No último domingo (14), a praia do Balbino, no município cearense de Cascavel, foi palco de um ato de barbárie. À base de chutes e pauladas, um grupo de pessoas matou um tubarão que havia aparecido no litoral. A ação foi filmada por um dos participantes, que incentiva a agressão com gritos, e circulou pelas redes sociais. As imagens mostram o animal, encurralado nas águas rasas pelo grupo, enquanto leva sucessivos golpes e alguns dos homens tentam agarrá-lo pelo rabo. Depois de resistir por um tempo, o tubarão é amarrado e arrastado até a areia, onde ainda se debate enquanto os ataques continuam. O autor do vídeo exclama então, “cadê o pau para matar?”. Fora d’água, com machucados visíveis e um pedaço de pau enfiado na garganta, o tubarão fica enfim imóvel. Uma criança, que observava a ação, dá a sentença “morreu, ele”.
O vídeo foi divulgado pela plataforma Uol Notícias e pode ser assistido aqui.
A Prefeitura de Cascavel publicou uma nota, através da Secretaria de Agricultura, Pesca, Meio Ambiente e Defesa Civil, em que manifesta seu repúdio ao ato de violência contra o tubarão. “A Secretaria informa que a Polícia Ambiental já está tomando as medidas cabíveis ao caso”, acrescenta.
De acordo com a nota da prefeitura, o animal seria um cação-mangona (Carcharias taurus), uma espécie considerada Criticamente Ameaçada de Extinção no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Volume VI – Peixes – ICMBio, 2018). A distribuição desta espécie de tubarão se limita à porção sul da costa brasileira, entre os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
((o))eco consultou o especialista em tubarões Vicente Faria, da Universidade Federal do Ceará (UFC) sobre a identificação da espécie. De acordo com ele, trata-se na verdade de um tubarão-de-cabeça-chata (Carcharhinus leucas), classificado como Quase Ameaçada pelo ICMBio. Vicente alerta, entretanto, que o grau de ameaça da espécie pode ser revisto em breve, pois já há indícios de declínio populacional em algumas áreas de ocorrência, como a própria costa do nordeste brasileiro.
“A minha impressão sobre a situação é que a motivação foi comercial, pela oportunidade de fazer uma renda em cima do animal, porque não tinha ninguém com medo ali envolvido na ação. Ao mesmo tempo, é importante entender que em uma atividade de pesca, esperam-se certos procedimentos para o abate de um animal e o que vimos ali foram chutes, aviso para acertar nos olhos, aquele pau enfiado na boca, que não se parece em nada com procedimento de abate pesqueiro, que visa algo que não prolongue a dor do animal. A própria questão de arrastar o animal pela areia tem uma simbologia muito ruim e até ruim para qualidade do pescado”, aponta o especialista.
O tubarão-de-cabeça-chata é comum nas águas mais rasas da costa, mas Vicente ressalta que não há registros de incidentes nas interações entre tubarões humanos no litoral do Ceará, e bastaria respeitar o espaço do animal para evitar riscos aos banhistas ou mesmo ligar para a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança do Ceará (Ciops), no 190.
“É uma espécie que gosta de águas costeiras, então não há nada de anormal, e poderia ter até rendido uma bela imagem pro Ceará de um ambiente preservado, mas tivemos o contrário, uma imagem de selvageria”, lamenta o professor.
O ataque pode ser enquadrado como maus-tratos e crime ambiental, conforme especificado no Art. 32 da Lei nº 9.605/98, com pena prevista de três meses a um ano de reclusão e multa. Um dos homens envolvidos na agressão, chega a dar o alerta para quem está filmando de que “não é para mostrar esse vídeo para ninguém”.
O tubarão foi removido por um bugre, que arrastou a carcaça do animal pelas areias do Balbino. De acordo com uma testemunha ouvida pelo G1 Ceará, depois de morto, o tubarão foi levado pelas próprias pessoas envolvidas no “abate”, que seriam pescadores locais, com o objetivo de comê-lo.
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"Pescador artesanal e sua sabedoria tradicional".
Que triste. Brasileiro não tem consciência ambiental alguma.