Baku, Azerbaijão – As florestas ao redor do globo são uma força potente de estabilização climática. O entendimento sobre essa ligação entre clima e natureza foi formalizado por mais de 100 líderes mundiais em 2021, na Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Floresta, mas, passados três anos, as agendas ainda continuam a andar de forma independente. Esta realidade, no entanto, tende a mudar, diz a secretária executiva da Convenção Sobre Diversidade Biológica da ONU, Astrid Schomaker.
Em entrevista concedida a ((o))eco durante a 29ª Conferência do Clima, no Azerbaijão, Schomaker afirma que os órgãos subsidiários da ONU têm trabalhado de forma incisiva na união entre os dois temas e que a expectativa é que, até a COP30, a ser realizada em Belém, um programa de trabalho entre as duas convenções – a do Clima e da Biodiversidade – seja publicado.
“Não se trata de fundir convenções, mas de aproximar a implementação, tornando-as mais eficazes e eficientes”, disse.
Schomaker lembra da decisão histórica recém-adotada pelas nações durante a Cúpula da Biodiversidade – realizada entre 21 de outubro e 1º de novembro deste ano em Cali, Colômbia – sobre Biodiversidade e Mudanças Climáticas.
Nela, os presidentes da COP16 da Biodiversidade, da COP29 do Clima, realizada no Azerbaijão, e da COP30, que vai acontecer no Brasil, são convocados a fortalecer uma coordenação multilateral. A decisão também solicita que os interessados submetam até maio de 2025 suas sugestões para que as agendas do clima e da biodiversidade tenham maior “coerência política”.
“Conseguimos adotar [em Cali] uma decisão sobre clima e biodiversidade que é muito concreta e que diz que as partes agora contribuiriam para uma reflexão sobre quais são as sinergias e as áreas de coerência entre a política climática e a biodiversidade, e como implementá-las nos processos de planejamento nacional”, explica. “Isso será compilado por um secretariado e depois levado adiante, esperançosamente para Belém, onde diríamos: ‘ok, obviamente há muita sobreposição, tantas sinergias e tantos trade-offs, que em algum ponto teremos que ter programas de trabalho conjuntos’”, diz.
Clima e florestas
Já está amplamente estabelecido pela ciência que a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas estão correlacionadas e se reforçam mutuamente. A natureza saudável mantém o carbono armazenado onde ele naturalmente pertence. O desmatamento e as queimadas, por outro lado, lançam esse carbono na atmosfera, agravando os efeitos das mudanças climáticas.
Atualmente, cerca de 25% das emissões globais são provenientes do desmatamento e degradação, a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito estufa no nível global, depois do setor energético.
Por outro lado, aproximadamente 2,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, ou um terço do CO2 liberado pela queima de combustíveis fósseis, é absorvido pelas florestas a cada ano, diz a ONU.
A biodiversidade melhora a capacidade de adaptação e a resiliência dos países, incluindo na redução de riscos de desastres. As mudanças climáticas, por outro lado, são um dos principais fatores que impulsionam a perda de biodiversidade.
Na COP26, em 2021, os líderes globais se comprometeram a interromper e reverter o desmatamento e a degradação de paisagens até 2030. O acordo prevê zerar o desmatamento até 2030 com investimentos públicos e privados de US$ 19,2 bilhões, mas estes resultados ainda não se vislumbram no horizonte.
Apesar do papel crítico e significativo das florestas para abordar tanto a mitigação quanto a adaptação às mudanças climáticas, a parcela de financiamentos climático e de biodiversidade para florestas no nível global permanece significativamente baixa, estimada em 2% e 9%, respectivamente.
Unindo agendas
O tema das florestas e do financiamento para sua proteção esteve na agenda de “alto nível” nesta quinta-feira (21), na 29ª Conferência do Clima. Em evento com a presença do presidente da Cúpula no Azerbaijão, Mukhtar Babayev, representantes de diferentes países participaram do debate “Florestas para Clima, a Natureza e as Pessoas: aproveitando o financiamento climático para as florestas”.
Entre os participantes esteve Inger Andersen, Diretora-Geral da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que lembrou da necessidade de cortar emissões em 41% até 2030, para manter o aquecimento global em 1,5ºC, e do papel crucial das florestas nesse desafio.
“Agora é o momento de agir, e as florestas nos ajudam, se estivermos dispostos a permitir que elas façam isso, porque as florestas trazem a promessa de uma redução de 19% nas emissões entre agora e 2030. Lembram-se de que eu disse que precisávamos reduzir um total de 41% até 2030? As florestas nos levarão quase até a metade do caminho. O resto, os outros 20%, conseguiremos com energia renovável”, disse.
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