A cada ano, a produção industrial tem encontrado alternativas para o uso do chumbo. A telha esmaltada, a gasolina, a solda, os selos de lacre e tantos outros produtos não precisam mais dele. É o caso da indústria pesqueira. Por ano, um pescador perde entre 150 a 300 gramas de chumbo no Pantanal do Mato Grosso. A cada temporada de pesca, 40 toneladas do material se acumulam no fundo das águas daquela região. E foi numa viagem a passeio que o pesquisador Élson Longo teve a idéia de desenvolver, com alta tecnologia em cerâmicas, a chumbada alternativa. Feita apenas com argila, areia e pó de pedra, o novo produto é biocompatível com o fundo dos rios e lagos.
O primeiro passo dos pesquisadores Élson Longo (LIEC), Luis Fernando (Tecnicer) e dr. Carlos Paskocimas (LIEC) para desenvolver a chumbada ecológica foi analisar uma série de compostos compatíveis com a natureza. Depois, os pesquisadores fizeram um estudo de sinterização do material e traçaram um paralelo com as chumbadas utilizadas hoje. O material sintetizava bem, mas tinha baixa densidade. A solução foi acrescentar óxido de ferro na receita, porque o ferro é biocompatível. O chumbo alternativo já está sendo comercializado em escala industrial e distribuído em lojas de artigos pesca. O produto tem 30% de alumina, 45% de sílica, 15% de ferro e 10% de cálcio, e cumpre os mesmos objetivos do chumbo pesado.
O chumbo, como todo resíduo industrial pesado, é a principal fonte de contaminação dos rios e lagos do Brasil. Ele também é despejado por indústrias metalúrgicas, de tintas, de cloro e de plástico PVC – que utilizam o material nas linhas de produção sem nenhuma política de controle ambiental. O chumbo jamais pode ser destruído pelo meio ambiente. Para o homem, é sabido que a ingestão, pela água – e por conseqüência, pela carne de animais contaminados – causa câncer, seqüelas ao sistema nervoso central, má-formação no feto, efeitos corrosivos no organismo e provoca diversas outras disfunções metabólicas, porque é cumulativo e altamente tóxico.
É o que os médicos chamam de Plumbemia. Uma vez ingerido, permanece para sempre no organismo, causando problemas crônicos graves. Um adulto só absorve 10 % do chumbo ingerido. Uma criança com deficiência de ferro e cálcio, caso comum no Brasil, pode reter de 40% a 50% de material no organismo. Os sais solúveis do chumbo pesado, como o cloreto, o nitrato, o acetato, são venenos muito ativos e causam fortes dores abdominais, diarréia, perda de apetite, náuseas, vômitos e cãibras repetitivas. A contaminação por chumbo representa uma séria ameaça para as novas gerações e a substituição gradual nas industrias não só é uma questão ambiental, mas de saúde pública.
Os técnicos da empresa brasileira Tecnicer, que fabricam o material, comemoram a aceitação do chumbo alternativo pelo mercado pesqueiro, e acreditam no crescente interesse do mercado industrial pelos produtos ecológicos. A chumbada ecológica custa o mesmo preço que as chumbadas pesadas, mas precisa se tornar mais barata para que haja a troca gradual. O maior valor vem da propriedade do material que é totalmente assimilado pela natureza.
Chumbo feito de argila, areia e pó. É o homem de pedra, voltando-se novamente para a cerâmica, origem da cultura humana que hoje representa a alta tecnologia, enquanto tenta sair de uma equação impossível. Enquanto busca uma alternativa contemporânea de permanência no Planeta.
Leia também
Impulsionadas pelo controle do desmatamento, emissões brasileiras caem 12% em 2023
Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas de CO2 equivalente em 2023, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo SEEG →
Um apelo em nome das mais de 46 mil espécies ameaçadas de extinção no planeta
“Salvar as espécies sustenta a vida no planeta”, declaram especialistas que reforçam a urgência de soluções interligadas para crise do clima, da biodiversidade e o bem-estar humano →
Fotógrafo lança livro com imagens inéditas do Parque Nacional da Tijuca
Livro “Parque Nacional da Tijuca”, do fotógrafo Vitor Marigo, reúne mais de 300 fotos tiradas ao longo de oito anos. Obra será lançada neste sábado →