”, conta o pesquisador Ibraim Fantin, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ao destacar a importância de medidas mitigadoras de possíveis impactos.
“Outra preocupação que a gente tem é se essa substância é degradável ou não. Se vai marcar o córrego, as plantas […] Existe esse ponto, se é uma substância de degradável ou não, e como recuperar o sistema, dado a coloração que foi dada ao rio. São pontos que precisam ser levantados”, acrescenta Fantin.
Principal responsável pelo abastecimento hídrico de Tangará da Serra, o córrego Queima-Pé também está entre aqueles com estado mais crítico no estado, principalmente por conta da conversão de áreas vegetação natural para áreas de pastagem e a falta de técnicas de uso de produção do solo – a região sofre bastante com erosão. “Devido a um processo de degradação da bacia e utilização ali, ele vem nos últimos anos tendo uma redução da disponibilidade hídrica, associado à falta de chuva”, explica o pesquisador.
O córrego Queima-Pé é também afluente do Rio Sepotuba, curso d’água que junto com outros rios da região norte da Bacia do Alto Paraguai (BAP) integra o chamado “Arco de Nascentes” — área extensa que vai de Rondonópolis (MT) até Cáceres (MT). “O Rio Sepotuba é um dos principais formadores ali da bacia do Pantanal”, comenta Ibraim. Nesta região onde está inserida a sua bacia, nascem os rios responsáveis pelo transporte de cerca de 70% das águas que abastecem a maior área úmida do mundo.
À reportagem, a assessoria do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) disse que recebeu denúncia sobre o episódio, que passará a ser investigado pela Promotoria de Justiça de Tangará da Serra.
Procurada por ((o))eco, a Sema-MT disse que irá notificar o proprietário da área e solicitar que ele informe os responsáveis pelo tingimento da queda d’água. A pasta também disse que irá apurar se houve dano ambiental por conta do material lançado na água. Até esta terça-feira (27), técnicos da Sema-MT que visitaram a cachoeira devem divulgar novos detalhes para, ao menos, identificar a substância lançada na água.
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