A celebração de conclusão do Projeto PescaTur, apoiado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), foi um motivo a mais para reunir em Magé, no sábado (16), agentes de turismo e empreendedores desse e de outros seis municípios costeiros do entorno da Baía de Guanabara, envolvidos com ações de capacitação e outras iniciativas de articulação social, nos últimos dois anos, para estimular o Turismo de Base Comunitária (TBC). Compreendido como um movimento capaz de fortalecer o protagonismo comunitário, gerando experiências de turismo que valorizem natureza e cultura nas localidades, o TBC é reconhecido como uma vocação natural desta região, onde modos de vida e ecossistemas conservados podem fazer a diferença nos encontros entre visitantes e visitados.
Helan Nogueira da Silva, presidente da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Trama Ecológica que esteve à frente da coordenação do Projeto PescaTur, conta que essa proposta foi aprovada no edital do Funbio em 2021 e iniciada em 2022. A ideia era atender com o TBC um público de pescadores artesanais, considerando que muitos deles já trabalhavam com esse tipo de experiência, embora não conhecessem o conceito, mas acabou despertando o interesse de empreendedores de outros segmentos como gastronomia, hospedagem e artesanato. “Aqui já existia um movimento de empreendedorismo que a gente queria potencializar”, explica o coordenador, que destacou a importância de fortalecimento de uma rede de economia solidária de uma região que tem muito a oferecer em termos de experiências turísticas pensadas e geridas pelas comunidades tradicionais.
Como parte das atividades de capacitação, ele explica que, como diferencial da proposta, foram elaboradas atividades de Educação a Distância (EAD) por especialistas em TBC da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Os participantes também contaram com oficina de comunicação, ministrada pela jornalista Thereza Dantas, com enfoque em divulgação em mídias digitais para produtos e serviços dos empreendedores. As ações superaram as expectativas, já que, segundo o coordenador, tinham como meta atender a 210 participantes e atingiram 357.
Sete municípios fazem parte desse projeto que também contou com apoio técnico do Movimento Baía Viva: Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Magé, Niterói, Rio de Janeiro e São Gonçalo. Unidades de Conservação como a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapi-Mirim e a Estação Ecológica (Esec) da Guanabara asseguram a essa região ambientes naturais únicos, como a maior faixa de manguezais conservados da Baía de Guanabara. Para promover experiências de contato com a natureza e a cultura dessa região, um exemplo fica por conta da elaboração de um mapa com indicação de empreendimentos locais de turismo e economia solidária em Magé, lançado durante o último encontro.
Para Guiomar dos Santos Souza, coordenadora de Projetos da Trama Ecológica, dentre as inúmeras conquistas proporcionadas pelo projeto PescaTur se destaca a inclusão de mulheres, chefes de família, segmento com o qual trabalha, em iniciativas de empreendedorismo. “Elas começaram a participar de feiras e a interagir com outras mulheres. Esse movimento tem gerado mais motivação e criatividade”, observa. “Essa foi uma experiência educativa que valeu muito a pena”, acrescenta.
Passeio de barco para avistamento de botos-cinza
Símbolo do Rio de Janeiro, estampado no brasão da cidade, mas ainda assim ameaçado de extinção, o boto-cinza é uma espécie que pode ser avistada em áreas de manguezais bem conservados da Baía de Guanabara, onde se pode passear de barco. Prestes a se graduar em Turismo, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Jaqueline Joaquim, integrante da rede Nós da Guanabara, organizadora desse tipo de passeio, conta entusiasmada sobre como o projeto recém-concluído foi capaz de mobilizar redes em torno do TBC. Para ela, a iniciativa já sinaliza com perspectivas positivas a partir dessa prática diferenciada de promover encontros e experiências turísticas.
“Com a professora Tereza Mendonça [referência no tema] aprendi que essa outra forma de fazer turismo é possível. No começo eu achava que era utopia. Mas a partir desse projeto e de todo o envolvimento das redes que se buscou fortalecer tenho certeza de que é possível se viver disso por aqui”, afirma a futura turismóloga que durante os seus passeios pela Baía de Guanabara faz um trabalho de educação ambiental com os visitantes. “Sou muito apaixonada por esse trabalho e me identifiquei de cara com essa proposta de organização do TBC”, conclui.
Agroecologia na rota do TBC
Jandira Rocha de Oliveira, produtora rural e artesã, se orgulha do Museu Vivo da Agroecologia, localizado na Estância Eldorado, em Magé, onde em meio aos remanescentes de Mata Atlântica produz alimentos a partir de conhecimentos ancestrais e fortalece uma rede de economia solidária que envolve empreendedores da região. Lá também se pode aprender, na prática, sobre como fazer compostagem de resíduos orgânicos que abastecem suas áreas de cultivo com adubo da melhor qualidade.
Durante o encontro entre agentes de turismo e empreendedores, onde divulgava a estância como parte da rota de TBC, ela contava que sapucaia, fruta-pão, palmito-pupunha e cacau são alguns dos alimentos colhidos na propriedade, aberta à visitação turística. A oferta de hospedagem não começou, ainda, mas está nos planos da família. Para ela, esse tipo de interação focada nos diferenciais da natureza e da cultura das comunidades tem muito a contribuir para o desenvolvimento local e regional.
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Faltou o contato de pessoas ligadas a esses projetos de turismo de base comunitária.