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Número de invertebrados na Bahia foi reduzido após serem atingidos pelo óleo

Estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) analisou a presença de invertebrados bentônicos vivos em quatro praias e concluiu que a quantidade média de indivíduos caiu de 446 para 151

Carolina Lisboa ·
26 de novembro de 2019 · 4 anos atrás
Óleo na Bahia. Foto: Ibama/Manchas de Óleo.

Invertebrados bentônicos são organismos que vivem no substrato de ambientes aquáticos, como corais, crustáceos, moluscos, lagostas ou polvos. De acordo com um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e divulgado na segunda-feira (25), o número de invertebrados bentônicos em praias da Bahia foi reduzido em quase 66%. Os pesquisadores, liderados pelo professor Francisco Kelmo Oliveira dos Santos, compararam os dados de abril e de outubro deste ano em uma área de 140 m² nas praias de Itacimirim, Forte, Abaí e Guarajuba, e verificaram que houve uma redução média de organismos de 446 para 151.

O óleo chegou às praias no início de outubro, justamente no período reprodutivo desses animais, causando “perda de patrimônio natural, redução no número de animais redução na diversidade de animais e aumento das doenças/mortalidade nos corais”, segundo o estado.

Houve também uma queda no número de espécies, de 88 para 47, cerca de 47%. As espécies mais afetadas foram os corais, que sofreram um processo chamado de “branqueamento”, no qual o coral perde as microalgas fotossintetizantes que dão a cor do coral, as zooxantelas. Com a perda das microalgas, o esqueleto do coral fica exposto. Como a relação entre coral e microalgas é essencial para a sobrevivência do coral, muitas vezes esse embranquecimento significa a morte deste animal. A UFBA acompanha os recifes dessas quatro praias desde 1995, e a taxa anual de branqueamento é de 5 a 6%. Após a chegada do óleo, esse percentual aumentou para 51,92%.

De acordo com Kelmo, o ecossistema deve levar de 10 a 20 anos para se recuperar, caso não haja novos distúrbios. Dentre as espécies impactadas estão polvos e lagostas muito pescados e consumidos na região. Segundo Kelmo, uma substância cancerígena como o óleo não tem limite mínimo de exposição. “Estou preocupado com a saúde dos animais. A dúvida que fica é o envenenamento desses animais, se eles continuam apropriados para consumo”, ponderou ele.

“Esse fantasma do óleo vai nos assustar por muito tempo”, alertou o pesquisador, que informou que em dezembro estudará os impactos sobre os recifes submersos e em seguida sobre os manguezais. Os impactos sobre os recifes costeiros continuarão a ser monitorados pelos próximos seis meses e, para Kelmo, há risco de extinções locais de espécies.

 

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  • Carolina Lisboa

    Jornalista, bióloga e doutora em Ecologia pela UFRN. Repórter com interesse na cobertura e divulgação científica sobre meio ambiente.

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