Notícias

Parecida com cogumelo, planta rara é descoberta na Serra da Mantiqueira

Planta descrita é endêmica da Serra da Mantiqueira e não é capaz de produzir seu próprio alimento sozinha

Jéssica Martins ·
2 de março de 2023 · 1 anos atrás

Com 40 anos de formado, o biólogo Edelcio Muscat ainda não havia se deparado com uma planta parecida com a que encontrou em fevereiro de 2020 na Serra da Mantiqueira, em São Paulo. Uma planta parecida com um cogumelo, de cor azul e laranja, sem folhas e com a parte superior parecida com um cone achatado. 

A planta, popularmente conhecida como lanterna de fada, foi encontrada durante um monitoramento de fauna realizado por Muscat, que assina a descoberta junto com outros pesquisadores na edição de outubro do ano passado da revista científica Phytotaxa

“Essa flor é extremamente rara e pouco conhecida, quase ninguém conhece e quando as pessoas encontram podem até confundir com fungos porque são pequenininhas”, afirma Edelcio, que é coordenador da ONG Projeto Dacnis, responsável por atuar na preservação, pesquisa e educação na Mata Atlântica. 

Após fotografar a planta – que é bem difícil de achar, pois costuma  ficar em áreas com material em decomposição, – Edelcio e equipe resolveram buscar mais informações sobre a inusitada planta e disponibilizaram imagens da espécie em um grupo de biólogos. Nessa busca, conheceram o botânico Mathias Erich (UFPR), que identificou e alertou sobre a raridade encontrada. Desta parceria resultou o artigo científico que apresentou a nova espécie – a Thismia mantiqueirensis – à ciência. O nome é uma homenagem à Serra da Mantiqueira, local onde foi encontrada.

Um gênero bem diferente

A planta pertence ao subgênero ophiomeris, que no Brasil é representada por 13 espécies. A maioria se encontra na Mata Atlântica, mas também existem espécies no Cerrado e na Amazônia.

Um estudo anterior, publicado em 2020 na revista científica “Botanical Journal of the Linnean Society”, realizou uma análise de dados moleculares, no qual foram comparadas sequências de DNA de várias Thismias. Como resultado, sugeriu-se que o gênero é parafilético, ou seja, não é possível saber sua origem e, apesar das plantas serem morfologicamente semelhantes, elas podem ter origens diferentes. “A ancestralidade dessa espécie ainda não está bem resolvida e é provável que ela tenha vindo de vários ramos distintos”, explica Mathias Erich, primeiro autor do estudo.

Imagem: Thismia mantiqueirensis/Phytotaxa.

As plantas do gênero Thismia, além de encantadoras, possuem uma característica marcante: elas são micoheterotróficas, ou seja, não possuem clorofila, o pigmento que dá coloração verde nas plantas e responsável pela fotossíntese. Por isso, a alimentação da planta provém de uma associação simbiótica entre a planta e fungos. Essa relação é benéfica para ambas as partes. A Thismia e os fungos se juntam para realizar trocas de substâncias e, se possível, habitar o ambiente. “Elas estão juntas como se estivessem de mãos dadas”, explica Erich.

“Considerando que a Mata Atlântica é uma das regiões mais ricas e mais biodiversas do Brasil, é muito provável que venham aparecer várias outras espécies novas, novos registros ou espécies raras e ameaçadas na Serra da Mantiqueira”, conta o botânico. 

A expectativa de encontrar mais espécies seria essencial para mudar a classificação da planta na União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), no qual a espécie atualmente apresenta dados deficientes. Descobrir uma Thismia é um achado e mostra a importância de conservar ambientes naturais. O estudo aponta que o local onde a planta foi encontrada costuma ser usada para o ecoturismo e isso pode trazer problemas na sua conservação. Por isso, uma das alternativas previstas para evitar esse problema é conscientizar a população e visitantes da Serra da Mantiqueira, para não retirar plantas, animais ou troncos do local.

  • Jéssica Martins

    Estudante de Ciências Biológicas, estagiária em ((o))eco, apaixonada pela natureza e comunicação.

Leia também

Notícias
2 de março de 2023

Mata Atlântica ganha duas novas espécies de árvores já ameaçadas

Recém-descritas, pesquisadores encontraram poucas populações de uvaia-pitanga e da cereja-amarela-de-niterói e alertam para risco de extinção. Árvores foram encontradas no litoral fluminense

Notícias
17 de fevereiro de 2023

Raridade: população selvagem de pau-brasil é identificada na Trilha Transcarioca

Árvores foram descobertas com ajuda da ciência cidadã por voluntário da trilha, no Parque Estadual da Pedra Branca, e validadas com apoio do Jardim Botânico

Notícias
6 de fevereiro de 2023

Descoberta de maracujá ameaçado ganha nome indígena em aceno de resistência

O maracujá-puri foi descoberto num fragmento florestal rodeado por pastos numa área desprotegida da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, e é considerado criticamente ameaçado

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 5

  1. Então vc tem q correr com a conscientização, pois o ecoturismo na serra da mantiqueira está desenfreado, os guias visando só dinheiro levando grupos de 12 a 20 pessoas estão acabando com a serra da mantiqueira, a algum tempo atrás eu estava no Marins eu calculei em torno de umas 600 pessoas, a nascente do Itaguaré foi contaminada o negócio tá muito feio, sou da região sei o que estou falando.


  2. Josias Guedes diz:

    A mesma planta foi encontrada no Japão


  3. Silvana dias de Campos diz:

    A polícia federal, MPE e todos sabem dos garimpos ilegalidade a década Pantanal estamos denunciado a mais de dez anos temos processo.. ameaça e sabemos do governo do Estado de MT , deputados protegido por juíz promotores etc estão a década não e novidade eu mesma a mais de dez anos depôs na polícia federal sobre isso , hoje ele junto com governo do Estado tem aeroporto para retirada do ouro..nem e reportagem e nem investigação e novidade. Pode ser para vc mas para a policia não e não ela já sabe. E muito anos


    1. María Lúcia Ribeiro diz:

      Por isso Mato Grosso é inteiro bolsonarista.


  4. Bruno Alves diz:

    Em qual cidade foi encontrada? Sou morador da Serra da Mantiqueira, e concordo que devemos estar sempre alertas para conscientização da população e visitantes.