Salada Verde

Câmara afrouxa rotulagem de transgênicos

Nos produtos com transgênicos foi abolido o símbolo "T" e nem todos precisarão de rotulagem. Ônus aumenta para produtos livres de transgênicos.

Daniele Bragança ·
30 de abril de 2015 · 11 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

Autor da proposta, o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS) apresenta a proposta no plenário da Câmara. Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados.
Autor da proposta, o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS) apresenta a proposta no plenário da Câmara. Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados.

A Câmara aprovou por 320 votos a 135 o projeto do deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS) que exclui o símbolo de transgênico das embalagens — aquele famoso T em preto dentro de um triângulo amarelo.  O projeto seguirá para o Senado e revoga o Decreto 4.680/03, que regulamenta o assunto.

Além do símbolo eliminado, os deputados aprovaram que apenas produtos que apresentem mais de 1% de composição final transgênica deverão ter um alerta explícito na embalagem no formato “(nome do produto) transgênico” ou “contém (nome do ingrediente) transgênico”. Hoje, não importa o percentual, qualquer produto que contenha substância transgênica precisa deixar isto claro na embalagem.

A dificuldade para encontrar essa informação também aumenta com a nova lei, pois estará escrita em letras minúsculas de 1 milímetro no rótulo da embalagem. Este é o tamanho mínimo de letra definido pelo Regulamento Técnico de Rotulagem Geral de Alimentos Embalados.

Atualmente, na área da embalagem que lista os ingredientes do produto, a legislação exige não só o símbolo “T” na embalagem como detalhes por extenso sobre a espécie de transgênico utilizada. Nesta nova lei, a exigência cai.

O projeto acabou com o símbolo de transgênicos, mas os alimentos que não contêm organismos geneticamente modificados poderão usar a rotulagem “produto livre de transgênicos”, desde que comprovada por meio de análise técnica específica. Essa exigência cria um ônus, pois esse produtores terão de pagar a análise, que é cara, para poder usar essa rotulagem. O custo dificultará a vida dos agricultores familiares que usam sementes não transgênicas.

“Acho que o Brasil pode adotar a legislação como outros países do mundo. O transgênico é um produto seguro”, afirmou o autor da proposta, Luiz Carlos Heinze. Segundo ele, não existe informação sobre transgênicos nas regras de rotulagem estabelecidas no Mercosul, na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e na Organização das Nações Unidas (ONU).

Para o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), o projeto de lei cassa, na prática, o direito de o consumidor saber se há ou não transgênicos. “É correto sonegar ao consumidor essa informação? Está certo tirar o direito de saber se tem ou não transgênicos?”, questionou.

Mesmo com protestos e discursos contrários, o projeto foi aprovado por ampla maioria. Agora, ele deverá passar para o Senado, casa onde desde 2007 tramitava até o ano passado um projeto parecido da senadora licenciada Kátia Abreu (PMDB-TO), atual ministra da Agricultura. O Projeto de Decreto Legislativo (PDS 90/2007) de Abreu foi arquivado no final de 2014. Como Kátia Abreu virou ministra e não voltou ao Senado, o projeto permanecerá arquivado até que ela saia do governo e retorne ao Legislativo.

 

 

Leia Também
Kátia Abreu quer excluir símbolo de alerta transgênico
O que são Alimentos Transgênicos
The Nature Conservancy vai cultivar milho transgênico?

 

 

 

  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

Leia também

Notícias
19 de dezembro de 2025

STF derruba Marco Temporal, mas abre nova disputa sobre o futuro das Terras Indígenas

Análise mostra que, apesar da maioria contra a tese, votos introduzem condicionantes que preocupam povos indígenas e especialistas

Análises
19 de dezembro de 2025

Setor madeireiro do Amazonas cresce à sombra do desmatamento ilegal 

Falhas na fiscalização, ausência de governança e brechas abrem caminho para que madeira de desmate entre na cadeia de produção

Reportagens
19 de dezembro de 2025

Um novo sapinho aquece debates para criação de parque nacional

Nomeado com referência ao presidente Lula, o anfíbio é a 45ª espécie de um gênero exclusivo da Mata Atlântica brasileira

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.