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Contradições e desafios no acesso à água potável marcam debates de webinar

Encontro organizado por ((o))eco na última quarta-feira (26) reuniu especialistas para debater questão hídrica sob múltiplas perspectivas

Vinicius Nunes ·
1 de dezembro de 2025

Na última quarta-feira (26) o Webinar Águas: perspectivas jornalísticas e de soluções, organizado por ((o))eco, reuniu especialistas para discutir caminhos para segurança hídrica no país. O evento, que contou com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), teve como foco as Soluções Baseadas na Natureza (SBN), o papel das comunidades tradicionais no território e como o jornalismo pode ajudar a comunicar soluções. 

O evento foi transmitido gratuitamente pelo canal de Youtube de ((o))eco, e integra a 2ª edição da Bolsa Reportagem Vandré Fonseca, que apoia jovens comunicadores(as) na produção de reportagens aprofundadas sobre temas ambientais. As inscrições para a bolsa estão abertas neste link

O Webinar foi dividido em três painéis temáticos. As mesas foram mediadas pela jornalista e documentarista, Paulina Chamorro.

O primeiro painel teve como foco o debate sobre infraestrutura verde na prática. Dentre os palestrantes estavam a Superintendente de Desenvolvimento Sustentável da FAS, Valcléia Lima, a bióloga Theresa Williamson, da Rede Favela Sustentável, e Caetano Scannavino, Coordenador do projeto Saúde e Alegria.

Com ampla experiência em trabalhos de fortalecimento dos territórios, os convidados pregaram por iniciativas que valorizem os saberes de comunidades locais na mitigação da crise climática, e no melhor manejo da crise hídrica. Enfático, Caetano argumentou que é necessário pensar no povo que mantém as florestas em pé antes mesmo de se pensar na economia de baixo carbono e rios flutuantes. “Sem o social, não se resolve o ambiental”, afirmou durante o painel.

Valcléia Lima destacou a contradição quanto ao acesso à água na região norte do Brasil. Afinal, embora o bioma amazônico seja a principal reserva de água doce do país, apenas 68% dos amazonenses têm acesso à água tratada e um número ainda menor (13%) possui acesso a rede de esgoto. Ela lembrou ainda que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da número seis (ODS/ONU) prevê o acesso universal à água, enquanto uma máxima a ser alcançada.

O segundo painel se debruçou mais especificamente no jornalismo de soluções. Os convidados para esta mesa foram a jornalista Amanda Magnani, a fundadora da plataforma Nosso Impacto, Jennifer Thomas, e o editor da Ambiental Media, Miguel Vilela.

O trio compartilhou suas experiências e discutiu a necessidade de uma rede de jornalismo socioambiental interligada, capaz de se fortalecer, que ajude a democratizar a informação e possa valorizar soluções inovadoras. 

A última mesa do Webinar teve como tema “Água para hoje e amanhã”. Dentre os palestrantes, foram convidados Guilherme Karam, gerente de Economia da Biodiversidade na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza; Angelo Lima, secretário executivo do Observatório das Águas, e Erley Bispo, diretor executivo do Instituto Águas Resilientes. 

Os palestrantes abordaram desafios quanto ao acesso à água potável no Brasil, e a falta de centralidade que é dada ao tema em meio aos debates sobre as mudanças climáticas. Entre reflexões quanto a estratégias para se enfrentar o problema, Karam apontou para o potencial pedagógico da água e a necessidade de uma transdisciplinaridade da água em projetos socioambientais. 

“A água já é um elemento conector, e é fácil mostrar isso em iniciativas e projetos. Ainda assim, há lacunas muito grandes, como a governança da água no Brasil, e o fato de que não está centralizada nos debates climáticos internacionais. Fóruns como esse são importantes. E o papel da comunicação para fortalecer isso ainda mais”, explicou.

  • Vinicius Nunes

    Cientista Social pela FGV/CPDOC e estudante de Jornalismo na ESPM-Rio. Entusiasta da pauta ambiental, política e esportes.

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