Reportagens

Pelas paisagens da Freira ao Queimado

Trecho da Transcarioca que vai da rua do Amado Nervo à Mesa do Imperador explora conhecidos cartões postais de mirantes pouco conhecidos.

Duda Menegassi ·
21 de janeiro de 2013 · 11 anos atrás
Cristo Redentor manda um abraço à distância. Fotos: Duda Menegassi
Cristo Redentor manda um abraço à distância. Fotos: Duda Menegassi

De volta à primeira trilha do Blog sobre a Transcarioca, dentro da área do Parque Nacional da Tijuca, que começa na Rua do Amado Nervo, no Alto da Boa Vista. A entrada permanece como antes, ainda fechada e escondida, procedimento padrão das equipes de manejo de trilhas para não incentivar o uso da via enquanto ela ainda não está completamente pronta e marcada. Assim, visitantes pouco orientados não se perderão em “picadas” (estádio primordial de implementação da trilha, em que o trajeto apenas foi aberto à facão, com remoção parcial de vegetação e obstáculos). Além disso, ainda está sendo estudada a possibilidade de outra entrada, já que essa propicia uma subida bem íngreme nos primeiros 5 minutos da aventura.

O trajeto segue até o Morro da Freira, para depois ir até o Morro do Queimado e de lá descer até a Mesa do Imperador. No trecho inicial, são cerca de 30 minutos em uma trilha sinalizada com as pegadas e setas amarelas da Transcarioca, percorridos em um caminho colonial que proporciona um passeio agradável, sem esforço. Ele continua bem marcado, mesmo quando não existe mais sinalização. Vale frisar que o trecho não está pronto e é necessário um trabalho de manejo no leito da trilha, ainda com muitos tocos de árvores que não foram inteiramente removidos.

A pegada amarela - sinalização oficial da Transcarioca
A pegada amarela – sinalização oficial da Transcarioca

Com cerca de uma hora de caminhada, já no Morro da Freira, as coisas começam a se complicar, já que foi aberta apenas a “picada” e há dificuldades em se distinguir as marcas que indicam a direção certa. Entre idas e vindas e algumas tentativas, enfim o caminho colonial reaparece. O antigo trajeto, aberto na época dos engenhos que ocupavam a área, é o sinal de que estamos no lugar correto. A trilha segue costeando o cume do Morro da Freira até o topo, após uma subida mais pesada de cerca de 10 minutos.

Do alto, a visão é prejudicada pela vegetação, mas é possível achar brechas para admirar a paisagem. Boa parte do Parque Nacional da Tijuca é visível por entre as árvores, vantagem dos 631 metros de altitude desse cume. O caminho é novamente visível nesse ponto, pois excursionistas se aventuram com frequência por lá, deixando suas marcas em direção ao Morro do Queimado.

O Morro do Queimado é área de recuperação ambiental e seu nome faz alusão às frequentes queimadas realizadas no local para abrir espaço para os pés de café, no século XVII. Hoje, séculos à frente, o problema das queimadas virou atividade criminosa e a floresta pode crescer em paz, vigiada pela administração do parque.

No espírito da época colonial, a paisagem se descortina, como um tornozelo feminino que se revela aos poucos e prende o interesse do admirador. Doses homeopáticas do Rio de Janeiro para os apaixonados saborearem com apreço, até a floresta resolver abrir espaço e mostrar, generosa, um verdadeiro quadro: a Lagoa Rodrigo de Freitas, as praias, o Corcovado, a Pedra da Gávea, o Jóquei. Um mundo de azul, verde e cinza que compõem essa aquarela brasileira versão carioca.

Vista do Morro do Queimado.
Vista do Morro do Queimado.

A partir daí a descida revela mirantes naturais, como a Pedra da Proa, um rochedo que se projeta em direção ao cartão-postal à frente. A trilha tem trechos de caminhada na rocha, então, todo cuidado é pouco na hora de escolher onde pôr os pés. Olhe para baixo e obviamente também para a vista privilegiada.

Com paradas fotográficas, do cume em uma hora chega-se a escadaria e, enfim, a Mesa do Imperador. O nome faz alusão a uma predileção da família real portuguesa em fazer seus piqueniques nessa área, de onde se vê o Cristo Redentor, a Lagoa e o mar. Próximo dali está a Vista Chinesa, outro mirante da Cidade Maravilhosa, construído em homenagem aos chineses que trabalharam na construção dessa estrada.

Tanto a Vista Chinesa quanto a Mesa do Imperador são acessíveis de carro ou bicicleta, pela via de asfalto que existe dentro do Parque Nacional da Tijuca e conecta diversos atrativos.

Entretanto, a Transcarioca é feita para os que querem fugir do asfalto, por isso leva além dele. Com o perdão do trocadilho, a Transcarioca está aí para fazer transpirar e transcender um Rio de Janeiro que esconde belezas na floresta e exibe as que estão fora dela.

O Parque Nacional da Tijuca agradece a visita e quem cuida.
O Parque Nacional da Tijuca agradece a visita e quem cuida.
A exuberância da floresta que guarda a trilha.
A exuberância da floresta que guarda a trilha.
Mesmo quando a sinalização oficial acaba, ainda há marcas indicando o caminho.
Mesmo quando a sinalização oficial acaba, ainda há marcas indicando o caminho.
A Pedra da Proa se projeta para quem quer conferir a paisagem mais de perto.
A Pedra da Proa se projeta para quem quer conferir a paisagem mais de perto.
Os caminhos coloniais propiciam trilhas amplas e fáceis de serem percorridas
Os caminhos coloniais propiciam trilhas amplas e fáceis de serem percorridas
Pequena caminhada na pedra, no Morro do Queimado.
Pequena caminhada na pedra, no Morro do Queimado.
É possível ver até a Pedra da Gávea.
É possível ver até a Pedra da Gávea.
A Vista Chinesa é acessível de carro, bicicleta ou no tradicional
A Vista Chinesa é acessível de carro, bicicleta ou no tradicional
Cartão postal carioca do monumento chinês
Cartão postal carioca do monumento chinês
A Mesa do Imperador
A Mesa do Imperador
O cenário dá a moldura pra essa verdadeira obra de arte.
O cenário dá a moldura pra essa verdadeira obra de arte.
  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

Leia também

Notícias
28 de março de 2024

Estados inseridos no bioma Cerrado estudam unificação de dados sobre desmatamento

Ação é uma das previstas na força-tarefa criada pelo Governo Federal para conter destruição crescente do bioma

Salada Verde
28 de março de 2024

Uma bolada para a conservação no Paraná

Os estimados R$ 1,5 bilhão poderiam ser aplicados em unidades de conservação da natureza ou corredores ecológicos

Salada Verde
28 de março de 2024

Parque no RJ novamente puxa recorde de turismo em UCs federais

Essas áreas protegidas receberam no ano passado 23,7 milhões de visitantes, sendo metade disso nos parques nacionais

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.