A mudança climática é um tema que passou a fazer parte do dia a dia das pessoas. Antes de planejar uma viagem ou até mesmo ao sair de casa para trabalhar, ouvir os conselhos dos meteorologistas tornou-se tão importante quanto verificar a situação do trânsito. Ninguém quer ser surpreendido, no meio do dia, com vendavais, alagamentos, quedas de árvores, declínio inesperado da temperatura ou tempestades de areia.
Consultar a previsão do tempo deixou de ser mera curiosidade para se tornar uma importante precaução diária. A pesquisa inédita “Natureza e Cidades: a relação dos brasileiros com as mudanças climáticas” revela que 64% dos brasileiros sentem medo diante da previsão de chuvas fortes e 76% se sentem impotentes frente às tempestades ou alagamentos. A pesquisa revelou também que 69% da população, equivalente a 102 milhões de pessoas, já foram afetados ou conhecem alguém que foi afetado por algum evento climático extremo.
Outro dado revela que 65% dos entrevistados já registraram perdas financeiras, de quase R$ 8,5 mil em média, em decorrência de fenômenos como tempestades, alagamentos, vendavais, deslizamentos, secas, entre outros eventos causados pelas mudanças do clima.
Chama atenção também a informação que 65% dos brasileiros já sabem que previsão do tempo e mudança do clima são coisas diferentes: o primeiro está relacionado às condições atmosféricas momentâneas de um local, enquanto o clima significa uma tendência de alterações permanentes em uma região.
Realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em cooperação com a Unesco no Brasil e apoio da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente (ANAMMA), o estudo se mostra bastante relevante principalmente diante da mobilização global gerada pela 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 28, que aconteceu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no final de 2023.
O levantamento sobre a relação dos brasileiros com as mudanças climáticas permite identificar que a sensibilidade da população vai além do medo e da insegurança ambiental.
A pesquisa identificou ainda que 87% dos respondentes têm disposição a mudar seus hábitos em benefício do meio ambiente e do clima – 44% se dizem muito dispostos e 43% afirmam estar dispostos. A população se mostra sensível à Soluções Baseadas na Natureza (SBN), que têm o objetivo de potencializar a criação de cidades mais sustentáveis e resilientes, visando conter as atuais taxas de perda da biodiversidade e degradação dos ecossistemas.
Segundo o estudo, existe uma enorme aceitação dos brasileiros à adoção de medidas simples, como ruas mais arborizadas (98%), jardins que promovem a filtragem natural de águas poluídas (95%), corredores verdes (95%), jardins de chuvas (95%) e rios e lagoas integrados ao ambiente urbano (91%).
Esse olhar positivo de transformação passa, porém, pelo necessário reconhecimento da influência das mudanças do clima em diversos aspectos da vida cotidiana, além de refrear a desinformação em alguns segmentos da população. Os dados da pesquisa também contribuem para a criação de estratégias de políticas públicas que sensibilizem a sociedade em busca de soluções permanentes e eficientes.
Atitudes simples que beneficiam o meio ambiente são citadas de maneira espontânea pelos entrevistados do levantamento, como reciclar e descartar o lixo corretamente (24%), plantar árvores (15%), evitar o uso de plástico (8%) e utilizar meios de transporte menos poluentes (8%). Em compensação, 19% se mostram prontos a promover alguma mudança de hábito, mas não sabem o que poderiam fazer. É junto a esse público bem intencionado e ainda disperso que as políticas públicas podem impulsionar e fortalecer uma mentalidade de preservação da natureza.
Ao olharmos para o futuro, 91% dos brasileiros consideram que as mudanças climáticas terão grande impacto nas próximas gerações. São pais e avós que não gostariam de ver seus filhos e netos saindo de casa diariamente amedrontados com o risco de perder tudo diante de desastres naturais. Existem caminhos para evitar isso, mas é preciso que ações sejam implantadas com direcionamento, senso de urgência e comprometimento da sociedade. Diante desse quadro, governos, empresas e organizações da sociedade civil têm o dever de buscar soluções climáticas mais ambiciosas.
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