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Servidores do INPE repudiam tentativa do governo de excluir instituto da “requalificação” do desmatamento

Na última semana, governo criou “Câmara Consultiva” para qualificar o que pode ou ser ser enquadrado como desmatamento e queimada. INPE não está no grupo

Cristiane Prizibisczki ·
6 de junho de 2022 · 3 anos atrás
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O sindicato dos servidores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (SindCT) publicou nesta segunda-feira (6) uma nota de repúdio contra o que eles chamaram de “mais um ataque do governo Bolsonaro” ao órgão. 

O sindicato faz referência a uma resolução do Governo Federal publicada na última quinta-feira (2) que cria uma “Câmara Consultiva Temática” para “qualificar os dados de desmatamento e incêndios a fim de diferenciar crimes ambientais de outras atividades, utilizando bases de dados oficiais já existentes”. A notícia foi publicada pelo Estadão.

Apesar de, desde a década de 1980, o monitoramento e qualificação de dados do desmatamento e queimadas ser feito pelo INPE, o órgão não foi incluído na formação da Câmara, nem tampouco um representante da pasta ao qual é vinculado, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). 

Segundo a resolução, apenas membros dos Ministérios do Meio Ambiente, Agricultura, Defesa, Economia e Justiça farão parte do grupo.

“A comunidade científica nacional e no exterior se posiciona para denunciar mais este absurdo. Conclamamos todos os servidores do INPE e a sociedade para que se manifestem em repúdio à tentativa de retirar competências de quem, nos seus mais de 60 anos de existência, só mostrou competência”, diz a nota do sindicato.

Histórico de ataques

Desde o início do governo Bolsonaro, os dados do INPE têm sido questionados por membros do governo e pelo próprio presidente. As acusações – nunca comprovadas – de que os dados gerados pelo Instituto eram “mentirosos” e “imprecisos” levaram a uma crise entre o órgão e o governo Federal, que culminou na exoneração do então diretor, Ricardo Galvão, e em uma reformulação interna do órgão.

O vice-presidente, por sua vez, já “verificou” pessoalmente que não existem queimadas na Amazônia e que os focos detectados podem ser pedras quentes.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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