Um dos mistérios do agro é o nome do candidato à presidência da República apoiado pelo ex-ministro e mega empresário da soja, Blairo Maggi.
O voto secreto de Blairo não seria problema algum, porém, o peso de sua escolha tende a influenciar (muito) a futura política ambiental nacional. O passado recente mostra que foi assim e poderá vir a ser.
Dançando pra lá e pra cá desde 2018, o dono da fazenda onde estão as nascentes do rio Paraguai, maior produtor individual de soja do mundo e integrante de um império bilionário familiar que comanda portos em rios Amazônicos não indicou ainda se vai de Lula, Bolsonaro ou terceira via.
Mas, a sua relação histórica com o candidato petista é do tipo “amor antigo”. O empresário governou Mato Grosso entre 2003 e 2010, e neste período, foi duas vezes condecorado pelo presidente Lula, sendo admitido pelo mesmo ao grau de Grande-Oficial especial respectivamente da Ordem do Mérito Aeronáutico e da Ordem do Mérito Militar.
Coincidentemente, foi também nesta época que o Brasil registrou o segundo maior índice de desmatamento da história, sendo Mato Grosso o campeão das derrubadas. Isso custou ao planeta 26.130 quilômetros quadrados de floresta, um Alagoas inteiro de matas, e muitas toneladas de CO2 emitidos.
A ligação de Maggi com a situação foi traçada pelas ongs à época. Participando da base de sustentação política de Lula, o Greenpeace o elegeu “o rei do desmatamento” e lhe concedeu o prêmio Motosserra de Ouro em 2005.
Polêmica à parte, Maggi sempre soube negociar o seu apoio. Já eleito ao Senado Federal chegou a fazer um discurso em plenário onde dizia que Lula era o melhor para o país. Mas, o discurso custou a promessa de 1 bilhão de reais para o agronegócio, o asfaltamento da BR-163, da BR-158 e a construção de usinas e linhões para melhorar o fornecimento de energia elétrica em municípios do Norte do estado.
Região onde o Consórcio Juruena Participações S/A construiu uma série de oito Pequenas Centrais Elétricas das quais a família Maggi figura como acionista no sistema Polímero de dados da Aneel. O projeto afetou inúmeras terras indígenas e o meio ambiente em um dos principais rios da Bacia do Alto Tapajós.
A passagem de Maggi pelo Congresso também deixou heranças controversas para o meio ambiente. Ele foi autor de um Projeto de Lei 750/2011, ou Lei do Pantanal, que pretendia retirar todos os ribeirinhos dos rios do Pantanal durante cinco anos.
Também foi presidente da comissão de meio ambiente e indicou o amigo de juventude, Luiz Antônio Pagot, para diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) em 2007. Pagot acabou afastado por Dilma Rousseff em 2011 após inúmeras denúncias de corrupção.
Em 2016, Blairo participou do movimento do Impeachment da presidente rompendo com anos de apoio ao governo petista. O então senador chegou a discursar sobre o tema.
“Politicamente tenho muitos colegas que não apoiaram a presidente Dilma. Eu apoiei. Pedi voto. Fiz [isso] em nome dos meus projetos e, assim como muita gente se sente enganada, eu me sinto enganado. Eu fui derrotado”, afirmou no Congresso Nacional.
A saída de Dilma rendeu novos acordos. Do Senado, Blairo tornou-se o ministro da agricultura do presidente Michel Temer (MBD). Foi nessa época que outro escândalo rondou os holofotes nacionais, a Operação Carne Fraca que desmantelou a falta de fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em uma série de frigoríficos irregulares.
Blairo acabou se desgastando com o escândalo que repercutiu em jornais internacionais. Antes de sair de cena, em 2018, fez questão de declarar o seu voto ao atual presidente Jair Bolsonaro.
Entre 2018 e 2022, Blairo se isolou para cuidar dos negócios bilionários da família. Mas, a gestão ambiental do grupo parece ainda ter algumas pedras no caminho. Em 2021, o Ministério Público Estadual (MPE) instaurou procedimento administrativo para acompanhar o cumprimento de um acordo de compensação ambiental entre a Agropecuária Maggi Ltda e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).
Documentos do MPE mostram que desde 2006 a Fazenda Ponte de Pedra, em Rondonópolis, tem desrespeitado Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal.
De volta à cena política, a agenda do empresário segue clara, a ampliação e a manutenção do agronegócio exportador. Mas, suas intenções de voto ainda são incertas.
Na porta da casa de sua irmã, em Rondonópolis, uma faixa fixada desde o início de agosto indica: A família Maggi apoia o Presidente Jair Bolsonaro. Porém, o último ato de Blairo, antes de tirar férias com sua família na Europa, foi assinar o Manifesto pela Democracia, em uma clara afronta a Jair Bolsonaro.
Enquanto não declara o seu voto, o nome de Maggi segue em via de mão dupla. Uma continua como grande apoiador da reeleição do governador Mauro Mendes (UB), um dos políticos brasileiros mais ligados a Jair Bolsonaro.
E em outra mão, Maggi pede apoio para o seu candidato do coração, o deputado federal Neri Geller (PP), ao Senado. Neri, que também foi ministro da Agricultura da gestão Dilma Roussef (2015), deve subir ao palanque com Lula após intensas negociações nas bases regionais mato-grossenses.
“O Agro é fundamental no combate à desigualdade. Com a sua ajuda e com a força do presidente Lula, a gente vai virar esse jogo. Vamo que vamo. O agro é pra todos. Mato Grosso é para todos”, disse Maggi em um áudio gravado durante sua viagem após anúncio oficial da candidatura de Neri Geller.
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