No dia em que o presidente Jair Bolsonaro vetou o projeto de lei que alteraria formalmente o nome do “Dia do Índio” para “Dia dos Povos Indígenas”, 50 cidades brasileiras amanheceram decoradas com a figura do cacique Raoni Metuktire, um dos poucos ícones vivos de sua geração na luta pelos direitos indígenas e pela preservação ambiental e único indígena brasileiro indicado ao Prêmio Nobel da Paz.
A iniciativa é de 20 organizações da sociedade civil. Entre hoje (2) e o próximo dia 5, quando é comemorado o Dia do Meio Ambiente, lambes de 5 metros quadrados com artes mostrando o líder mebêngôkre serão instalados em cidades brasileiras, incluindo 24 capitais. Também estão previstas a criação de murais e projeções sobre o líder indígena.
“Homenagear Raoni nos 50 anos do Dia do Meio Ambiente é uma forma de fazer com que as novas gerações conheçam este símbolo vivo da paz e do diálogo. Em tempos de tanta intolerância e radicalismo, a lembrança de Raoni é sopro de esperança para todos nós”, diz Jonaya de Castro, gerente do projeto Megafone, um dos organizadores da ação.
Raoni Metuktire
O cacique Raoni nasceu em Mato Grosso, na aldeia Metuktire, localizada na Terra Indígena Capoto-Jarina. Sua idade é incerta, mas acredita-se que ele tenha hoje 91 anos. Durante sua vida, Raoni foi protagonista em diversas lutas em favor dos povos indígenas e da Amazônia, incluindo a criação do Parque Indígena do Xingu.
A partir de 2000, o cacique também lutou ativamente contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Afastado da cena pública desde então, o cacique voltou em 2019, 30 anos após a viagem que realizou com o cantor Sting para divulgar a mensagem de preservação das florestas.
Em seu retorno, ele percorreu países da Europa em busca de apoio pela preservação da floresta amazônica, tendo se encontrado com diversos políticos e personalidades.
O presidente Bolsonaro reagiu ao retorno de Raoni em seu discurso na ONU em 2019, dizendo que o cacique é usado como “peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”.
Ao vetar a mudança do nome do Dia do Índio para Dia dos Povos Indígenas, nesta quinta-feira, Bolsonaro argumentou que “não há interesse público na alteração”.
A mudança do nome é uma reivindicação dos povos indígenas, que consideram o termo “indio” pejorativo, por evocar um estereótipo presente durante o período colonial no Brasil.
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