Se de uma lado a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o cargo de presidente do Brasil representou a reconstrução da política de meio ambiente, após quatro anos de devastação fomentada pelo governo Jair Bolsonaro (PL), por outro o resultado das Eleições 2022 também simboliza a sobrevivência do bolsonarismo dentro da Amazônia. Foi entre os estados que formam a chamada Amazônia Legal que o candidato derrotado obteve as maiores votações proporcionais do país.
Foi na região onde por mais tempo permaneceram as manifestações golpistas que não aceitavam o resultado das urnas. Em estados como Acre, Rondônia e Mato Grosso, bloqueios de estradas e acampamentos em frente aos quartéis pedindo golpe militar se prolongaram até o início de de dezembro.
Foi também neles onde a Polícia Federal cumpriu grande parte dos mandados judiciais expedidos pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Alexandre de Moraes, cujo objetivo era sufocar as manifestações antidemocráticas.
Na última operação realizada pela PF, em 15 de dezembro, 32 mandados assinados por Moraes foram cumpridos em Mato Grosso, Acre, Amazonas e Rondônia contra os líderes do movimento de bloqueio das rodovias.
Outro sinal das possíveis dificuldades do governo Lula na retomada agenda ambiental dentro da Amazônia Legal foi a reeleição da maioria dos governadores bolsonaristas. Dos nove candidatos aos governos locais, apenas três (AP, PA e MA) não estavam oficialmente aliançados com o bolsonarismo. No Tocantins, o candidato à reeleição vitorioso, Wanderlei Barbosa (Republicanos), se apresentou como neutro.
Essa muralha bolsonarista que ainda se sustenta na região pode representar um dos principais desafios para a retomada da política de fiscalização e combate aos crimes ambientais na Amazônia. Com muitos grupos de criminosos ambientais tendo acesso facilitado às armas durante o governo Bolsonaro, não está descartada a possibilidade de confrontos durante as operações.
O afrouxamento e, em muitos casos, até o fim das fiscalizações de órgãos como Ibama e ICMBio, é um dos principais fatores de popularidade de Jair Bolsonaro na região, sobretudo nas áreas rurais. Atividades criminosas como garimpo, grilagem e extração ilegal de madeira foram as principais beneficiadas pela política anti-ambiental bolsonarista.
Não por acaso, o desmatamento registrado no ano eleitoral de 2022 se apresenta como um dos maiores nas análises de satélite. De acordo com o mais recente Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a área derrubada no bioma, entre janeiro e novembro, é de 10.286 km2. O pior resultado para o período analisado dos últimos 15 anos.
Ao assumir o controle do Palácio do Planalto a partir de primeiro de janeiro de 2023, Lula vai enfrentar não apenas o desafio de combater o crime ambiental – que se organizou com bastante proeza durante os quatro anos de Bolsonaro – como também um ambiente político desfavorável, ante um bolsonarismo ainda muito resistente.
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