Os resultados da votação do primeiro turno mostram a força do bolsonarismo na Amazônia Legal. Esse vigor é perceptível não apenas no desempenho de Jair Bolsonaro (PL) e dos governadores aliados reeleitos, mas também nos nomes de quem venceu para o Senado.
Dos nove senadores eleitos, cinco estão alinhados diretamente com a corrente política do atual presidente da República. O União Brasil elegeu a maior bancada, com três novos senadores na região, seguido pelo PL, com dois.
Dos eleitos, quatro são deputados federais, dois senadores reeleitos e três sem mandato. Alan Rick (União Brasil), do Acre, Dr Hiran (PP), de Roraima, Beto Faria (PT), do Pará, e Professora Dorinha (União Brasil), do Tocantins ocupam cadeiras na Câmara dos Deputados.
Ao se analisar o histórico de votação deles na atual legislatura, percebe-se que a maioria vota favoráveis a projetos que fragilizam a política de proteção ambiental do país. É o que aponta a plataforma Monitor do Congresso, desenvolvida pelo ((o))eco.
Um dos casos é de Alan Rick, do Acre. O parlamentar bolsonarista votou favorável a todos os projetos analisados, incluindo o 6299/2002, o chamado PL do Veneno, que visa flexibilizar a legislação brasileira sobre o uso de agrotóxicos. Rick também disse Sim ao PL 2633/2020, conhecido como o PL da Grilagem, que afrouxa as regras sobre a titulação de áreas que podem ter sido alvo de invasões na Amazônia.
Outros projetos que contaram com o aval do senador eleito pelo Acre são o PL 3729/2004 (que afrouxou as regras do licenciamento ambiental) e o PL 191/2020, cuja aprovação garantiu o caráter de urgência ao projeto que libera a mineração em terras indígenas. A proposta, apresentada pelo governo Bolsonaro, é vista como a carta-branca para a invasão dos territórios indígenas pela atividade garimpeira.
Alan Rick também tem se posicionado a favor do PL 6024/2019, que desafeta áreas da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, e reduz a categoria do Parque Nacional da Serra do Divisor para uma Área de Proteção Ambiental (APA). Em 6 de novembro de 2019, Alan Rick participou de reunião, junto com outros parlamentares e moradores da Resex Chico Mendes autuados pelo ICMBio, com o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para pedir o fim das fiscalizações dentro da unidade de conservação.
Mudanças no Tocantins
Em Tocantins, a eleição para o Senado pode ser definida como um marco. Eleita com 50,42% dos votos válidos, a Professora Dorinha (União Brasil) conseguiu o trunfo de tomar a cadeira hoje ocupada por Kátia Abreu (PP). A senadora e ex-ministra da Agricultura de Dilma Rousseff era vista, até bem pouco tempo atrás, como a mais poderosa representante política do agronegócio nacional.
Mas a eleição de Dorinha não representa muita mudança no que diz respeito a posições sobre a pauta ambiental. A deputada federal também vota favorável a projetos anti-ambientais na Câmara.
Entre os analisados, ela só se manifestou neutra ao pedido de urgência do PL da mineração em terras indígenas. No dia da votação da matéria que flexibiliza o processo de licenciamento ambiental, esteve ausente. No Tocantins, o agronegócio se apresenta como uma das mais importantes forças econômicas e políticas. Oficialmente, em seu material de campanha, a candidata não se apresenta como aliada do bolsonarismo.
Roraima sem Jucá
Aliado do governador Antônio Denarium (PP), o deputado federal Dr Hiran Gonçalves (PP) galgou um passo na carreira política, e foi eleito senador por Roraima. Igual a Alan Rick, ele votou Sim a todos os projetos avaliados pelo ((o))eco, e também é um dos embaixadores do bolsonarismo no estado. Em Roraima, Bolsonaro recebeu quase 70% dos votos no primeiro turno. Ele derrotou na disputa o ex-cacique da política local, Romero Jucá (MDB).
Sem mandato mas ligado ao agronegócio, o catarinense Jaime Bagattoli (PL) foi eleito senador por Rondônia. Apesar de se apagar bastante à imagem de Bolsonaro durante a campanha eleitoral, recebeu apenas 35,80% dos votos. Sua adversária direta, Mariana Carvalho (Republicanos), obteve 32,15%.
