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Líder do movimento Garimpo é Legal recebe doação de 100 mil do PL

Rodrigo Cataratas é candidato a deputado federal pelo partido de Jair Bolsonaro e líder do movimento em prol dos garimpeiros de Roraima

Fabio Pontes ·
20 de setembro de 2022 · 2 anos atrás

O líder do movimento “Garimpo É LEGAL“, Rodrigo Martins de Mello, o Rodrigo Cataratas, recebeu R$ 100 mil da executiva nacional do Partido Liberal (PL), mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro, para a sua campanha de deputado federal em Roraima. 

O candidato é um dos grandes defensores do garimpo e dos garimpeiros no Brasil. “Queremos o direito de trabalhar, queremos o direito de garimpar. Eu, Rodrigo Cataratas sou Garimpeiro”, se apresenta o candidato ao Congresso Federal, em um dos muitos vídeos postados em suas redes sociais. 

O valor doado pelo PL corresponde a 35,71% dos R$ 280 mil oficialmente declarados pelo candidato como receita de campanha, conforme consta em sua prestação de contas parcial feita à Justiça Eleitoral. A maior parte da verba recebida vem de doações feitas pelo próprio candidato: R$ 170 mil. Outros R$ 10 mil foram repassados pelo filho, Celso Rodrigo de Mello. 

Ao todo, Rodrigo Cataratas declarou estimativa de gastos de campanha no valor de  R$ 363 mil. A maior parte deles será com a sua própria empresa, a Cataratas Poços Artesianos Ltda. O candidato alugou uma frota de quatro carros da empresa no valor de R$ 82,8 mil.  

Procurado por ((o))eco, Celso Rodrigo de Mello, filho de Rodrigo Cataratas e contratado para o serviço de administrador financeiro da campanha, informou que o pagamento do aluguel de carros da empresa familiar não será feito com o dinheiro enviado pelo PL, cuja origem é de recursos públicos do fundo eleitoral, o “fundão”.  

Celso Rodrigo também é sócio do pai na Cataratas Poços Artesianos. 

Questionado sobre quais garantias de que a verba do fundão não será usada para essa quitação, Celso informou que os recursos ficam depositados em duas contas diferentes: uma com o repassado pelo PL e outra de arrecadações privadas. 

Em sua declaração de bens, apresentada ao Tribunal Regional Eleitoral de Roraima, o líder do movimento pelo garimpo disse ter patrimônio avaliado em R$ 33,5 milhões. Além de aplicações financeiras e participação de 90% como sócio da Cataratas Poços Artesianos, o que representa R$ 2 milhões. Ao TRE, o candidato do PL afirmou também ser dono de R$ 4 milhões em espécie.

Apoio político

Nas redes sociais, além de fotos com seu correligionário, o presidente da República, Jair Bolsonaro, Rodrigo Cataratas faz a defesa de garimpeiros que tiveram equipamentos – incluindo aeronaves – destruídos por operações do Ibama e PF dentro de terras indígenas. 

Em um de seus vídeos postados, ele leva um grupo de sete pessoas até a sede do governo roraimense, em uma tentativa de se reunir com o governador Antônio Denarium (PP) para reclamar destas operações. 

O objetivo era cobrar do governo para definir se a área onde tinha ocorrido a operação era de fato da União ou do Estado; o grupo não foi recebido por Denarium. Ele mostra certa frustração por não ter ocorrido o encontro e encerra o vídeo: “Rodrigo Cataratas, coordenador-geral do movimento Garimpo é Legal”. 

Em outra gravação, em frente a uma delegacia da Polícia Civil, o candidato registrou boletim de ocorrência após uma aeronave ter sido queimada numa operação de combate ao garimpo ilegal na Amazônia.

No dia 14 de maio, o então pré-candidato a deputado federal pelo PL fez uma carreata pelas ruas de Boa Vista em defesa do garimpo. O ato foi considerado campanha antecipada pela Justiça Eleitoral. 

