A chegada em Santarém foi no anoitecer da sexta, 5 de julho. As poucas nuvens, finas e longas, comprimiam o horizonte avermelhado contra o rio Amazonas. O rio seguia seu curso contornando ilhas, desenhando as margens, infindável, largo e sempre caprichoso. Em frente à cidade, o Amazonas encontra o rio Tapajós, que, próximo à Santarém, atinge 19 km de largura. O turboélice da Azul, lotado, pousou no horário. A reportagem de ((o))eco alcançava a 3ª maior cidade do Pará para investigar a dimensão do impacto do complexo de 5 usinas hidrelétricas que o governo quer construir na bacia do Tapajós.
O Tapajós é formado pelos rios Teles Pires e Juruema e é conhecido pelas suas águas claras e azuladas. Ele percorre cerca de 2 mil quilômetros, desde o Mato Grosso até o Pará, onde desagua no rio Amazonas. Em frente à confluência das duas massas de água, está a cidade de Santarém. O encontro das águas barrentas do Amazonas com as do Tapajós pode ser visto de qualquer lugar na orla da cidade. Na época de seca, o Tapajós deixa à vista pelo menos 100 km de praias de areia branca, que junto com a cor das suas águas e a largura, que atinge até 19 quilômetros, faz pensar que se está no mar.
O Complexo do Tapajós envolve pelo menos 5 usinas (há mais planos na gaveta). No próprio Tapajós o governo quer construir 2 usinas: Jatobá, de 2,3 mil Megawatts, e São Luiz do Tapajós, que com 6,1 mil Megawatts será a quarta maior hidrelétrica do país, atrás de Itaipu, Belo Monte e Tucuruí. O custo de Jatobá e São Luiz do Tapajós são de estimados 13,6 bilhões de dólares.
No rio Jamanxin, um dos tributários do Tapajós, há planos para outras 3 usinas menores: Cachoeira dos Patos (528 megawatts), Jamanxin (881 MW) e Cachoeira do Caí (802 MW). No conjunto, elas somarão cerca de 10,6 mil MW, quase uma Belo Monte (11 mil MW). Segundo as contas do próprio governo, elas afetarão uma área de 1.970 quilômetros quadrados, 30% maior do que a ocupada pela cidade de São Paulo.
O processo de tirar essas usinas do papel terá uma oposição tão aguerrida quanto a que se formou contra a usina de Belo Monte. Entre os planos e a construção estão grupos locais como a Frente em Defesa da Amazônia, Movimento Tapajós Vivo e Aliança Missionária Francisclariana do Tapajós. Juntos, estão os aguerridos índios Munduruku, que terão parte das suas terras alagadas e terão que ser realocados. As usinas também afetarão as Unidades de Conservação locais, entre elas, o Parque Nacional do Amazonas e o Parque Nacional do Jamanxin. Esse impacto acabou provocando uma reação dentro do ICMBio, onde um grupo de funcionários decidiu enviar uma carta aberta ao governo reclamando do projeto.
Aqui no blog, contaremos o dia a dia da viagem, com o intuito de compilar em seguida reportagens mais completas. Queremos fazer fotos e filmes curtos mostrando as belezas que podem ser prejudicadas ou desaparecer com a construção das hidrelétricas, e ouvir os personagens envolvidos na disputa sobre o impacto ambiental desse projeto. A argumentação oficial desmerece os ativistas que se opõem ao Complexo Tapajós de hidrelétricas. O governo garante que tomará todos os cuidados ambientais e que os impactos serão pequenos. Isso quer dizer que os ativistas exageram e são contra o progresso.
Mas serão mesmo? Um dos mais belos e biodiversos rios do país, o Tapajós vai ter seu fluxo e vazão alterados pelos degraus artificiais das hidrelétricas. Rio abaixo, até mesmo Alter do Chão, a pérola do turismo local pode ser afetada. O impacto sobre as espécies de peixes que habitam o rio pode ser desastroso. Vilas serão removidas e Itaituba, a cidade média mais próxima dos canteiros, verá sua população inchar sem que a infraestrutura acompanhe. Ao mesmo tempo o custo de vida deve disparar devido à demanda extra por moradia e serviços dos trabalhadores que construirão essas usinas.
Daniel Santini, Repórter Brasil: No Tapajós, complexo de hidrelétricas ameaça indígenas e ribeirinhos
Carlos Juliano Barros, Publica: Arquitetura da destruição
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