Na última terça-feira (26) os vencedores do Programa Petrobras Ambiental 2010 foram anunciados após grande expectativa. Tradicionalmente, a empresa é uma das que mais investe recursos financeiros em projetos ambientais pelo Brasil, embora esse montante seja ínfimo perto do que se gasta para poluir. De 2008 para cá (o prêmio é bianual) o aporte aumentou. Entre os 928 projetos inscritos, 44 foram selecionados e vão dividir uma verba de R$ 78,2 milhões, contra R$ 40 milhões e R$ 46 milhões nos anos de 2004 e 2006.
Rômullo Melo, presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), estava presente à cerimônia, realizada na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, e disse que ainda falta muito apoio do empresariado aos projetos ambientais no país. “É óbvio que 44 projetos e R$ 78 milhões nas dimensões do Brasil não é um volume grande, mas é representativo. É muito importante que outras empresas sigam o exemplo da Petrobras e a gente cresça. A percepção que a sociedade brasileira tem sobre a conservação da biodiversidade cresce a cada dia e isso faz com que o estado e outras instituições se agreguem a este processo”, comemora.
No evento, organizações da sociedade civil foram as grandes protagonistas. De toda parte do Brasil, elas comemoravam com entusiasmo o direito de usufruir deste recurso para dar seguimento aos seus projetos. O veterano Guy Marcovaldi, coordenador nacional do Projeto Tamar, incentivou os contemplados, mas fez um alerta. “Falar de meio ambiente e ser acreditado quando o assunto é esse é mais fácil hoje em dia, mas os problemas aumentaram. A superpopulação está aí. Quanto mais gente nascer, mais problemas ambientais teremos. Os projetos de conservação da natureza têm que crescer mais rápido do que o ritmo de crescimento da população”, observa.
Se as tartarugas chegam às praias do Espírito Santo e Bahia, lá no Piauí também tem gente com os olhos voltados para elas. O projeto Tartarugas do Delta, da Comissão Ilha Ativa (CIA) pretende intensificar seus trabalhos no litoral piauiense. “Nós já fazíamos o cuidado das tartarugas de forma voluntária, mas precisávamos de patrocínio para continuar o trabalho. Como nós atuamos na Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do Parnaíba, nos estados do Piauí, Ceará e Maranhão, vamos continuar em busca de outros recursos”, explica Francinilda Rocha, presidente da CIA.
Já é praxe da Petrobras apoiar projetos sobre conservação da vida marinha, mas este ano houve outros destaques importantes na área socioambiental. Há 41 anos atuando no Norte e no Centro-Oeste, a Operação Amazônia Nativa (OPAN) foi uma das contempladas com um projeto que pretende implementar planos de gestão ambiental em terras indígenas e criar alternativas econômicas sustentáveis. “Este projeto envolve três povos indígenas, três áreas com um total de 1 milhão de hectares de mata em pé. O maior desafio é o entorno das terras indígenas no noroeste do Mato Grosso. Temos lugares muito bem conservados, mas o entorno tomado por um modelo muito predatório de ocupação. O objetivo é conseguir desenvolver o projeto e ampliar para um diálogo com as comunidades próximas e fazê-los pensar na conservação”, propõe Juliana Almeida, antropóloga da OPAN.
Os projetos vencedores foram divididos em três linhas de atuação: fixação de carbono e emissões evitadas (16 trabalhos aprovados), recuperação ou conservação de espécies e ambientes costeiros, marinhos e de água doce (15 projetos) e gestão de corpos hídricos superficiais e subterrâneos (13 iniciativas). Os recursos devem ter prazo de execução de 18 a 24 meses.
Dependência “inevitável” do petróleo
Em seu discurso, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que a dependência do mundo moderno ao petróleo é inevitável. Para ele, a substituição dos combustíveis fósseis por energias alternativas não deverá acontecer pelo menos nos próximos 30 anos. “Se nós não aumentarmos em nada o consumo de petróleo de hoje até 2030, como uma produção atual de 85 milhões barris/dia, seria preciso de 45 a 65 milhões de barris só para atender as necessidades de hoje. Se tomarmos as matrizes de fontes primárias, solar, eólica, mares, geotérmicas e somando-as, hoje elas são só 1% da matrizes energéticas mundiais. Se daqui a 10 anos multiplicarmos por 10 a velocidade de crescimento dessas fontes em relação ao petróleo, elas só serão 10%. O petróleo, no entanto, vai continuar crescendo nos próximos trinta anos, é inevitável”, explica.
Veja a lista dos projetos vencedores por região.
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