Para melhorar o controle socioambiental dos produtores de carne bovina instalados no Cerrado, organizações somaram esforços para produzir um protocolo voluntário para criação de gado no bioma, que concentra cerca de um terço de todo o rebanho do país. O Protocolo de Monitoramento Voluntário de Fornecedores de Gado reúne 11 critérios que funcionam como um guia para a produção e compra responsável. O documento, lançado na terça-feira (23), é fruto de um esforço conjunto das organizações Proforest, Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e National Wildlife Federation (NWF).
Os frigoríficos JBS, Minerva, Marfrig – os três maiores do Brasil –, Frigol e Masterboi já aderiram ao protocolo; assim como grandes empresas compradoras do varejo: Grupo Pão de Açúcar, Carrefour Brasil e Arcos Dorados (franquia do McDonalds). A campanha para maior adesão ao protocolo conta com apoio da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (ABIEC), que estabeleceu a meta de que seus associados adotem padrões de monitoramento em todo o Brasil dentro de até dois anos.
“Metade dos associados da ABIEC opera no bioma Cerrado, com muitos deles já adotando políticas de compra de gado. O Protocolo do Cerrado desempenha um papel crucial ao unificar os critérios avaliados e destacar as boas práticas, fornecendo um caminho para as empresas que querem avançar nesse sentido”, explica o diretor de sustentabilidade da ABIEC, Fernando Sampaio.
Os critérios que serão monitorados incluem a sobreposição com polígonos de desmatamento superiores a 6,25 hectares a partir de 1º de agosto de 2008 e com registros de infração, trabalho escravo ou embargos ambientais; sobreposição com Terras Indígenas, Territórios Quilombolas e unidades de conservação; assim como o registro atualizado na base de dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e análises da Guia de Trânsito Animal (GTA).
O documento estava em elaboração desde 2020 e teve contribuições ainda da ONG WWF-Brasil, da indústria alimentícia, empresas compradoras, Ministério Público Federal, entidades do setor pecuário, além da sociedade civil. As informações estão disponíveis numa plataforma online, aberta e bilíngue, onde é possível ter dados sobre as empresas que aderiram.
O esforço é inspirado na iniciativa Boi na Linha, implementada na Amazônia pelo Imaflora em parceria com o Ministério Público Federal desde 2019.
“Ações harmonizadas também são possíveis em outras regiões do Brasil, para além do já consagrado no bioma Amazônia. Essa movimentação é importante porque o Cerrado passa por um momento crítico de aumento das taxas de desmatamento, parte disso associado à cadeia da agropecuária”, pontua o gerente de projetos em Cadeias Agropecuárias do Imaflora, Lisandro Inakake. “Utilizamos os cinco anos de experiência para levar a outro bioma soluções que respaldam a produção frente aos mercados mais exigentes, ajudam a consolidar a prática da pecuária sustentável e contribuem para o enfrentamento da crise climática”, completa.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura e Pecuária, o Cerrado concentra 36% de todo o rebanho brasileiro e mais de 63% da produção de grãos. Em 2023, o bioma perdeu 11 mil km² de vegetação nativa, a maior cifra desde 2015 e o equivalente a sete vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Neste ano, pesquisadores temem que a taxa de desmatamento possa chegar a 12 mil km² se o ritmo atual for mantido.
“Primeiramente existe um anúncio, um documento que harmoniza regras a todos os atores que aderiram, agora implementar é fundamental para que resultados efetivos aconteçam”, destaca o gerente da Imaflora.
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