Reportagens

Conhecer para preservar: atrizes de Pantanal contam como se apaixonaram pelo bioma

Letícia e Malu explicam a paixão despertada pelo bioma durante as gravações e destacam importância da conservação para a região

Michael Esquer ·
12 de agosto de 2022 · 2 anos atrás

Uma vive no Pantanal, a outra é da “cidade grande”. Se na obra de Benedito Ruy Barbosa, Filó e Irma pouco têm em comum, na vida real Letícia Salles e Malu Rodrigues — atrizes que interpretaram as personagens na primeira fase do remake em exibição na TV Globo — compartilham mais semelhanças do que se pode imaginar. As duas, por exemplo, nasceram no Rio de Janeiro e nunca imaginaram conhecer a maior área úmida do mundo da forma que conheceram. 

“Nunca tinha ido ao Pantanal e não imaginava que fosse conhecê-lo da forma que conheci, gravando uma novela das 21h. Foi uma experiência inenarrável, onde estive com pessoas potentes, que admiro, em meio a uma natureza bruta, poderosa que nos faz mergulhar pra dentro de nós”, disse a ((o))eco Letícia, após voltar com Malu de uma expedição de três dias na região norte do Pantanal, em Mato Grosso. A iniciativa, promovida pela Rede Pró UC e SOS Pantanal, fez parte da ação “Um Dia no Parque” e levou as atrizes, no final de julho, para conhecer três Unidades de Conservação (UCs) no bioma pantaneiro.

Ao mesmo tempo, de semelhança, as atrizes também nutrem pelo Pantanal uma grande paixão, descoberta durante as gravações da novela — experiência que também as aproximou e fez nascer dali uma amizade que ambas cultivam até hoje. “Eu e a Letícia a gente divide essa paixão pantaneira. A gente voltou de viagem na novela querendo muito voltar ao Pantanal”, contou a intérprete de Irma. “A Malu é um presente que a novela me deu”, afirmou a intérprete de Filó. 

Malu descreveu a viagem recente como a melhor da sua vida porque, diferente das gravações, desta vez o foco não foi o trabalho, mas apenas a pura e simples contemplação da natureza e do modo de vida daqueles que vivem no bioma, e dele dependem para sobreviver. “Eu nem sei descrever o que essa experiência significou para mim. Tem que ter muita coragem para fazer o que essa galera faz, para lutar e ir contra maré”.

A relação que já tinha com o meio ambiente ficou ainda mais intensa após a gravação da novela, contou Letícia. Ter dado vida à Filó, uma mulher pantaneira religiosa apegada à fé, que não teve história fácil, “foi um presente” que a carioca não esperava viver. “Eu digo que ela me escolheu pra viver esse desafio de corpo e alma. A partir disso, sinto muito mais vontade de cuidar, de proteger e de propagar isso às pessoas à minha volta”. 

Da última visita ao bioma, com a SOS Pantanal e a Rede Pró UC, Letícia revelou que levou o êxtase, proporcionado pela beleza da região. Desde a Transpantaneira (MT), Porto Jofre (MT) até a Serra do Amolar (MS), a atriz contou que a visita a cada um dos lugares foi especial, mas a observação de onças-pintadas no Parque Estadual do Encontro das Águas (MT) ganhou um lugar especial. “Foi um dos melhores momentos da minha vida. Vê-las em seu habitat natural, observando seus comportamentos e aprendendo com elas, é de emocionar”.  

Preservação do bioma

Atrizes interpretaram Irma e Filó na primeira fase do remake em exibição na TV Globo. Foto: Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal

A hospitalidade do povo pantaneiro, as belezas naturais, os cenários paradisíacos, a fauna e a flora. Esses são alguns dos fatores que fizeram as atrizes se apaixonarem pelo bioma. “Eu saí do Pantanal dizendo para todo mundo que eu queria voltar. Em toda entrevista que eu dava eu falava do meu encantamento e de como eu saí extasiada daquele pedaço de paraíso que a gente tem”, lembrou Malu sobre o sentimento ao final das suas gravações para a novela. 

