No final de março desse ano, os moradores da costa sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul foram surpreendidos por um furacão extratropical, o primeiro de que se tem notícia no Oceano Atlântico Sul. A velocidade dos ventos manteve-se em torno de 150 km/h com rajadas de até 178 km/h, o suficiente para matar 2 pessoas, destruir 100 mil casas e desabrigar milhares de pessoas. Essa desgraceira toda obviamente ocupou o noticiário nacional por vários dias. Mas foi logo esquecida. O furacão passou e já não se fala mais nisso. Apesar dos traumas emocionais e prejuízos socioeconômicos produzidos na costa sul brasileira, continuamos incrédulos em relação às catástrofes naturais no Brasil.
Dizem que Deus é brasileiro porque aqui não tem terremoto, vulcão e furacão. Para falar a verdade eu também sempre acreditei nisso, pelo menos até a semana passada, quando assisti a uma entrevista do professor Rubens Vilela em um conhecido programa matinal de TV. O professor Vilela é uma das maiores autoridades em meteorologia marinha em nosso país. Trabalha no Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo. A entrevista era sobre previsões climáticas e, evidentemente, a conversa rumou na direção do furacão em Santa Catarina. Vilela descreveu o fenômeno com precisão científica, mas didaticamente, para que a entrevistadora pudesse compreendê-lo.
Em um dado momento da entrevista, o professor deu uma informação que me preocupou seriamente. Disse que cientistas ingleses construíram um modelo para prever a ocorrência de furacões no mundo nas próximas décadas. Eles utilizaram dados atuais das causas antropogênicas da alteração climática, particularmente da dinâmica atmosférica em decorrência do “efeito estufa”. Como vocês sabem, o famoso “efeito estufa”, provocado pela emissão dos gases oriundos da atividade industrial e queima de florestas (p.ex., CO2), aumentou em 1 grau a temperatura média no planeta nos últimos 100 anos. Bom, e daí? Daí que a formação dos furacões sobre o mar está diretamente associada aos gradientes de pressão atmosférica causados por diferenças de temperatura em escala planetária. Segundo o professor Vilela, o modelo dos ingleses previa furacões no Atlântico Sul (agora pasmem) por volta do ano 2070!
Parece que os furacões chegaram mais cedo do que o previsto. Começo a acreditar menos no fato de Deus ser brasileiro e mais em furacões por aqui e na necessidade de tomarmos medidas preventivas para evitar os transtornos sociais de março passado. Estamos na iminência de um problema gravíssimo, denunciado timidamente pelo professor Vilela. Os catarinenses e gaúchos que se cuidem, pois as consequências do efeito estufa já podem estar acontecendo.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
Leia também
As belas e ameaçadoras espirais dos ciclones tropicais
Ciclone, furacão, tufão. O nome depende de onde se forma, mas uma tempestades tropical é tão impressionantes vista do espaço quanto perigosa para quem está em seu caminho. →
O que são ciclones, furacões e tufões
Entenda, com este guia ((o))eco, a diferença entre estes destrutivos fenômenos meteorológicos →
Número de portos no Tapajós dobrou em 10 anos sob suspeitas de irregularidades no licenciamento
Estudo realizado pela organização Terra de Direitos revela que, dos 27 portos em operação no Tapajós, apenas cinco possuem a documentação completa do processo de licenciamento ambiental. →