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Na Amazônia, desafio de Lula é manter favoritismo até o segundo turno

O petista foi o mais votado em 5 dos 9 estados da região; atual presidente consolidou força em estados bolsonaristas

Fabio Pontes ·
6 de outubro de 2022 · 1 anos atrás

Após sair como o candidato a presidente da República mais bem votado no primeiro turno, o petista Luiz Inácio Lula da Silva iniciou as articulações políticas para manter o favoritismo, incluindo sua vantagem na Amazônia Legal. É na região onde ele trava disputa de voto a voto com Jair Bolsonaro (PL). 

Em meio ao cenário de acirramento, o ex-presidente acabou se saindo melhor. Dos nove estados da Amazônia Legal, Lula foi o mais votado em cinco, entre eles Tocantins, estado que tradicionalmente vota em candidatos da direita por conta da influência do agronegócio. 

O primeiro apoio formal de lideranças políticas da região ao petista foi do governador reeleito do Pará, Helder Barbalho (MDB). Os dois se encontraram nesta quarta-feira, 5, em São Paulo, e oficializaram a aliança. A adesão de Helder pode ser vista como mais uma de suas estratégias para obter ainda mais força entre os eleitores paraenses. No Pará, Lula obteve 52,22% dos votos válidos, enquanto Bolsonaro recebeu 40,27%. 

Por sua vez, Helder Barbalho foi reeleito com 70,41% dos votos – a maior votação proporcional do país entre os governadores. Com toda essa força no maior colégio eleitoral da Amazônia Legal, Lula não mediu esforços para receber o apoio de Helder. O paraense foi um dos poucos governadores a fazer oposição a Bolsonaro durante a crise da pandemia. 

Na área ambiental, em meio ao desmonte da política do governo federal de proteção aos biomas brasileiros, Barbalho tentou se apresentar como o “embaixador da Amazônia” no cenário internacional, mesmo com o Pará se mantendo no topo do ranking de desmatamento e queimadas.    

Com 2,6 milhões de eleitores e sendo o segundo maior colégio eleitoral da região, o Amazonas também deu a Lula vantagem nos votos: 49,58%. Já seu adversário direto, Bolsonaro, teve 42,80%. No estado, o palanque de Lula é garantido pela candidatura de Eduardo Braga (MDB), ex-governador e atualmente senador.  

Braga começou a disputa em terceiro lugar nas pesquisas, atrás do candidato à reeleição Wilson Lima (União Brasil) e de Amazonino Mendes (Cidadania). Nas últimas semanas antes do primeiro turno, cresceu e acabou ficando em segundo. O apoio de Lula é apontado como um dos principais fatores para a ascensão. Braga está no segundo turno contra o bolsonarista Wilson Lima. 

Mesmo com toda a influência do grande agronegócio antipetista no Tocantins, Lula ficou com 50,40% dos votos válidos, ante 44% de Bolsonaro. A boa votação do ex-presidente chamou a atenção pelo fato de o candidato do PT a governador, Paulo Mourão, ter recebido apenas 10,64% da votação. 

Por lá, o governador-tampão Wanderlei Barbosa (Republicanos) foi reeleito (58,14%). Assim como no primeiro turno, conforme notícias da imprensa local, ele afirma se manter neutro na corrida presidencial nesta segunda etapa. 

Na Amazônia Legal, Lula também foi o mais votado no Amapá e no Maranhão. No primeiro, a vantagem diante de Bolsonaro não foi tão grande: 45,67% para o petista, contra 43,41% do atual presidente. Pouco mais de 10 mil votos separaram Lula de Bolsonaro. 

Cenário bem oposto do que ocorreu no Maranhão. O candidato do PT recebeu 68,84% da votação, enquanto o presidente obteve 26,02%. A força do lulismo em toda a região Nordeste explica esse resultado acachapante a favor do ex-presidente. 

Redutos bolsonaristas 

Já nos estados onde o antipetismo é predominante, o cenário é outro.  Nestes redutos, o atual presidente ficou sempre com mais de 60% dos votos válidos, repetindo o mesmo desempenho de quatro anos atrás. Foi em Roraima onde Bolsonaro obteve a maior votação proporcional na Amazônia Legal: 69,57%. A Lula foi dado apenas 23,05%. 

Historicamente ligado à mineração e ao agronegócio, Roraima encontrou em Jair Bolsonaro o candidato capaz de assumir a bandeira de causas delicadas, como o garimpo dentro de terras indígenas.  

A segunda maior votação a Bolsonaro ocorreu em Rondônia: 64,36%, ante 28,98% para o concorrente petista. No estado, o presidente não terá a mínima dificuldade para construir palanques. Os dois candidatos no segundo turno para o governo, Marcos Rocha (União Brasil) e Marcos Rogério (PL), são bolsonaristas de carteirinha. Em 2018 o presidente também já teve votação expressiva por Rondônia. 

Logo depois, entre os maiores redutos do bolsonarismo, está o Acre. O candidato do PL contou com 62,50% dos votos válidos. No estado governado por 20 anos pelo PT, e onde o antipetismo ainda é bastante forte, Lula teve 29,26%. O governador bolsonarista Gladson Cameli (PP) foi reeleito ainda no primeiro turno sem dificuldades. 

Em Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), aliado de Bolsonaro, também assegurou sua permanência no governo por mais quatro anos sem necessidade de segundo turno. Entre os estados fiéis ao bolsonarismo na região, Mato Grosso foi onde o candidato do PL teve a quantidade proporcional de votos “mais baixa”, ficando com 59,84%. Lula somou 34,39%.     

E, assim, entre cinco estados pintados de vermelho e quatro de azul no mapa do resultado eleitoral do primeiro turno, a Amazônia Legal refletiu, como nenhuma outra região do país, a polarização política entre os dois candidatos à Presidência da República. Mesmo sendo o menor colégio eleitoral do Brasil, manter ou ampliar a votação recebida em 2 de outubro é crucial numa eleição em que cada voto fará a diferença. 

De seu lado, Lula apresenta como principal proposta para a região um desenvolvimento econômico de base sustentável, com a exploração racional dos recursos naturais da floresta. Promete tolerância zero ao desmatamento ilegal e ao garimpo em terras indígenas. Do outro, Jair Bolsonaro tende, caso reeleito, a não alterar a atual política ambiental do governo federal, cujas consequências são os aumentos recordes nas taxas de desmatamento e queimadas.    

  • Fabio Pontes

    Fabio Pontes é jornalista com atuação na Amazônia, especializado nas coberturas das questões que envolvem o bioma desde 2010.

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