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COP 28 inicia contagem regressiva para seu fim, ainda sem vislumbre de desfecho positivo

Países ainda não encontraram consenso mínimo sobre eliminação do uso de combustíveis fósseis, ponto principal dos debates. Próximos dias serão tensos

Cristiane Prizibisczki ·
8 de dezembro de 2023

Após um breve descanso, a Conferência do Clima da ONU retomou suas atividades em Dubai, nos Emirados Árabes, nesta sexta-feira (8). Restam poucos dias para o fim da Cúpula, mas, apesar dos seus avanços iniciais, o encontro não dá mostras de que os resultados esperados serão alcançados com facilidade. 

Um dos pontos principais em debate é a definição de um acordo global para o fim do uso de combustíveis fósseis. A queima de petróleo, gás e carvão é a principal causadora do aquecimento global, mas, em 28 anos de Conferências, os países membros da ONU nunca mencionaram sua eliminação nos acordos firmados até o momento.

Com o aumento da frequência e intensidade nos eventos climáticos extremos, causados pela alteração do clima da terra, o tema entrou para o centro dos debates e a expectativa era que o documento final da Cúpula deste ano incluísse essa menção.

O que se viu, até o momento, no entanto, é uma repetição das disputas entre países ricos e pobres pela forma como a citação será feita. 

Até a noite de quarta-feira – antes do recesso – o rascunho do documento, conhecido como Balanço Global de Carbono (Global Stocktake), trazia três sugestões de textos. Nesta sexta-feira, o número aumentou para cinco sugestões, entre elas a de retirar qualquer menção à eliminação dos fósseis.

“Novembro foi o sexto mês seguido de quebra de recordes de temperatura global, alerta o serviço europeu de meteorologia Copernicus. O clima está se aproximando perigosamente de seu ponto de não retorno, assim como esta COP. Anúncios impressionantes injetaram alguma energia no início da conferência, mas o rascunho do Global Stocktake (GST), o documento de fechamento para esta cúpula e que faz um balanço da ação climática até aqui, continua pobre em objetividade e ambição”, disse a organização Climainfo, sobre os desdobramentos da Cúpula.

O receio é tanto de que a COP 28 falhe em seus propósitos que mais de 1.000 líderes de várias áreas, em todo o mundo, lançaram um manifesto nesta sexta-feira cobrando que os países participantes da Cúpula e sua presidência entreguem progressos na agenda do clima. 

As decisões que serão tomadas devem estar de acordo com a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5ºC, dizem os líderes. 

A média global de aquecimento nas últimas décadas foi de 1,1ºC, mas as temperaturas atingidas em 2023 mudaram esse cenário: este ano foi o mais quente dos últimos séculos, com temperaturas 1,4ºC acima da era pré-industrial.

“Os sinais de transformação e oportunidade em todos os setores e na sociedade estão à nossa volta. Ao mesmo tempo, a emergência climática tem nos afetado mais do que nunca. Cabe a nós aproveitar esta oportunidade – porque o que for alcançado aqui no Dubai deve marcar um momento legado que determinará o destino das nossas gerações futuras”, dizem os líderes.

A 28ª Conferência do Clima da ONU acontece até o próximo dia 12. O presidente da Cúpula, Sultan Al Jaber, disse que pretende encerrar o evento às 11h deste dia, mas, considerando o andar das negociações, organizações da sociedade civil e observadores acreditam que ela deve se estender até o dia 13 ou 14.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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