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Brasil critica guerra, mas vende petróleo a Israel

Desde início do conflito, país é um dos 5 maiores fornecedores de óleo bruto a Netanyahu; organização afirma que embargo pressionaria por cessar-fogo

Priscila Pacheco · Leila Salim ·
15 de março de 2024

Inimigos, inimigos, petróleo à parte. Apesar das declarações recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza e em defesa da população civil palestina, o petróleo brasileiro está entre os mais utilizados pelo governo de Benjamin Netanyahu para abastecer seus aviões e tanques desde o início da guerra em 7 de outubro do ano passado, após o ataque terrorista do Hamas.

Uma análise da organização Oil Change International revelou nesta quinta-feira (14) que o Brasil é um dos cinco maiores fornecedores de óleo cru a Israel, juntamente com Estados Unidos, Azerbaijão, Cazaquistão, Gabão e Rússia. O número de palestinos massacrados em Gaza já ultrapassa os 31 mil, sendo 13 mil crianças. Outras dezenas de milhares estão feridos ou desaparecidos sob os escombros, possivelmente mortos, e os sobreviventes enfrentam a fome, já que Israel tem bloqueado a entrega de ajuda humanitária. Do lado israelense, 1.388 pessoas foram assassinadas.

O Brasil, um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo, enviou 260 mil toneladas de óleo a Israel desde dezembro, quando Lula já havia feito as primeiras críticas à guerra. Em janeiro deste ano, o Tribunal Internacional de Justiça de Haia determinou que Israel deve garantir que suas forças não cometam genocídio na Palestina, em sentença resultante do processo aberto pela África do Sul acusando o país da prática. Lula, que em mais de uma ocasião discursou referendando a acusação do país africano, tem se esquivado das pressões de movimentos sociais por sanções econômicas ao país.

“A dinâmica da indústria petroleira é tão cruel que, mesmo enquanto o presidente Lula é considerado persona non grata pelo governo de extrema-direita israelense, o Brasil alimenta a máquina de guerra de Benjamin Netanyahu com óleo brasileiro”, diz Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima. “Isso é um problema, mas também pode ser um instrumento de pressão do governo brasileiro por um cessar-fogo.”

O material enviado pelo Brasil em dois carregamentos – um em dezembro de 2023 e outro no mês passado – é proveniente de campos no mar da britânica Shell e da francesa Total Energies em parceria com a Petrobras. Segundo a análise, como um importante fornecedor de petróleo para Israel, o Brasil tem a oportunidade de pressionar por um cessar-fogo por meio de um embargo no fornecimento de combustíveis fósseis, utilizados para abastecer a frota militar do país.

A manutenção das relações comerciais com Israel é criticada por defensores dos palestinos. “Os Estados e as empresas que continuam a fornecer combustível a Israel para as suas forças militares são diretamente cúmplices no apoio ao seu genocídio em curso”, disse Mahmoud Nawajaa, coordenador geral do Comitê Nacional Palestino. Neste cenário, o embargo é visto como uma contraposição ao poderio militar de Israel. “Apelamos às nações para que aproveitem o fornecimento de petróleo como forma de exigir um cessar-fogo imediato e o fim da ocupação”, disse Allie Rosenbluth, gerente de programa da Oil Change International nos Estados Unidos.

Aliados históricos de Israel, os Estados Unidos enviaram três navios-tanque de combustível para jatos militares. O último deles foi visto no porto israelense de Ashkelon no dia 6 de março. A Arábia Saudita, os Emirados Árabes e o Iraque transportam petróleo bruto pelo oleoduto Sumed. Israel recebe deste oleoduto pequenas, mas constantes remessas de petróleo. Esses países também já criticaram a postura de Israel na guerra.

O Observatório do Clima questionou o governo brasileiro sobre a venda de petróleo ao governo Netanyahu, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. 

  • Priscila Pacheco

    Jornalista independente apaixonada por viagens, cultura e meio ambiente.

  • Leila Salim

    Jornalista e doutora em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ. Repórter com experiência em fact-checking, políticas públicas e direitos humanos.

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