Em 5 de julho, o governador Antônio Denarium sancionou a lei que proíbe os órgãos ambientais e policiais do estado de destruírem os maquinários de garimpeiros apreendidos nas operações. O projeto é de autoria do deputado estadual George Melo (Podemos), outro legislador que dedicou o seu mandato à defesa da atividade garimpeira em Roraima. Em 2022, ele também tenta um quarto mandato na Assembleia Legislativa, como já registrado pela reportagem de ((o))eco.

Mineração em Terras Indígenas

Uma das empresas de Rodrigo Cataratas já foi indiciada por participar de garimpos na Terra Indígena Yanomami. Segundo a declaração de bens de Catarata ao TRE, entre os principais bens de Rodrigo Catarata está uma frota de nove helicópteros. 

Em agosto de 2021, Rodrigo Cataratas chegou a ter seis aeronaves apreendidas por suspeita de serem usadas por garimpeiros para chegar à Terra Indígena. O candidato conseguiu reaver as aeronaves, mas em março, a Polícia Federal conseguiu uma decisão para reter três helicópteros novamente. Um deles foi entregue à PF no dia 9 de setembro, após ser apreendido por prestar apoio na campanha eleitoral de Cataratas. 

No dia 15 de agosto, o Fantástico, da Rede Globo, exibiu reportagem sobre a vida empresarial do líder do movimento Garimpo é Legal.  Um inquérito do delegado da Polícia Federal, Celso Paiva, que investiga a logística para garimpos na Terra Yanomami, também apontou que Rodrigo Mello, através de suas empresas, integrava um grupo que atuava na Reserva extraindo minério por dois anos. Segundo a PF, entre 2020 e 2021, o grupo teria movimentado mais de R$ 200 milhões, afirmou o delegado da PF, Celso Paiva, responsável pela investigação contra Rodrigo e pessoas ligadas a ele em entrevista à Rede Amazônica.

Essa é a terceira vez que Rodrigo Catarata disputa uma eleição. Em 2010 concorreu a deputado estadual pelo PRB, e em 2012 a vereador de Boa Vista pelo PT do B; em ambas as disputas ficou como suplente. 

O empresário se filiou ao PL em março deste ano, em cerimônia que contou com a presença do ex-senador Romero Jucá (MDB) e de Teresa Surita (MDB), ex-prefeita de Boa Vista, que disputa o governo do estado. 

O que diz Rodrigo Cataratas

Perguntado por ((o))eco se o mandato será dedicado à defesa do garimpo, Celso Rodrigo afirmou que sim, “mas não apenas do garimpo, meu mandato é em defesa da Amazônia”. “Eu defendo a soberania do Brasil sobre a Amazônia“. “A Amazônia não é patrimônio mundial como Lula descreveu em uma de suas entrevistas. E serei um defensor das idéias do presidente Jair M. Bolsonaro em Roraima”, respondeu ele, por escrito. 

Ele ainda afirmou ser defensor da preservação da Floresta Amazônica, mas não nos moldes do que ele classifica como imposto por estrangeiros. “Somos um povo pobre, em cima da terra mais rica do Brasil, talvez até do mundo“. “Precisa existir um equilíbrio. E o equilíbrio é trabalhar responsavelmente com o nosso meio ambiente, abrindo portas e dando incentivos aos madeireiros, garimpeiros, pescadores, pequenos produtores, e ao agronegócio” disse. 

Sobre o envolvimento de suas empresas no garimpo dentro da TI Yanomami, Cataratas negou as acusações feitas pelo MPF em Roraima. “A única atividade minerária que tenho em Roraima é na minha propriedade, no município do Amajari, onde possuo uma Permissão de Lavra Garimpeira (PLG). Totalmente regularizada e dentro da lei”, afirmou ele ao ((o))eco.

  • Fabio Pontes

    Fabio Pontes é jornalista com atuação na Amazônia, especializado nas coberturas das questões que envolvem o bioma desde 2010.

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