Por Nathalia Clark*
De “alma lavada e enxaguada”, a candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, assumiu nesta quarta-feira seus compromissos com o meio ambiente, no Hotel Nacional, em Brasília. Após a declaração de neutralidade, ou “liberação” , por parte do Partido Verde, o evento, intitulado “ Ato em defesa do meio ambiente” , foi realizado para oficializar o apoio de militantes do PV e ambientalistas à candidata petista.
A candidata se comprometeu a vetar os artigos que anistiam desmatadores na proposta de alteração do Código Florestal aprovado pelo relator Aldo Rebelo (PcdoB-SP). Também prometeu respeitar os compromissos firmados na Conferência do Clima, em Copenhague, em dezembro de 2009, em relação às metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. Para isso, ela reafirmou a necessidade de uma matriz renovável e limpa, uma agricultura ambientalmente responsável, e a recuperação das áreas desmatadas. Mas não explicou que ações serão adotadas para atingir estes objetivos.
A principal bandeira da petista para conquistar os ambientalistas foi dizer repetidas vezes que fará política de “tolerância zero ao desmatador!”. E isso, segundo a candidata, significa também compromisso com o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que em vez de ser coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, foi entregue pelo presidente Lula ao então ministro Mangabeira Unger, o que gerou enorme desconforto por parte da ex-ministra Marina Silva. Por sinal, na semana passada, o PAS foi motivo de uma reunião em Brasília para que fosse reanalisado pelo próprio governo federal. “Sem a redução do desmatamento não há sustentabilidade. Só assim poderemos dizer que avançamos pelo caminho certo”, discursou Dilma.
Sem assinar embaixo
No meio de sua fala, porém, a candidata foi surpreendida por militantes do Greenpeace que seguravam uma faixa com a frase “Desmatamento zero e lei de renováveis. Você assina embaixo?”. A resposta de Dilma gerou clima de insegurança em alguns ambientalistas presentes. Ela afirmou que não faz leilão político para receber apoio, mas faz propostas que sabe que são viáveis.
“Acho que cada um de nós aqui quer reduzir o desmatamento a zero. Mas entre querer e fazer há todo um processo. Nós podemos até chegar a isso, mas hoje o nosso objetivo, que assumimos com palavra empenhada, é a redução em 80% na Amazônia e tolerância zero com o desmatamento em qualquer bioma. O que podemos dizer é que não apoiamos a política que tenta flexibilizar os desmatadores, mas a sua punição”, frisou a ex-ministra chefe da Casa Civil.
O Greenpeace interpretou como uma contradição a não-assinatura da candidata à ação dos manifestantes, pois seria equivalente ao que ela disse no mesmo local: tolerância zero para desmatador. Representantes da ONG esperam que essa contradição “se transforme em afirmação pró-floresta”, conforme divulgaram nesta tarde em nota.
De acordo com Sérgio Leitão, diretor de campanhas do Greenpeace, eles não querem “ um presidente que seja ambientalista desde criancinha, mas que assuma o compromisso e diga com clareza como vai pôr um fim no desmatamento e dar ao país o máximo de participação das energias renováveis em sua matriz energética” .
Elogios a Marina
Marina Silva foi bastante elogiada na mesa, inclusive por Dilma Rousseff, que confessou admirar as ações da ex-candidata no movimento social e ambiental do país. Michel Temer, vice-presidente de Dilma, sinalizou o “V” do verde, que chamou também de “‘V’ da vitória”, referindo-se ao apoio dos candidatos do PV.
Segundo ele, o apoio recebido nesta quarta foi “o apoio de uma ideia, a ideia ambientalista, fundamental para o país, e que Marina levou adiante na campanha presidencial e no Ministério (do Meio Ambiente), onde foi responsável pela diminuição e combate ao desmatamento”. O candidato declarou sair “animadíssimo, com o apoio de lideranças extraordinárias do Partido”.
Ao coro de “Dilma, urgente, pelo meio ambiente”, militantes do PT receberam à mesa Pedro Ivo, coordenador da campanha presidencial de Marina, que leu uma carta-manifesto: “Marineiros com Dilma”.
Juntaram-se a ele e também registraram seu apoio à candidata Dilma, Ângela Mendes, filha de Chico Mendes; representantes indígenas, como Jecinaldo Sateré Mawé, coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab); o senador Cristovam Buarque; o secretário-executivo do MMA, José Machado, e demais servidores do Ministério. O candidato ao governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), também esteve presente.
O lado ambiental do pré-sal
Como em toda a sua campanha, Dilma defendeu a exploração petrolífera na camada pré-sal, sem considerar que essa escolha representa a continuidade do modelo energético mais poluente que existe. Para ela, o lado ambiental do pré-sal virá nos recursos financeiros que ele vai trazer. “Hoje, o petróleo que está na superfície do mar é do povo brasileiro! Ser do povo brasileiro significa que nós teremos uma imensa riqueza para investir. E queremos investir em meio ambiente, educação, em ciência e tecnologia, em saúde, em cultura e na erradicação da pobreza”, afirmou.
“Não há para nós crescimento econômico que justifique a destruição da natureza, e isso vale para todas as nossas políticas. Nós não queremos mais que esse país faça o seu desenvolvimento às custas da sua gente e às custas da natureza. Nosso país é um exemplo para o mundo, pois vai provar que existe, sim, uma política efetiva de respeito ambiental, de respeito social, de cidadania e de democracia”, concluiu Dilma Rousseff.
O discurso verde de José Serra
O candidato do PSDB à presidência, José Serra, não convocou uma reunião para reafirmar suas ideais sobre o meio ambiente, mas desde que começou o segundo turno tem tentado, em todas as oportunidades televisivas e comícios, reforçar que o meio ambiente faz parte de sua campanha. Conseguiu apoio de partidários de Marina Silva, como Fernando Gabeira, do Rio de Janeiro, e Fabio Feldmann, ex-deputado paulista.
Em entrevista a O Eco, o coordenador da área ambiental na campanha do candidato tucano, Xico Graziano, discordou do que diz um panfleto que circula na internet relacionando os municípios que mais desmatam a Amazônia com os locais onde Serra tem maioria de eleitores.
“Em minhas aulas de estatística eu aprendi que correlação entre duas variáveis não significa existência de relação de causa e efeito. As posições dele e as minhas, que coordeno esse tema na campanha, são conhecidas a favor da moratória no desmatamento por 5 anos, contra a anistia aos desmatadores proposta no relatório Aldo e a favor da manutanção das áreas de preservação com o condicionante de regulamentar as áreas de agricultura consolidada e produtiva do país, ocupadas historicamente”, defendeu Graziano.
Segundo ele, boa parte dos ambientalistas está apoiando a campanha de José Serra. “Nós, em São Paulo, implementamos o mais exitoso projeto de fiscalização da madeira da Amazônia, com acompanhamento e parceria do Greenpeace, que pode testemunhar nossa seriedade nesse trabalho chamado “SP Amigo da Amazônia”. Para não falar das demais agendas ambientais, como a proteção das áeras marinhas, da lei das mudanças climáticas, do ecoturismo, dos planos de manejo de parques e da educação ambiental, assuntos que lideramos no país”, completou.
Assista a trechos do discurso de Dilma sobre meio ambiente.
*com redação.
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