Salada Verde

“Vamos tomar sol”, diz a tartaruga

Pesquisador descobre que quelônios da Amazônia emitem pelo menos 7 tipos de som, essenciais para comunicação entre mães e filhotes.

Salada Verde ·
24 de junho de 2010 · 15 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente
 Tartaruga da Amazônia.(foto:Rômulo Alves)
Tartaruga da Amazônia.(foto:Rômulo Alves)

Manaus – Tartarugas da Amazônia (Pocdemis expansa) usam vocalizações para se comunicar, capacidade é fundamental na interação no interior dos grupos entre fêmeas e filhotes da espécie. A comunicação entre estes quelônios era desconhecida, mas uma pesquina desenvolvida pelo biólogo Richard Carl Vogt, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ainda não publicado, descreveu pelo menos 7 tipos diferentes de vocalizações emitidas por estas grandes tartarugas.

“Todo mundo pesquisou tartaruga por mais de 50 anos, mas nunca fizeram silêncio para escutá-las”, afirma Richard Vogt. “Eu me perguntava, como elas sabem a hora de subir todas juntas para sair da água?”, conta. “Agora sabemos que, de alguma forma, estão dizendo ‘vamos tomar sol”, brinca o pesquisador. De acordo com ele, as tartarugas da Amazônia estão entre os quelônios mais sociáveis, e isto contribui para o estudo das vocalizações.

Vogt e a equipe de pesquisadores receberam financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e gravaram sons emitidos pelas tartarugas em laboratório, cativeiro e na natureza. Os estudos duraram dois anos, mas nem todos as conclusões foram divulgadas. A equipe vai submeter um artigo com os resultados do estudo a revistas científicas internacionais.

Os sons emitidos pelas tartarugas são capazes de atravessar barreiras como a água e a areia. E os filhotes de tartaruga já nascem aos berros, emitem sons quando ainda estão enterrados na areia. Para o herptólogo, estes primeiros sons sevem para coordenar a descida das tartaruguinhas até a água, onde são aguardadas pelas mães. “Gravamos sons de filhotes seguindo as mães e das mães na água”, conta Vogt.

Segundo ele, tartaguras pequenas emitem quatro tipos de sons diferentes. Alguns com a freqüência de 48 kilohertz e duração entre 0,1 e 0,18 segundos. Outros, com um intervalo de freqüências bem maior, entre 40 hertz e 6 kilhohertz, e duração entre 37 e 39 segundos. São sons suaves e pouco perceptíveis.

A descoberta deve contribuir para mudanças no sistema de manejo usado hoje para proteger as tartarugas da Amazônia, em que os filhotes são retirados da praia e soltos em lagos protegidos de predadores. Esta mudança de ambiente separa mães e filhotes, que ficam então isolados e entregues à própria sorte na natureza. “Podemos usar também sons para atrair as tartarugas para tabuleiros (praias de areia nos rios onde é realizada a desova) protegidos, e afastá-las de áreas de risco”, vislumbra o pesquisador, que colabora também com os programas de preservação da espécie na Amazônia. (Vandré Fonseca)

Leia também

Caatinga arbórea na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Serra das Almas, em Crateús, no Ceará. Foto: Michael Esquer
Análises
9 de maio de 2025

Caatinga: o bioma quase esquecido que resiste com ciência, conservação e esperança

As iniciativas de conservação, a produção constante de pesquisas científicas e o envolvimento cada vez maior da sociedade oferecem novas perspectivas para a Caatinga

Notícias
9 de maio de 2025

Após pressão, Helder Barbalho pede fim dos embargos em Altamira

Governador do Pará leva comitiva a Brasilia para pedir que governo federal libere as 544 propriedades com ilícitos ambientais embargadas pelo MMA em Altamira

Notícias
9 de maio de 2025

Em carta, presidência da COP30 fala em “preparar-se para o imponderável”

Na segunda carta à comunidade internacional, André Corrêa do Lago fala de metas autodeterminadas. Sociedade civil critica ausência de menção ao fim dos fósseis

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.