Nos últimos anos, porém, a região tem sofrido alterações por conta da seca severa, como já revelou análise do MapBiomas, feita a partir de imagens de satélite. Na primeira cheia registrada na série histórica no Pantanal, a água cobria uma extensão de 5,8 milhões de hectares. Em 2018, foram  apenas 4,1 milhões de hectares. Já em 2020, essa área cobria  1,5 milhões de hectares, a menor dos últimos 36 anos.

“Deu um nó na garganta quando escutei os relatos sobre as queimadas em 2020. Acredito que quem visita o Pantanal sente isso e começa a entender a importância de preservarmos o que temos de mais lindo”, comentou Letícia ao destacar que a novela e a última viagem a fizeram perceber a importância da preservação para o Pantanal, conscientização que, ela acredita, também deveria contagiar a todos.

“Isso pode acabar. Está acabando”, também alertou Malu, sobre a biodiversidade pantaneira e as ameaças constantes que a rondam. Por esse motivo, a atriz defendeu que conhecer o bioma, através de iniciativas como a “Um Dia no Parque”, é importante para alcançar o objetivo, que é a preservação do bioma. 

“É  diferente quando você luta por uma causa desconhecida e quando você sente na pele. Certamente, eu serei uma das pessoas que sempre vai apoiar e ajudar como eu conseguir. Meu coração, parte dele fica no Pantanal hoje, parte dele, fica com essas pessoas que conheci”, comentou Rodrigues.

“Meu maior desejo é que todo mundo tivesse a oportunidade de conhecer o Pantanal, sentir o que sentimos e sair de lá transformados como nós saímos”, finalizou Salles. 

Conhecer para cuidar

Letícia e Malu com as equipes da Rede Pró UC e SOS Pantanal, que promoveram a expedição na região norte do Pantanal. Foto: Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal.

Intitulada como “Expedição Pantanal – Um dia no Parque”, a ação que levou as atrizes para conhecer o Pantanal foi promovida pela SOS Pantanal e a Rede Pró UC. Na ocasião, Letícia e Malu conheceram três modelos de UCs que atuam na preservação e equilíbrio do ecossistema da região. Foram elas: o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense (MT); o Parque Estadual do Encontro das Águas (MT); e o terceiro, a RPPN Acurizal, na Serra do Amolar (MS).

“A importância de fomentar essa visita é mostrar para as pessoas que as UCs têm um papel importantíssimo. Nessas UCs existe uma biodiversidade superconcentrada, um lugar superprotegido. A meditação, por exemplo, dos lugares onde a gente vê onça, é dentro de um parque estadual, é de unidade de conservação. Acho que esse é o objetivo dessa expedição, mostrar que as UCs estão aí, precisam ser visitadas, valorizadas e alertar para importância delas”, comentou Gustavo Figueirôa, diretor de Comunicação e Engajamento da SOS Pantanal. 

Para Angela Kuczach, diretora-executiva da Rede Pró UC, e idealizadora da iniciativa “Um Dia no Parque” no Brasil, as UCs não apenas resguardam o que há de mais importante na biodiversidade de grande parte dos biomas brasileiros, mas também o que resta deles, uma vez que a sua maioria já foi bastante explorada. Ela contou que as regiões visitadas pela expedição ao Pantanal, por exemplo, são consideradas o “coração” do bioma. 

“É no Parque Estadual do Encontro das Águas que está a maior densidade populacional de onças pintadas. É o Parque Nacional do Pantanal e as RPPNs, ali na região da Serra do Amolar, que é sítio do patrimônio natural da humanidade”, disse Angela, ao explicar a importância da reconexão com essas regiões. “Ao se conectar com a biodiversidade, as pessoas passam a entender que essas áreas são delas, que elas pertencem a cada um de nós brasileiros, e a gente tem o privilégio de ter essas áreas no nosso quintal e a responsabilidade de cuidar delas para as futuras gerações”, acrescentou. 

  • Michael Esquer

    Jornalista pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com passagem pela Universidade Distrital Francisco José de Caldas, na Colômbia, tem interesse na temática socioambiental e direitos humanos

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