Reportagens

Consulta obrigatória

Banco de dados eletrônico relaciona 80 madeiras utilizadas na construção civil e indústria moveleira. Listagem vai contribuir para que o uso não seja concentrado em poucas espécies.

Aline Ribeiro ·
6 de dezembro de 2006 · 17 anos atrás

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) lançou, no fim de outubro, amplo banco de dados na internet que lista 80 espécies de árvores madeireiras nativas e de reflorestamento utilizadas para fins comerciais. Com a xiloteca eletrônica, engenheiros, arquitetos e o público leigo têm, num único sistema, diversas alternativas de madeiras para facilitar na hora de escolher qual utilizar na construção civil ou na produção de móveis. É uma forma de driblar a tradicional procura pelas mesmas espécies, que acabam ameaçadas por serem utilizadas exaustivamente. O sistema de busca é resultado de pesquisas realizadas pelo IPT ao longo dos anos e deve incorporar outras madeiras no futuro. Uma grande contribuição para o setor, além de um presente para o meio ambiente.

Além dos nomes populares e científicos, o banco de dados informa aspectos gerais da madeira, durabilidade natural e possibilidade de tratamento químico, características de processamento, propriedades físicas e mecânicas e os usos na construção civil e na indústria de móveis. Também apresenta fotos do corte transversal, com aumento de 10 vezes, e das faces tangencial e radial. “A variação das imagens vai atender aqueles que querem utilizar a madeira para a decoração”, pontua Geraldo Zenid, diretor do Centro de Tecnologia de Recursos Florestais do IPT.

O auxílio na escolha da madeira apropriada é ainda mais bem-vindo se considerarmos que, em terras tropicais, o número de espécies existentes é bastante expressivo. Somente na floresta amazônica, são 230 por hectare. Mas os hábitos e a ausência de informações sobre madeiras alternativas ainda falam mais alto no momento da compra. Apenas 50 espécies florestais são utilizadas comercialmente. “O fato de retirar da floresta madeiras alternativas poupa as outras espécies”, pondera Fábio Pozzer Rosa, arquiteto do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (Idhea). “O trabalho do instituto é importante para os profissionais do setor, porque abre um leque de opções para que não usem sempre a mesma madeira”, reforça Karla Aharonian, gerente de Produtos Ecológicos da Ecoleo, primeira revendedora de madeira certificada da América Latina.

O banco de dados permite consultas avançadas. Por exemplo, se o profissional estiver atrás de uma madeira com propriedades mecânicas específicas pode estabelecer faixas de busca para esse parâmetro. Basta digitar a característica que procura para o sistema listar todas as madeiras que a possuem. Segundo Zenid, o instituto pretende incluir na relação mais 20 espécies nos próximos seis meses. “Para ampliar, dependemos de novos recursos.” A xiloteca virtual é um dos produtos de programa do IPT que custou 150 mil reais, financiado pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. O trabalho de compilação dos dados durou oito meses.

Espécies como peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron) e o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia) foram as mais procuradas nos últimos 10 anos no estado de São Paulo, pela disponibilidade, tradição e qualidade da madeira. Mas a tendência está mudando, até porque essas madeiras tornaram-se raridade no mercado. A peroba era muito utilizada em estruturas da edificação que necessitam de maior resistência mecânica, como os telhados. Já o pinho, utilizado em componentes mais leves e acabamentos, entrou para a lista oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção . “Acredito que existe um início de mudança cultural, apesar de ainda predominar o menor preço”, opina o diretor do IPT.

Na hora de comprar a madeira, é preciso conhecer a procedência do produto, lembra Zenid. “É muito importante saber, por exemplo, se é de uma região autorizada por planos de manejo. Isso atesta que a madeira está legalizada. Mas, se o consumidor quiser ir além e garantir a regularidade ambiental do produto, tem de buscar a certificação”, recomenda, ao lamentar que o setor de certificados ainda é muito voltado para a alta renda, como a madeira de exportação e os móveis assinados por designers.

Panorama madeireiro

O Brasil tem hoje 539 milhões de hectares de florestas nativas e 5,6 milhões de hectares de matas plantadas – menos de 1% da cobertura florestal total do país. Os dados são de um relatório inédito da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), que todos os anos lança estudo com informações atualizadas sobre o setor. A publicação de 2006 mostra que, do total de área plantada no Brasil, 93% são representados pelos cultivos de eucalipto e pinus, concentrados principalmente nas regiões sudeste, sul e nordeste. E ressalta o crescimento da espécie paricá na fabricação de produtos de madeira sólida.

O estudo apresenta ainda um ranking das mais utilizadas no Brasil. Das madeiras plantadas, as procuradas com maior freqüência são o pinus (compensado, madeira serrada); eucalipto (madeira serrada, embalagens, vigas e tábuas); paricá (lâminas e compensados); teca (madeira serrada e sarrafos); e populus (palitos de fósforo). Entre as nativas mais consumidas estão o cedrinho (madeira serrada); champanhe (madeira serrada e assoalho); amescla (compensado); garapeira (madeira serrada); itaúba (vigas, tábuas e caibros); andiroba (pisos, assoalhos, portas e móveis); copaíba (lâminas e compensados); faveira (laminas e compensados); louro vermelho (laminas e compensados); e jatobá (pisos, assoalho, portas e móveis).

Em 2005, o setor de madeira processada mecanicamente passou por dificuldades que refletiram em redução nos níveis de produção, com conseqüente diminuição de mão-de-obra empregada, perda de competitividade e desaquecimento das exportações. As dificuldades, cuja principal origem é econômica, foram causadas também pela lentidão na definição de políticas públicas relativas à expansão da base florestal e à regulamentação dos planos de manejo sustentáveis na Amazônia, diz o relatório.

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