Reportagens

Atividade humana pode extinguir metade das espécies de crocodilos do mundo

Pesquisador alerta para "futuro sombrio", embora a maior espécie de crocodilo do mundo esteja segura, devido à proibição da caça na Austrália.

Oliver Milman ·
8 de setembro de 2015 · 9 anos atrás
The Guardian Environment Network
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O crocodilo de água salgada foi protegido pela Austrália e está seguro. Foto: Albuquerque

Até a metade das 27 espécies de crocodilianos do mundo – que incluem crocodilos, jacarés e gaviais — pode ser dizimada devido à atividade humana, embora a espécie mais temida, o crocodilo de água salgada, pareça ter uma boa perspectiva, de acordo com um novo livro de um pesquisador especializado nesses animais.

Mudanças de uso da terra, poluição, abate e invasões de animais selvagens implicam que muitas espécies de crocodilo podem enfrentar um “futuro sombrio”, alertou o professor Gordon Grigg, da Universidade de Queensland, na Austrália.

O gavial, uma espécie de nariz longo que come peixes, sofre com a destruição de seu habitat na Índia. Construções nas margens e dragagem do rio Ganges têm enorme impacto sobre esta espécie, assim como o uso indiscriminado de pesca com rede.

O crocodilo das Filipinas e o jacaré chinês são espécies em risco de desaparecer ao longo deste século, diz Grigg, embora o jacaré chinês tenha largas criações em cativeiro para produzir carne e couro.

Entretanto, os crocodilos de água salgada e de água doce do norte da Austrália têm uma perspectiva mais otimista, resultado da proibição da caça em 1970.

Desde a proibição, o número de crocodilos de água salgada deu um salto. Chamados de “salties” (salgados, em inglês), estes constituem a maior espécie de crocodilo do planeta, com alguns animais chegando a atingir sete metros de comprimento e 900 kg de peso.

https://www.flickr.com/photos/leilat/3589327468/
O gavial corre risco de extinção. Foto: Lyalka

“As chances de cerca de metade das 27 espécies são bastante reduzidas se prosseguir a mesma tendência de uso humano da terra”, diz Grigg. “Habitat está sendo destruído, crocodilos são apanhados nas redes e os suínos selvagens comem seus ovos. Mas os crocodilos de água doce estão bastante seguros, pois eles nunca foram tão desprezados como os crocodilos de água salgada. E os jacarés americanos devem estar ok, porque estão agora protegidos da caça e os pântanos onde vivem são úmidos demais para a agricultura.

“A população de salties chegou a níveis muito baixos na década de 1960, mas houve uma recuperação dramática desde então. Os números estão se aproximando daqueles anteriores ao impacto da caça. Eles parecem seguros, a menos que no futuro voltemos a exterminá-los”.

Grigg escreveu um novo livro chamado “Biologia e evolução dos crocodilianos”, junto com o zoólogo canadense David Kirshner. Ele acredita que esses animais devem se beneficiar das mudanças climáticas.

“À medida que os habitats aquáticos se aquecem devido às alterações climáticas, os crocodilos poderão mover-se para habitats mais ao norte e ao sul”, diz ele. “Eu diria que nós podemos esperar salties mais ao sul, em Queensland. Um monte de crocodilos não vai sobreviver à pressão humana, mas aqueles que sobreviverem terão mais habitat”.

A recuperação dos números do crocodilo de água salgada levou a pedidos de licença para a caça da espécie no estilo safari, que seria permitida no Território do Norte. Alguns políticos australianos também manifestaram apoio a aumentar o abate para evitar ataques a pessoas.

Em maio, um homem da cidade de Darwin, na Austrália, foi repetidamente atacado por um crocodilo de água salgada com 2,5 metros, enquanto ele fazia kitesurf em uma praia. Ele agrediu o olho do animal e escapou.

Enquanto isso, em Darwin, um inquérito corre devido à morte de dois pescadores atacados por crocodilos em junho e agosto do ano passado. Um dos homens, Lanh Van Tran, enquanto tentava soltar uma linha de pesca, foi pego por um crocodilo de água salgada albino com 4,6 metros, apelidado de Michael Jackson.

 

*Esse artigo é publicado em parceria com a Guardian Environment Network, da qual ((o))eco faz parte. A versão original (em inglês) foi publicada no site do Guardian. Tradução de Eduardo Pegurier

 

 

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