Reportagens

Aquicultura vai crescer e precisa melhorar

Novo estudo da Conservação Internacional em parceria com centro de pesquisa na Tailândia que fazendas de peixe podem ser o jeito mais eficiente de produzir proteína.

Celso Calheiros ·
16 de junho de 2011 · 14 anos atrás
Uma área de produção na Tailância. crédito: Conservação Internacional
Uma área de produção na Tailância. crédito: Conservação Internacional
A aquicultura vai continuar a crescer em todo o mundo, é o meio de produção de proteínas que menos impactos ambientais produz, no entanto precisa melhorar bastante os métodos de produção para alterar menos o meio ambiente. Essas conclusões fazem parte do estudo Blue Frontiers: Managing the environmental costs of aquaculture (Fronteiras azuis: gerenciando os custos ambientais da aquicultura), recém publicado em Bancoc pela World Fish Center e pela Conservação Internacional (CI).

O relatório investigou o impacto ambiental dos principais sistemas de produção de aquicultura no mundo e traz dados impressionantes. Conclui-se que a aquicultura é um dos setores de produção de alimentos com maior crescimento no mundo (desde 1970, as taxas médias são de 8,4% e a produção em 2008 atingiu 65,8 milhões de toneladas de acordo com a FAO) . É uma indústria que superou a marca dos US$ 100 bilhões e oferece metade de todos os pescados consumidos – superou o capturado em seu ambiente.

Copie o código e cole em sua página pessoal:

O trabalho comparou necessidades em todo mundo por 13 espécies, em 18 países, cinco tipos de alimentação e diversos sistemas de criação. Foram 75 sistemas produtivos avaliados. Uma das observações é que quanto maior a produção, maior o impacto ecológico. Ainda assim, se comparado à pecuária e à suinocultura, a aquicultura é mais eficiente na produção de quilos de proteína.

Outros dados relevantes apontados no relatório: os frutos da aquicultura contribuem menos para as emissões de nitrogênio e fósforo, logo reduzem o impacto nas mudanças climáticas considerando o alimento produzido. Ao se comparar com a carne suína ou boniva, o produto da aquicultura converte mais proteína do alimento produzido, por isso gera menos desperdício.

Impactos no Brasil

A carcinicultura marinha (criação de camarões) no Brasil, em 1996, teve uma produção inferior a 1 mil toneladas/ano. Crédito : Conservação Internacional
A carcinicultura marinha (criação de camarões) no Brasil, em 1996, teve uma produção inferior a 1 mil toneladas/ano. Crédito : Conservação Internacional

O ponto negativo ficou ao se analisar a aquicultura sem comparações. O impacto ambiental é real e pode ser ainda pior dependendo do país, região, sistema de produção e da espécie cultivada. Nesse aspecto, o Brasil fornece exemplos.

A carcinicultura marinha (criação de camarões) no Brasil, em 1996, teve uma produção inferior a 1 mil toneladas/ano. Em 2003, passou a produzir 90 mil t/ano e, nos anos seguintes, caiu para a casa das 60 mil t/ano. O diretor do Programa Marinho da CI-Brasil, Guilherme Dutra, considera esses números exemplos do crescimento não sustentável. “Esse crescimento rápido se deu a custa de ocupação e do comprometimento de áreas de manguezais e apicuns, fundamentais para a vida marinha e afetou a pesca artesanal nas regiões próximas”.

A atividade, explica o site do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) pode ser desenvolvida com a criação de peixes (de água doce ou do mar), produção de moluscos como ostras, mexilhões, caramujos e vieiras (malacocultura), camarões, caranguejo, siri, rãs, jacarés ou mesmo o cultivo de algas. No Brasil, ela engatinha, tropeça e arrisca seus primeiros passos.

