Palavras têm poder, especialmente quando vêm daquele que ocupa o cargo máximo de liderança da nação. Movido por essa percepção, o pesquisador Marco Antonio Caetano decidiu investigar a possível relação entre as palavras de Bolsonaro ao criticar fervorosamente Alemanha e Noruega – os maiores doadores do Fundo Amazônia, congelado pelo atual governo – e o aumento das queimadas que devastaram a Amazônia em agosto de 2019 e culminaram no infame ‘dia do fogo’ – quando produtores rurais fizeram um protesto colocando fogo de propósito em área de floresta.
De acordo com o estudo, os incêndios no período foram precedidos por um aumento de pesquisas online por termos relacionados aos ataques do presidente às duas nações estrangeiras que financiam a proteção da Floresta Amazônica.
Segundo Marco Caetano, os dados indicam, com 95% de confiança, que a troca de palavras sobre a Alemanha e o Brasil incentivou os episódios que culminaram no ‘dia do fogo’, quando agropecuaristas iniciaram múltiplos focos de incêndio às margens da BR-163, no Pará, supostamente para endossar o discurso do presidente Bolsonaro e pedir apoio do governo federal aos proprietários rurais.
O levantamento mapeou palavras-chaves como ‘Alemanha’, ‘Noruega’, ‘Altamira + Fogo + BR-163’, ‘fogo + Amazônia’ através do Google Trends (ferramenta que apresenta a frequência com que palavras aparecem nas buscas dos usuários online), e como as buscas por esses termos evoluíam no passar dos dias; e cruzou com mais de 3 milhões de pontos de dados, que incluíram os números de focos de incêndio registrados pelo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), registros do Ibama e do Instituto Nacional de Meteorologia.
Para o termo ‘Alemanha’, a análise constatou correlação de 55,7% com defasagem temporal de sete dias para o aumento significativo da curva de queimadas. De acordo com o pesquisador, resultados acima de 50% indicam uma forte tendência de ligação entre os acontecimentos observados. Entre os dias 2 e 9 de agosto, Bolsonaro disparou ataques contra a chanceler alemã, Angela Merkel; nos dias 10 e 11 de agosto, ocorria o ‘dia do fogo’ no Pará, que resultou no aumento de 1.923% no número de focos de queimadas neste intervalo, em comparação com o ano anterior. Entre os dias 4 e 11 de agosto, a alta de incêndios na Amazônia Legal foi de 73%.
Uma correlação ainda maior, de 72,87%, foi constatada entre as buscas pelos termos ‘Alemanha’ e ‘Altamira + fogo + BR163’. O interesse relacionado à cidade paraense ganhou força em 3 de agosto de 2019, embora a localidade ainda não estivesse em destaque na imprensa em razão das queimadas, e voltaria a se intensificar nos dias 9 e 10. No dia 11, a região acumularia seu maior número de focos de incêndio.
Quando as nuvens de fumaça chegaram em São Paulo, no dia 19 de agosto de 2019, e escureceram os céus da maior cidade brasileira, a procura pelas palavras “Fogo + Amazônia” disparou novamente nos dias seguintes, entre 20 e 24 de agosto.
A pesquisa também levantou dados sobre a incidência de chuvas de julho e agosto dos anos 2017, 2018 e 2019, e constatou que o nível pluviométrico se manteve na média de anos anteriores, o que desmente uma das alegações de Bolsonaro de que o aumento crítico das queimadas estaria relacionado a uma suposta seca atípica e, portanto, a uma “causa natural”. O estudo menciona ainda o desmonte da fiscalização na Amazônia e o enfraquecimento do Ibama como outra possível razão por trás do aumento das queimadas.
A pesquisa realizada por Marco Antonio Leonel Caetano, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), foi publicada na revista científica Technological Forecasting and Social Change (Previsão Tecnológica e Mudança Social, em tradução livre).
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Imagine! Foi o brigadista, o Leonardo Di Caprio e os marcianos que tacaram fogo…
Lembro desta fala " esta p…a desta árvore", vindo do mandrião.