O avanço das mudanças climáticas reverberam mais uma vez nos oceanos e trazem à tona uma quarta onda de branqueamento em massa dos recifes de corais em 2024. A Coral Reef Watch, organização de monitoramento dos corais, emitiu um novo alerta desse fenômeno para todo o hemisfério Sul. A grande barreira de corais, localizada na Austrália, já está sendo atingida – mais de 1.000 km estão brancos até o momento, segundo o jornal The Guardian. No Brasil, o projeto Coral Vivo, referência de pesquisa e proteção dos corais, fiscaliza o início de pontos brancos na costa brasileira. De acordo com Miguel Mies, oceanógrafo e organizador do projeto, 8 pontos da costa brasileira já perderam a coloração. A situação preocupa os especialistas que aguardam o ponto crítico de aquecimento das águas para abril de 2024.
Miguel Mies explica que os corais são seres vivos que dependem de um certo equilíbrio na temperatura da água para sobreviverem. Pertencentes ao Filo Cnidaria, vivem em uma ação simbiótica com microalgas chamadas de zooxantelas. Essa relação é o que fornece a pigmentação e alimentação para os cnidários. Assim que as ondas de calor atingem os recifes, as zooxantelas produzem substâncias nocivas aos corais e a associação é interrompida, gerando o branqueamento e causando deficiência energética.
Apesar do branqueamento significar que os corais estão doentes, na UTI, com pouca absorção de alimentos, eles não estão necessariamente mortos. A morte acontece quando não há uma folga no estresse térmico e, por conta da intensidade e frequência da quentura da água, acabam por não conseguirem recuperar a relação com as zooxantelas e, daí, morrem.
O oceanógrafo esclarece que esse acontecimento é, sim, natural. Entretanto, o que estamos presenciando agora é o branqueamento em massa decorrente do combo mudanças climáticas antropogênicas e a ação do El Niño modificado, mais forte. O aquecimento aquático preocupa a comunidade ambiental pela frequência exacerbada, que dificulta a recuperação dos recifes. Para entender melhor, a fase quente do El Niño, que antes costumava ocorrer entre 6-7 anos, hoje já ocorre entre 4-5 anos, além da elevação do grau de calor nos últimos anos.
O programa Coral Vivo acompanha cerca de 2,500 km de costa brasileira e notificou o primeiro ponto branco há cerca de um mês, em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. Os pesquisadores esperam um branqueamento ainda mais intenso do que o ocorrido entre o período de 2019-2020, no qual quase 80% dos recifes de Ubatuba, litoral paulista, foram acometidos. Para esse ano, calculam que os maiores pontos brancos ocorrerão em corais do arquipélago de Fernando de Noronha (PE) e Atol das Rocas (RN).
A expectativa de Mies é que entre os próximos 35-40 anos cerca de 60% dos corais serão perdidos em todo planeta. Motivo de atenção pois, segundo o Ministério do Meio Ambiente, uma em cada quatro espécies marinhas vive nos recifes, incluindo 65% dos peixes. Além dessas cnidárias serem sítios de abrigo, alimentação e reprodução, contribuindo para a saúde dos outros animais marinhos e, consequentemente, para a pesca e outros mercados econômicos, possuem também relevância na indústria farmacêutica biotecnológica. Medicamentos, como os que são utilizados para o tratamento de Chagas, usam os corais como matéria-prima.
Questionado sobre uma possível recuperação dos corais, Miguel Mies deixa claro que a melhor forma de proteção ainda são as unidades de conservação. Segundo ele, na teoria, as restaurações artificiais de corais funcionam, mas na prática, não: “Hoje existe em voga a história da restauração de recife de coral [como o uso de painéis revestidos de concreto para abrigo], mas, embora isso seja uma atitude bem intencionada, nobre, porque ela quer recuperar um ambiente degradado, é o que a gente chama de a gente enxugar gelo, porque vem onda de calor e mata isso também. E isso se torna uma coisa polêmica porque passa a competir por recursos da conservação com outras medidas que a gente sabe que são um pouco mais eficientes, como por exemplo criação de unidade de conservação.”
As áreas de conservação de corais não são imunes ao branqueamento. Entretanto, impossibilitando outras ações humanas exploratórias no local, permite que os animais se fortaleçam mais adequadamente e consigam enfrentar o período quente do El Niño e as outras ondas quentes provenientes da ebulição climática.
O oceanógrafo reforça que, em congruência com os locais de proteção dos corais, atitudes diminuidoras da liberação de poluentes na atmosfera necessitam entrar em prática na comunidade global. “Essa infelizmente não vai ser nem de perto a última onda de calor que os corais vão passar. Como combater isso é muito difícil, o único jeito é conscientizar a população global sobre a realidade das mudanças climáticas. Não tem uma solução mágica, o que a gente precisa fazer é batalhar por um planeta mais limpo”, finaliza.
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Ontem, 26 mar li um artigo publicado pela Redação do “Um só planeta” da editora Globo: cientistas americano publicaram “um estudo” onde mostra passos testados de técnica “marine cloud brightening” (branqueamento das nuvens marinhas, em tradução livre, que semeia gotículas com sal, para tornar as nuvens mais “brancas”, o que possibilita reflexão maior das luzes solares deixando o oceano abaixo, menos quente, que beneficiaria os corais.
Mas ñ publicaram o “efeito colateral”, numa “reação em cadeia”, o que pode ocorrer na natureza, quando este “excesso de sal”, cair no mar e/ou terra após essas nuvens se transformarem em chuvas.
Vai ser consertado um problema e vão aparecer uma dúzia?
Tema super interessante!