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Surfistas sem praia

Longe do mar, os brasilienses praticam o surf sem nenhum complexo. Esporte ecológico e só para ricos, o kitesurf é a nova onda nas águas do lago Paranoá.

Isabel Heringer · Carolina Mourão ·
13 de maio de 2005 · 19 anos atrás

Surf no meio do planalto central? Mais que isso. No lago Paranoá, em Brasília, a prática do surf evoluiu e ganhou novos adeptos. O kitesurf, ou flysurf, é uma mistura de surf, vôo livre, windsurf com wakeboard que não agride o meio ambiente. Em boa parte das manobras, o equipamento sequer toca a água. Em Brasília, o esporte chegou há dois anos e meio e já são mais de 40 pessoas que deslizam sobre o lago numa prancha sendo puxados por uma pipa.

As primeiras tentativas de usar um kite (pipa em inglês) para surfar aconteceram no final da década de 70. No início dos anos 90 o esporte ganhou força. No Brasil, a primeira vez que se viu o kitesurf foi com um francês em Florianópolis, no verão de 1996. No Rio de Janeiro, em pouco mais de três anos o esporte triplicou o número de praticantes. São 60 filiados à associação e outros 80 considerados praticantes de fim de semana. Estima-se em cerca de mil o número de kitesurfers no Brasil, na faixa dos 20 aos 40 anos.

Para o presidente da Associação Brasileira de Kitesurf (ABK), José Carlos Guimarães, o que mais atrai no esporte é a mistura de várias modalidades radicais. E o aprendizado não é difícil. Ele garante que com dois meses de aula já é possível aproveitar o máximo do esporte. “Mesmo quem nunca subiu em uma prancha não encontra dificuldades para o kite”, atesta João Henrique, instrutor do esporte em Brasília.

Mesmo longe do mar, o esporte é salgado. Para começar a praticar, é preciso alugar ou comprar o equipamento, basicamente composto por prancha, pipa, linhas de vôo e barra de controle, que custa entre mil e 3 mil dólares. As pranchas são como as do surf, com alças para prender os pés, wakeboard ou prancha bidirecional (que anda para os dois lados). A pipa tem um formato de asa em arco, o que facilita o controle da sua trajetória, e é feita com o mesmo material dos pára-quedas.

Uma barra de controle dá direção ao kite. É ela que permite o controle da potência da pipa no ar. As linhas de vôo que conectam o kite na barra medem de 20 a 40 metros, dependendo da modalidade praticada. “Quanto mais forte o vento, menor o tamanho da corda”, aconselha o instrutor João Henrique.

Em Brasília, a melhor época para praticar o esporte começa em breve: vai de junho a setembro. Mas antes de desligar o computador e sair correndo para se arriscar no esporte é importantíssimo fazer um curso de kite com um instrutor qualificado. Segundo João Henrique, uma manobra mal-sucedida pode machucar. “O vento forte transforma o praticante em um chicote humano, por isso ele deve pelo menos fazer o curso básico para evitar acidentes”. Segundo João, o impacto na água pode ser equivalente ao chão, dependendo da altura que se atinge. “Um italiano no Rio Grande do Norte morreu porque tentou se aventurar sem o mínimo de orientação”, acrescentou.

No lago Paranoá, nos finais de semana, é evidente a presença de aprendizes de kitesurf. Os lugares mais adequados são a península dos ministros no Lago Sul e alguns pontos da península do Lago Norte, onde podem ser encontrados os profissionais da área. As aulas envolvem fundamentos básicos, manuseio do equipamento, técnicas de velejo e procedimentos de segurança. “O bom de Brasília é a largura entre as duas margens, que permite todo tipo de manobra. E não tem correnteza. Na praia a gente corre o risco de ir parar no alto mar. A lagoa Formosa, distante 70 quilômetros de Brasília, é outro lugar incrível”, conclui o instrutor.

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