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Carnívoros do Iguaçu: conquistas das duas primeiras semanas

Aprendi mais sobre a onça-pintada e vi a importância das pesquisas que, no Brasil, só seguem graças a pesquisadores dedicados e abnegados.

Adriano Gambarini ·
23 de março de 2015 · 10 anos atrás
Fim de tarde iluminado nas Cataratas do Iguaçu. Fotos: Adriano Gambarini
Fim de tarde iluminado nas Cataratas do Iguaçu. Fotos: Adriano Gambarini

Depois de alguns dias de ausência, retomo para finalizar a divulgação deste grande projeto no sul do país. Acabei me dividindo entre a campanha de captura e participação no 39º Congresso de Zoológicos e Aquários do Brasil. Fui convidado para ministrar uma palestra e mini-curso sobre fotografia e conservação. Enfim, dias cansativos mas de um enorme retorno humano e conservacionista.

Durante todos estes dias não tivemos sucesso na captura de nosso maior objetivo: a onça-pintada, que deu o ar da graça a vários turistas alguns dias antes de iniciarmos a campanha. Na realidade, seu desaparecimento da região tem a ver com um comportamento natural das onças, de caminhar por todo seu território e depois retornar em algum momento para a mesma área inicial, no caso, onde trabalhamos. Só para vocês terem uma ideia da probabilidade de uma onça-pintada pisar e desarmar a armadilha: o diâmetro da área do laço em relação à área total do parque é equivalente a 0,0003%. Atribua o fato de que estima-se haver apenas 18 onças habitando os 185 mil hectares do parque. Definitivamente, um laço é como uma agulha num palheiro, uma moeda num estádio de futebol.

Mas nem por isto houve qualquer desânimo da equipe, que perdeu longos períodos de sono para checar os laços durante a madrugada, manter “a peteca” do bom humor no ar, um grupo solidário e parceiro durante todo tempo. Aliás, digo que o sucesso de um trabalho de campo depende quase que exclusivamente do bom humor e disposição da equipe.

Nestes 12 dias de campo pude documentar uma Mata Atlântica intacta e uma fauna diversificada que vive no Parque Nacional do Iguaçu. Uma Unidade de Conservação cuja estrutura turística é digna de países desenvolvidos, que percebem a importância de um Parque Nacional como área primordial para conservação da biodiversidade, e cujos atrativos turísticos possuem alto valor econômico e educativo.

Aproveitamos ainda para fazer um sobrevoo em busca do sinal do colar de um puma que a equipe capturou em novembro de 2014, um jovem adulto macho. Na ocasião estavam atrás de outro macho, claramente dominante da área, e que passava com frequência. (Vejam abaixo o vídeo de dias atrás, quando o puma passou por cima do laço e não o ativou). Os pesquisadores ficaram surpresos com a captura do outro macho jovem, mas logo imaginaram que ele não ficaria por ali. Dito e feito. Dezoito dias após a captura, encontraram seu sinal numa outra trilha, distante dali. Agora, no sobrevoo, Marina escutou o sinal do colar bem longe do local da captura, e infelizmente com ‘bip’ de mortalidade. A equipe fará uma força tarefa para chegar a pé na área localizada durante o sobrevoo.

Video

Aprendi um pouco mais sobre a onça-pintada e diversas descobertas de Marina e sua equipe em mais de 5 anos de trabalho na região; e a despeito da opinião de alguns leitores, eu acredito que pesquisa nunca é demais, principalmente num país que pouco investe em educação. O trabalho de campo, no Brasil, só existe pela determinação de pesquisadores abnegados.

Finalmente, documentei a exuberância de uma cascata descomunal, cuja força e grandiosidade certamente acalenta os pensamentos e corações disparados daqueles que se veem defronte a sua beleza.

PS: Dedico estes artigos a todos os pesquisadores de campo, que entregam suas vidas pelo bem maior da conservação, e ao jornalista Marcos Sá Corrêa, alma e mente brilhantes, idealizador de O Eco, criador de pensamentos absolutamente coerentes e que adotou o Parque Nacional do Iguaçu como uma moradia.

 

 

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  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

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