Reportagens

Em Mato Grosso do Sul, Capitão Contar segue bolsonarismo ao tratar do meio ambiente

Candidato ao governo do Mato Grosso do Sul busca se apresentar como o “mais bolsonarista” para eleger

Gabriel Tussini ·
28 de outubro de 2022 · 2 anos atrás

Com crescimento na reta final e apoio inesperado do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o último debate presidencial do primeiro turno, na TV Globo – o então candidato “oficial” do bolsonarismo era Eduardo Riedel (PSDB) –, Capitão Contar (PRTB) chega ao segundo turno justamente contra Riedel, formando um embate entre candidatos bolsonaristas pelo governo de Mato Grosso do Sul. Com pesquisas chegando a apontar um empate entre ambos, a disputa está indefinida.

Em seu plano de governo, composto por 62 páginas, o capitão reformado do Exército aborda temáticas ambientais em diversos eixos, mas com pouco detalhamento (o que se repete por todo o plano). A parte específica sobre meio ambiente é a que tem menos espaço no documento, empatada com as seções de “Inovação na Administração”, “Mulher” e “Pessoa com Deficiência, PcDs e Transtornos Globais de Desenvolvimento”, todas com duas páginas, sendo uma de apresentação.

O documento, que logo nas primeiras páginas diz que “seguimos os princípios e valores defendidos pelo Presidente Bolsonaro em seu programa de governo”, demonstra alinhamento ao bolsonarismo também no meio ambiente. Contar cita em diversos pontos sua disposição em fomentar o agronegócio, inclusive com redução dos “custos de controles e fiscalização do Estado” a todo tipo de empresas, “acabando com abusos de apreensões arbitrárias”, sem explicar de que tipo seriam. Há ainda menção, entre as propostas ambientais, a uma “modernização” do sistema de emissão de licenciamento e autorizações. Ainda na apresentação, o plano diz que o Brasil é o “celeiro do mundo”, e que MS é um dos “principais estados que vão abastecer mercados mundiais”.

O candidato fala em implementar uma política de compras de produtos da agricultura familiar pelo Estado, incentivar as cooperativas de pequenos produtores e propiciar a “viabilização econômica das pequenas propriedades, com implementos, insumos e acompanhamento técnico até o escoamento da produção”. Ainda na área econômica, o documento promete ainda incentivar o desenvolvimento da indústria da economia circular.

O plano fala ainda em incentivar o uso de energias renováveis, citando a fotovoltaica, para transformar o estado em um “território com autossuficiência energética sustentável”. Há também a promessa de universalizar os serviços de água e saneamento, em parceria com municípios, como forma também de melhorar indicadores de saúde e preservar mananciais, que sofrem com o despejo de esgoto sem tratamento.

Na seção sobre meio ambiente, o documento promete que o estado se transformará numa “referência” no combate à poluição, ao desmatamento ilegal e no “incentivo à conservação das riquezas naturais e da biodiversidade, aliando essas práticas ao desenvolvimento socioeconômico”. Logo em seguida, o plano diz também que o “projeto de sustentabilidade” será “adotado de maneira consensual entre o setor produtivo, sociedade civil e instituições ambientais”. A agropecuária sul-mato-grossense, porém, é responsável por quase 97% do desmatamento do estado em 2021, que está em alta de 45% em comparação com o ano anterior, segundo estudo do projeto MapBiomas. Com essa disposição para desmatar, é difícil imaginar como seria um “projeto de sustentabilidade” construído com o consenso do setor produtivo do estado.

O plano fala também em “apoiar” o mercado de créditos de carbono e incentivar “a pesquisa e desenvolvimento com nióbio, grafeno e sílica” – outro ponto de alinhamento com Bolsonaro. O candidato do PRTB diz ainda que ampliará ações de combate ao desmatamento ilegal e às queimadas, grande problema nos últimos anos, especialmente no Pantanal. O bioma, porém, só é citado na seção de Turismo do documento, sendo tratado como “uma área de atratividade única, e que deve receber do Governo do Estado o tratamento que merece na divulgação de suas potencialidades”. A falta de propostas mais robustas sobre a proteção ao Pantanal tem sido tendência entre os candidatos a governador do estado.

Contar promete “investir fortemente no turismo ecológico e sustentável”, integradas a ações de preservação ambiental, e fomentar o crescimento do esporte de aventura no estado. Segundo o documento, o Mato Grosso do Sul tem “um potencial internacional extraordinário” para o turismo ecológico, de aventura e de observação de aves.

Na área de habitação, o candidato promete também construir “moradias dignas e sustentáveis”, com geração de energia fotovoltaica própria e aproveitamento da água da chuva. O plano fala ainda em ampliar o programa de títulos de propriedades rurais, em parceria com o governo federal, mas sem estabelecer critérios e medidas de prevenção à grilagem, por exemplo.

Buscando desde o início da campanha se mostrar como o candidato mais bolsonarista entre os bolsonaristas, mesmo antes de ser apoiado por Bolsonaro, o também ex-militar promete ser um representante do atual presidente no Mato Grosso do Sul – mesmo que seu aliado nacional perca a reeleição, cenário apontado pelas pesquisas até aqui. 

A reportagem de ((o))eco tentou ouvir o candidato, mas este não respondeu até o fechamento. O espaço segue aberto.

  • Gabriel Tussini

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

Leia também

Reportagens
22 de setembro de 2022

Pantanal é tratado de forma genérica em planos de candidatos a governador

Em MS, maior parte dos candidatos cita o bioma, mas ainda apresentam propostas genéricas. No MT, Pantanal não consta em nenhum dos projetos dos candidatos

Notícias
29 de setembro de 2021

Com cheias cada vez menores, Pantanal teve ano mais seco dos últimos 36 anos

Levantamento mostra como a maior planície úmida do planeta tem se tornado cada vez mais seca. Em 2020, áreas úmidas tiveram a menor cobertura dos últimos 36 anos no bioma

Reportagens
19 de julho de 2022

Chegada da soja amplia pressões sobre o Pantanal

Novas tecnologias de produção, mudanças climáticas e ambientais podem favorecer o avanço das lavouras, que hoje ocupam ao menos 600 hectares

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.