Além de se apresentar como o candidato de Bolsonaro ao Senado em Rondônia, o discurso em defesa do agronegócio o favoreceu. Realizou toda a campanha usando um típico chapéu do trabalhador rural, de homem do campo. Em 2018, também concorreu ao Senado, no então PSL, ficando em terceiro lugar.
No vizinho Mato Grosso, o bolsonarismo elegeu outro senador: Wellington Fagundes (PL). Ele teve uma vitória folgada, com 63,54% da votação. Essa é a segunda vez que Fagundes vai para o Senado. Em 2014 ele já tinha sido eleito para o cargo. Em 2018 renunciou para concorrer a governador, mas perdeu para o atual ocupante da cadeira, o também bolsonarista Mauro Mendes (União Brasil).
Wellington Fagundes aproveitou ao máximo a imagem de Jair Bolsonaro para sair vitorioso. É em Mato Grosso, um dos berços do agronegócio, onde o presidente tem grande força eleitoral na Amazônia legal. Por lá, obteve 59,84% dos votos válidos
Fagundes despontou nas pesquisas, após a impugnação pela Justiça Eleitoral da candidatura de Neri Geller (Progressista), ex-ministro da Agricultura apoiado por Lula e o cacique do agro Blairo Maggi. Sem Neri, considerado Ficha Suja pelo Tribunal Superior Eleitoral, na disputa e quase sem concorrentes, Fagundes decolou nas pesquisas e no voto.
Possível (quase) oposição
Quem também retorna ao Senado é Davi Alcolumbre (União Brasil), reeleito pelo Amapá. Em fevereiro de 2019, virou presidente da Casa com o apoio do Palácio do Planalto, mas, como boa parte do centrão, sempre negociou alto o seu apoio a Bolsonaro, como no caso da apreciação da indicação de André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal. À época, Davi chegou a divulgar uma nota contra a pressão presidencial.
“Reafirmo que não aceitarei ser ameaçado, intimidado, perseguido ou chantageado com o aval ou a participação de quem quer que seja”, disse o senador em seu comunicado.
Durante a campanha de 2022. Alcolumbre não se apresentou oficialmente como candidato bolsonarista, preferindo se apresentar, oficialmente, como neutro na disputa da Presidência. No Amapá, Lula teve mais votos que Bolsonaro: 45,67% contra 43,41%.
Outro retorno por mais oito anos de mandato é Omar Aziz (PSD, conhecido nacionalmente por presidir a CPI da Covid-19 durante os momentos mais críticos da pandemia. No Amazonas, Omar foi o candidato oficial de Lula. Boa parte dessa pauta-bomba para o meio ambiente tem como origem a Câmara dos Deputados, não sendo ainda enviadas para análise do Senado.
O único nome do PT na Amazônia Legal a ir para o Senado é o de Beto Faro, atual deputado federal pelo Pará. De acordo com o Monitor do Congresso, de ((o))eco, Faro votou contrário a todos os projetos de lei da pauta anti-ambiental. No da urgência da mineração em TIs, ele esteve ausente. Ele também integrava a bancada ambiental da Câmara dos Deputados.
Também no campo de oposição política, o ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB) representará o estado no Senado. Nos últimos três anos e nove meses, ele sempre se apresentou como um dos governadores de oposição a Jair Bolsonaro, sendo frequentemente atacado pela militância bolsonarista.
Senadores eleitos na Amazônia Legal |
Acre Alan Rick (União Brasil) 37,46% |
Amapá Davi Alcolumbre (União Brasil) 47,88% |
Amazonas Omar Aziz (PSD) 41,42% |
Maranhão Flávio Dino (PSB) 62,41% |
Mato Grosso Wellington Fagundes (PL) – 63,54% |
Pará Beto Faro (PT) 42,55% |
Rondônia Jaime Bagatolli (PL) 35,80% dos votos |
Roraima Dr. Hiran (PP) 46,43% |
Tocantins Professora Dorinha (União Brasil) 50,42% |
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