O tripé que norteia a sustentabilidade está intrinsecamente ligado ao social, ambiental e econômico. Ao analisar o âmbito social no Brasil, é instantâneo pensar nas pessoas, adultos e crianças, que vivem no Brasil e como projetos socioambientais estão, para além de atuar com sustentabilidade, priorizando também o combate a problemas ligados ao infanto-juvenil.
Recentemente, foram divulgados dados pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), que mostrou como o trabalho infantil, que ainda é tão alarmante no nosso país, aumentou nos últimos seis anos, e mostrou que a região norte predomina esse triste dado.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) de 2022, sobre o trabalho infantil, houve aumento de 21%, entre 2016 e 2022, no número de caso de crianças de 5 a 9 anos vítimas desse crime. Esses dados foram apresentados neste mês, em 12 de junho, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil.
Liderando, na região norte, está o Estado do Pará, onde há maior número de concentrado, com 191 mil crianças e adolescentes de 5 a 17 nesta situação. Ainda conforme a pesquisa, os casos de trabalho infantil são três vezes mais predominantes em regiões rurais. A pesquisa do PnadC 2022 revela que, em todo o país, as principais áreas em que ocorre essa prática está ligada a trabalhos domésticos e atividades relacionadas à criação de bovinos.
Dados alarmantes como esses deixam em evidência a importância de ações emergenciais para se combater a escravidão social que estamos permitindo às nossas crianças. Você pode questionar “Ora, mas qual a ligação de atuar com sustentabilidade e combater o trabalho infantil?”. Eu respondo: tudo!
Nós que defendemos a Amazônia em Pé atuamos para que cada vez mais tenham ações voltadas ao desenvolvimento sustentável, que envolve empoderamento comunitário, melhorias de educação, saúde, infraestrutura, prosperidade e tudo o que é necessário para se ter dignidade social e econômica, ao mesmo tempo em que a Amazônia é conservada.
Todos ouvimos frases como: “as crianças são o futuro” ou “qual planeta queremos deixar para as nossas crianças?”. Sempre iremos querer o melhor e mais preparado futuro aos nossos pequenos, mas o que de fato estamos fazendo para combater problemas como o trabalho infantil? Pois, segundo a pesquisa citada acima, nossas crianças ainda estão sendo escravizadas.
Quando uma criança e adolescente está realizando atividades que deveria ser feita somente na fase adulta, está pulando várias etapas de sua vida. Perde a infância e acelera um desenvolvimento emocional completamente cheio de vulnerabilidades, pois teve que criar responsabilidades fora do tempo correto. É importante ressaltar que essa criança vítima de trabalho infantil decorre de uma família que também sofre de outro problema: falta de políticas públicas efetivas no combate à desigualdade. Tudo está interligado.
Ao longo da minha atuação com trabalhos pela Amazônia, especialmente nos últimos 15 anos pela Fundação Amazônia Sustentável, buscamos trabalhar com apoio na educação de comunidades tradicionais e indígenas, em parceria com as lideranças locais e escolas públicas. Dentro dessa temática, além de priorizar a defesa do meio ambiente, reforçamos a importância do desenvolvimento social dos nossos jovens para que se tornem adultos empoderados e capazes de construir um futuro digno e próspero.
Entre as principais frentes de trabalho, está o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes ribeirinhos na Amazônia. A partir de um projeto realizado pela FAS nessa temática, registramos a queda de 87% na evasão escolar e redução de 84% na taxa de jovens sem documentação, entre 2019 e 2022, em 9 municípios no estado do Amazonas. Esses resultados contribuem com a qualidade de vida e com a dignidade da nossa juventude amazônica, especialmente aquela que vive em áreas remotas, oferecendo oportunidades no âmbito da cidadania e aprendizagem.
A educação é uma arma poderosa para mudar o nosso planeta, mas sem comida na mesa, trabalho e dignidade para os nossos cidadãos, continuaremos nadando contra um banzeiro violento e sem colete salva-vidas. O trabalho começa no núcleo familiar, especialmente de áreas mais vulneráveis de centros urbanos e rurais. Sem isso, teremos adultos incapazes de entender a importância do seu lugar no mundo e na conservação dele.
Retomo a frase dita acima, mas sob outra perspectiva: nossas crianças são o futuro do planeta, mas até quando continuaremos escravizando-as?
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
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