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Abacaxi com pimenta faz bem

Testado e aprovado, bioinseticida amazônico conseguiu controlar praga em 97% em produção de abacaxi. Faltam interessados para produção em escala.

Andreia Fanzeres ·
2 de março de 2010 · 15 anos atrás
A pimenta-de-macaco, comum na Amazônia (foto: Murilo Fazolin)
A pimenta-de-macaco, comum na Amazônia (foto: Murilo Fazolin)

Uma planta muito comum na Amazônia revelou, pelas mãos de pesquisadores da Embrapa Acre, que tem excelente propriedade inseticida para lavouras de abacaxi, café e frutas cítricas. O método é mais barato em relação a outros produtos orgânicos usados para dispersar pragas, e já foi testado e aprovado em escala piloto. Para deslanchar, uso do óleo de pimenta-de-macaco (Piper aduncum) só precisa agora de mais um detalhe: gente que se interesse em produzi-lo comercialmente. A Embrapa Acre está à espera de contatos para fornecer tecnologia e estabelecer contratos de cooperação.

O princípio ativo inseticida do óleo, conhecido como dilapiol, tem sido estudado no Acre há sete anos pelo pesquisador Murilo Fazolin, que vem acompanhando análises semelhantes em outros tipos de pimenta encontradas na Amazônia. De acordo com as pesquisas, para cada litro de óleo, é possível extrair concentrações de 73% a 98% de dilapiol. O estudo dessa substância intensificou-se depois que o Brasil proibiu a extração de safrol – outro agente inseticida encontrado em plantas – através do corte da Canela de Sasafraz, em 1991, planta típica da Mata Atlântica ameaçada de extinção.

Na busca por substituto ao safrol acharam nos anos 90 a pimenta-longa da Amazônia (Piper hispidinervum), que tem teores da substância a 90%. E, com ela, outras foram sendo descobertas, como a pimenta-de-macaco. “Existem muitos tipos de pimenta. Na Amazônia ocidental, de um modo geral, elas são abundantes porque são plantas de sucessão. Quando derrubam a floresta, ela aparece logo até o restabelecimento da mata”, explica Fazolin. Por enquanto, não existe um mapeamento detalhado sobre as áreas de ocorrência da pimenta-de-macaco, mas está previsto que este trabalho se inicie em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV/MG).

O desenvolvimento de inseticidas orgânicos pretende acompanhar, na visão de Fazolin, o crescimento da área de agricultura orgânica no Brasil. Há cerca de 900 mil hectares já certificados, de acordo com dados de 2008. No entanto, o óleo de pimenta-de-macaco não pode ser usado para qualquer cultura. “O óleo não é bom para plantas que têm folhas tenras, como feijão e hortaliças”, diz. Até agora, as pesquisas mais aprofundadas ocorreram em lavouras de abacaxi, e os efeitos positivos sobre o controle da broca foram imediatos.

Abacaxi sendo pulverizado com o óleo (foto: Murilo Fazolin)
Abacaxi sendo pulverizado com o óleo (foto: Murilo Fazolin)

“Nos arredores de Rio Branco fizemos um experimento numa área de três hectares de abacaxi, onde o ataque da praga atingia 70% da produção. Controlamos a broca em 97% dos frutos, o produtor conseguiu vender os abacaxis como sendo orgânicos, mas não deu continuidade ao uso justamente por falta de produto. Não é finalidade da Embrapa produzir em larga escala, por isso procuramos parceiros”, explica Fazolin.

O óleo de pimenta-de-macaco (foto: Murilo Fazolin)
O óleo de pimenta-de-macaco (foto: Murilo Fazolin)

Além da capacidade natural de controlar pragas em certas culturas, as pesquisas envolvendo a destilação do óleo essencial de pimenta-de-macaco demonstraram também que, se misturado a inseticidas convencionais, ele potencializa o produto, reduzindo-se assim a necessidade de aplicação de químicos nas lavouras. “O uso em conjunto não transforma um produto convencional em orgânico, mas pelo menos diminui a dose de químicos necessária para controlar pragas. Vimos isso em testes no combate à broca de milho”, diz Fazolin.

O pesquisador estima que, comparado a outros inseticidas orgânicos, o óleo de pimenta-de-macaco tenha custo mais vantajoso. Segundo ele, o inseticida comercial orgânico bacilus thulrigiensis sai a R$ 114 por hectare. Um convencional custa R$ 32,42 e o nosso óleo vai sair a R$ 55,46. “Ele é 66% mais caro do que o convencional, mas é mais barato em 49% em relação a outro orgânico, e o preço pode diminuir mais porque a produção em escala reduz os custos”, observa.

  • Andreia Fanzeres

    Jornalista de ((o))eco de 2005 a 2011. Coordena o Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

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