Análises
A morte não é banal e A normalidade brasileira ataca outra vez
De Henrique M. TorresMarcos Sá Correa e Sergio Abranches,os seus textos (A morte não é banal e A normalidade brasileira ataca outra vez) sobre a morte estúpida do biólogo Eduardo Veado e sua esposa me emocionaram duplamente. Primeiro, por tomar conhecimento do importante trabalho desse brasileiro, que foi interrompido tão bruscamente e cuja continuidade ficou em suspenso. Segundo, pela forma como ocorreram essas mortes. A pergunta sobre o caráter intencional desse crime é importante, porque isso significaria um atentado à atuação de cientistas que contrariam interesses de bandidos. Porém, se o atropelamento se provar 'acidental', em que isso muda, objetivamente? Seria mais fácil aceitar essa tragédia? Mesmo que não fosse intencional, a situação em que ocorreu o atropelamento - no acostamento, com o carro em alta velocidade e na contra-mão - evidenciam tudo, menos "acidente".É preciso parar de falar em "acidentes" de trânsito, mas sim em "crimes". Há alguns anos atrás, durante um congresso de escritores de romances policiais na Inglaterra, fez-se uma pesquisa para saber qual seria o "crime perfeito". E ganhou, disparado, o atropelamento. Porque mesmo que seja intencional, é difícil provar. E, se a sociedade condena com veemência o assassinato de um ser humano, ela é complacente - a não ser, é claro, quando acontece com um ente querido - com as mortes violentas no trânsito. As pessoas valorizam mais a perda dos seus bens materiais do que uma vida que se perde dessa forma. Um favelado que rouba um celular é espancado pela polícia sob os aplausos quase unânimes dos passantes e da opinião pública, enquanto que um jovem rico que, dirigindo em alta velocidade, mata um homem que estava entrando em seu carro, é liberado pelo policial e ninguém acha isso anormal. Esses dois fatos aconteceram há poucos anos em Ipanema, Rio de Janeiro, no intervalo de alguns dias.Clique aqui para ler esta carta na íntegra.