A primeira fazenda marinha, a Aqualíder, foi inaugurada em 2009 para produção de um peixe típico do nosso litoral, o beijupirá. A fazenda fica a 11 quilômetros (mar adentro) da Praia de Boa Viagem, no Recife, tem 48 tanques-redes e planeja produzir 10 mil toneladas do peixe, por ano.

A espécie mais criada no Brasil é a tilápia, com produção nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Na região Norte, a produção maior é de pirarucus e tambaquis. No sul, são criadas carpas, ostras e mexilhões (na região Sul). No Centro-Oeste, a preferência é por tambaquis, pacus e pintados.

O setor tem todas as razões para crescer no Brasil, uma vez que corre no país 12% da água doce do planeja, além de possuirmos 8 mil quilômetros de litoral. A Embrapa em Palmas, Tocantins, pesquisa quais são as espécies mais produtivas e os sistemas de alimentação mais econômicos.

Mundo

Pescados em Shichuan, na China. País tem a maior a aquicultura no planeta. Crédito: Conservação Internacional
Pescados em Shichuan, na China. País tem a maior a aquicultura no planeta. Crédito: Conservação Internacional

A aquicultura, revela o trabalho da World Fish Center e CI, é representativa para a produção mundial de alimentos e precisa de avanços em pesquisa e inovação para superar a falta de sustentabilidade. O maior desafio é a produção em larga escala.

A Ásia como um todo, sendo a China um destaque, respondem por 91% da produção de pescado cultivado. A China isoladamente produz 64% do total do planeta. A Europa 4,4%, a América do Sul 2,7%, a América do Norte 1,9% e a África 1,6%.

A carpa é a espécie mais produzida na Ásia e o salmão é o preferido na Europa e na América Latina. As tilápias são o destaque na África (e a espécie começa a ser produzida no sertão nordestino).

As espécies cultivadas que geram maior impacto ambiental são a enguia, o salmão, camarão e pitu, devido ao consumo de energia e à grande quantidade de peixes usados como ração. Na outra ponta, as aquiculturas que geram menos impacto são os mexilhões e as ostras, os mariscos e as algas marinhas.

Embora a China seja líder em volume de produção, tem o que aprender. O estudo chegou à conclusão que os métodos de produção do norte da Europa, Canadá e Chile são mais eficientes do que os dos países asiáticos, em especial na acidificação, mudanças climáticas, demanda de energia e ocupação do solo. A China também tem a aprender quando o assunto é carcinocultura. A criação de camarão na Tailândia é mais eficiente em termos de acidificação, alterações climáticas e demanda energética.

A aquicultura hoje já representa 99% da produção de algas marinhas, 90% das carpas e 73% do salmão consumidos, além de metade do consumo de tilápias, bagres, mariscos, caranguejos e lagostas.

Além do relatório, um documento sugere políticas públicas, modelos de organizações de desenvolvimento, recomendações ambientais e para os profissionais da indústria de aquicultura. O destaque é o apoio à inovação, a garantia de um marco regulatório que apoie necessidades ambientais. As recomendações são críticas e se aplicam globalmente, mas as distintas realidades regionais imprimem graus diferentes em sua importância relativa.

{iarelatednews articleid=”19893,19600,2284″}


Leia também

Notícias
19 de dezembro de 2024

Desmatamento na Amazônia sobe 41% em novembro, mostra Imazon

Este é o sexto mês consecutivo de alta na destruição do bioma, segundo SAD/Imazon. Degradação florestal tem alta de 84% em relação a novembro de 2023

Notícias
19 de dezembro de 2024

A um mês da posse de Trump, EUA lançam sua meta de corte de emissões

Proposta de Biden é reduzir entre 61% e 66% das emissões até 2035. Governadores dos principais estados dos EUA falam que meta será “estrela guia”

Análises
19 de dezembro de 2024

Restauração muda paisagem em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná

Iniciado há 24 anos, plantio de 300 hectares de Mata Atlântica pela SPVS uniu ciência e alta tecnologia, em um casamento que deu certo

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.