Manaus – Tartarugas da Amazônia (Pocdemis expansa) usam vocalizações para se comunicar, capacidade é fundamental na interação no interior dos grupos entre fêmeas e filhotes da espécie. A comunicação entre estes quelônios era desconhecida, mas uma pesquina desenvolvida pelo biólogo Richard Carl Vogt, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ainda não publicado, descreveu pelo menos 7 tipos diferentes de vocalizações emitidas por estas grandes tartarugas.
“Todo mundo pesquisou tartaruga por mais de 50 anos, mas nunca fizeram silêncio para escutá-las”, afirma Richard Vogt. “Eu me perguntava, como elas sabem a hora de subir todas juntas para sair da água?”, conta. “Agora sabemos que, de alguma forma, estão dizendo ‘vamos tomar sol”, brinca o pesquisador. De acordo com ele, as tartarugas da Amazônia estão entre os quelônios mais sociáveis, e isto contribui para o estudo das vocalizações.
Vogt e a equipe de pesquisadores receberam financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e gravaram sons emitidos pelas tartarugas em laboratório, cativeiro e na natureza. Os estudos duraram dois anos, mas nem todos as conclusões foram divulgadas. A equipe vai submeter um artigo com os resultados do estudo a revistas científicas internacionais.
Os sons emitidos pelas tartarugas são capazes de atravessar barreiras como a água e a areia. E os filhotes de tartaruga já nascem aos berros, emitem sons quando ainda estão enterrados na areia. Para o herptólogo, estes primeiros sons sevem para coordenar a descida das tartaruguinhas até a água, onde são aguardadas pelas mães. “Gravamos sons de filhotes seguindo as mães e das mães na água”, conta Vogt.
Segundo ele, tartaguras pequenas emitem quatro tipos de sons diferentes. Alguns com a freqüência de 48 kilohertz e duração entre 0,1 e 0,18 segundos. Outros, com um intervalo de freqüências bem maior, entre 40 hertz e 6 kilhohertz, e duração entre 37 e 39 segundos. São sons suaves e pouco perceptíveis.
A descoberta deve contribuir para mudanças no sistema de manejo usado hoje para proteger as tartarugas da Amazônia, em que os filhotes são retirados da praia e soltos em lagos protegidos de predadores. Esta mudança de ambiente separa mães e filhotes, que ficam então isolados e entregues à própria sorte na natureza. “Podemos usar também sons para atrair as tartarugas para tabuleiros (praias de areia nos rios onde é realizada a desova) protegidos, e afastá-las de áreas de risco”, vislumbra o pesquisador, que colabora também com os programas de preservação da espécie na Amazônia. (Vandré Fonseca)
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