Há quatro meses, duas famílias vizinhas ao Parque Nacional da Floresta da Tijuca, localizado dentro do perímetro urbano do Rio de Janeiro, convivem com um ninho de gaviões instalado na mangueira do quintal de uma das casas. O novo inquilino não é bem-vindo. Os gaviões já atacaram três pessoas e fizeram muita gente andar de chapéu pelo quintal. Em contrapartida, um dos pássaros morreu.
Denise Zani mora há 44 anos na Avenida Edison Passos, no Alto da Boa Vista. Nesse tempo já viu circular pela casa muito gambá, morcego, coruja e até tucano. Ela afirma adorar bichos. Foi a primeira a ver o animal. “Um filhote de gavião entrou dentro da minha sala”, conta ela. “Quando vi, achei muito bonitinho”. Isso foi em outubro.
Pouco depois, ao se ver obrigada a colocar telas na gaiola de seus passarinhos para impedir que fossem devorados pelos salivantes gaviões, Denise começou a não gostar da história. Hoje eles se multiplicaram, são quatro: um adulto, dois filhotes crescidos e um ainda pequeno. Todos moram no alto da mangueira. O outro adulto, há duas semanas, quebrou o vidro da casa de Denise, ao tentar, segundo ela, atacar um de seus empregados. Morreu no choque.
Há mais ou menos um mês, Francisco Euldos, caseiro de Denise, foi surpreendido pelo vôo rasante de um dos gaviões, que mostrou as garras, deixando um lanho, já cicatrizado, no rosto do rapaz. Foi o primeiro ataque. Uma semana atrás, Francisco foi novamente importunado pelo bicho. Mas dessa vez virou o rosto a tempo de evitar novos cortes. No mesmo dia, o pintor que fazia um serviço na casa teve que usar seu rolo para afugentar o gavião nervoso.
Hélio e Augusta Fortes, donos da casa vizinha, onde fica a mangueira, resolveram tomar uma providência apenas quando a empregada de sua casa, Luzimar Ramos Gomes, também sentiu a força da unhada do bicho. Segunda-feira, ela varria a varanda do quarto do casal, que fica de frente para a árvore, quando o gavião passou por cima. Hoje, ela exibe no topo da cabeça três arranhões. Após o incidente, o casal enviou uma reclamação à seção de cartas do jornal O Globo relatando os ataques e reclamando do descaso das autoridades.
Resposta mal dada
Há poucas semanas, a vizinha deles, Denise, depois de algumas tentativas frustradas, havia conseguido uma resposta do Ibama sobre o caso. Ouviu que o animal estava em seu habitat correto e que quem deveria se mudar eram eles. Ela recorreu ao Corpo de Bombeiros, mas foi informada de que o problema não estava em sua alçada. “Isso não é resposta que se dê”, reagiu. Indignada, Denise revidou aos ataques dos gaviões com rojões de três tiros, sem que nenhum tenha conseguido acertar os pássaros.
“O ambientalismo existe para proteger as espécies em extinção”, afirma Hélio. “Eu sou uma espécie em extinção”, brinca. Com 86 anos de idade, ele não tem coragem de fazer seus exercícios no jardim com medo de ser atacado pelos pássaros. “Não queremos nossos netos na piscina por enquanto”. Os moradores reclamam também do sumiço de beija-flores, bem-te-vis e micos, que com a chegada dos pássaros teriam desaparecido dos quintais.
O ornitólogo Luís Fábio Silveira afirma que gaviões não têm o costume de atacar pessoas. “O caso é muito estranho, provavelmente eles estão agindo assim para defender o território e os filhotes”. Uma ordem de poda da mangueira há pouco mais de mês, dada por Hélio, pode ter deflagrado o nervosismo dos pássaros. Uma fiscal da Fundação Parque e Jardins, que passava na área na hora, impediu que a árvore fosse podada até o ninho, localizado no alto.
“A pior coisa a se fazer é retirar os gaviões, mas é fácil falar de fora, quando não se está sendo atacado”, assume Luís Fábio. “O episódio apenas confirma o quão delicada é a convivência entre os animais e os seres humanos”. Fernando Lima, técnico do Ibama, explica que dificilmente animais em casos como esses são retirados. “Preferimos tentar explicar a situação para as pessoas”, revela. Ele se comprometeu a visitar a casa e buscar uma solução para o impasse.
Uma situação parecida, envolvendo um falcão que decidiu fazer seu ninho na cobertura de um elegante prédio, com vista para o Central Park, em Nova Iorque, acabou em final feliz para o pássaro. Pale Male, como foi apelidado, recebeu nada menos que dez mil assinaturas em favor de sua permanência no local.
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