Uma das maiores dificuldades de monitorar o desmatamento na Amazônia Legal é visualizar o corte raso em pequena escala. Isso não era um problema enquanto o padrão de derrubada da floresta era de grandes áreas desmatadas, e isso permitia que sensores de menor definição pudessem ser utilizados na tarefa. Mas a intensificação da fiscalização fez com que os desmatadores mudassem de estratégia: em vez de abrir grandes áreas passaram a desmates menores, imperceptíveis para os satélites usados pelos órgãos ambientais. O fenômeno já havia sido identificado pelo Ministério do Meio Ambiente. Agora, o Imazon, uma organização ambientalista que faz monitoramento independente do desmatamento, passou a usar informações de sensores de satélites mais refinados para se adequar à nova realidade.
Desde agosto, o Instituto passou a receber informações dos sensores Landsat 7 e Landsat 8 no seu monitoramento mensal da floresta Amazônica, o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento). Com isso, tornou possível detectar a derrubada de vegetação a partir de 1 hectare, equivalente a um campo de futebol. Antes, o SAD detectava apenas derrubadas a partir de 10 hectares. O resultado é que o desmatamento miúdo deixou de ser invisível.
É como se o SAD acabasse de comprar óculos novos. A diferença entre o detectado pelo dados anteriores à mudança e os atuais terá que ser ajustada para não prejudicar a série histórica, isso porque o desmatamento sempre é comparado ao mesmo mês do ano anterior. Então, para saber se a perda de floresta foi maior ou menor em agosto de 2017, o cálculo é feito usando como base o desmatamento verificado em agosto de 2016, quando o satélite identificava apenas desmatamentos acima de 10 hectares.
A compensação será feita até julho de 2018 da seguinte maneira: o Imazon disponibilizará os dados comparativos de desmatamento acima de 10 hectares em uma tabela. E em outra analisará a perda florestal de baixa escala, separadamente.
“Estamos preservando a série histórica, fazendo somente a comparação dos alertas acima de 10 hectares com o que já tínhamos coletado no passado. Assim, evitamos possíveis superdimensionamento do desmatamento”, explica Antônio Victor Fonseca, pesquisador do Imazon.
Segundo Fonseca, quando o novo SAD completar um ano, não será mais necessário a separação das duas medidas.
A ambição é que, num futuro próximo, o SAD consiga produzir um monitoramento anual de desmate comparável ao Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que produz os dados oficiais sobre a perda de floresta e os divulga anualmente. Os sensores do Prodes conseguem detectar desmatamento a partir de 6 hectares (ou 60 mil metros quadrados).
“Não estamos fazendo essa comparação direta agora. O sistema não está pronto ainda, mas a ideia é de ter um produto de faixa de desmatamento, com o dado consolidado do último mês do calendário, que é, no caso, julho […]. No PRODES a detecção é a partir de 6 hectares e nós estamos detectando a partir de 1 hectare. Precisamos ver se dá para fazer esse tipo de comparativo, porque são faixas de desmatamento diferentes”, afirma Antônio Victor Fonseca.
Desmatamento diminuiu em agosto
Ainda segundo o Imazon, a Amazônia perdeu 184 quilômetros quadrados de florestas em agosto, ou 18.400 hectares. Destes, 39 quilômetros quadrados (ou 3.900 hectares) ocorreram em áreas menores de 10 hectares. Desmatamentos de pequena escala correspondem a 21% do total desmatado em agosto, uma parte significativa que permaneceria ignorada, não fosse o novo sistema.
A maioria desses alertas abaixo de 10 hectares se concentrou no Acre e ao longo da Rodovia Transamazônica no trecho do Pará.
Considerando apenas os alertas a partir de 10 hectares, houve redução de 75% em relação a agosto de 2016, quando o desmatamento somou 582 quilômetros quadrados. Em agosto de 2017, a divisão entre estados da área desmatada foi: Mato Grosso, que desmatou 7 mil hectares e, portanto, foi responsável por 40% do desmatamento no período, seguido do Pará, que derrubou 4.900 hectares (32%), Acre, com 2oo hectares (9%); Rondônia, com 1.100 hectares (9%); Amazonas, com 1000 hectares (8%) e Roraima, com 300 hectares (2%).
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Muita interessante esse novo modo de detectar o desmatamento antes não detectado.
Gostaria de saber mais sobre os aspectos técnicos. Sobre como é feita essa análise.