O novo relatório mundial da ONG holandesa BankTrack, sobre políticas e ações bancárias na área socioambiental, passou quase batido pelo noticiário nacional. Uma pena. Apresentado na última quinta-feira (13), em São Paulo, traz informações valiosas sobre o “esverdeamento” das instituições financeiras na hora de investir ou liberar créditos para pessoas Físicas e Jurídicas. O Brasil serviu de palco para a avant prémière do relatório, que estará disponível na Internet e será apresentado em outras cidades do globo a partir desta quarta-feira (19).
Na sua primeira edição, do fim de 2005, foram analisados 39 bancos. Do Brasil, entraram na roda os privados Unibanco, ABN Amro, Bradesco e Itaú, além dos públicos Banco do Brasil e BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Todos receberam notas muito baixas. O BNDES levou zero, ao lado do estatal Korean Development Bank e do privado Sumitomo Mitsui Financial Group.
Na edição atual, as notas baixas se repetem entre os 45 bancos avaliados (tabela abaixo). Unibanco e BNDES ficaram de fora. Infelizmente, porque o banco público é um peso-pesado do desenvolvimento nacional. Mesmo depois de assinar o Protocolo Verde, em 1995, comprometendo-se a exigir no mínimo licenças ambientais para liberar recursos, a instituição tem pisado na bola.
Dinheiro do BNDES pode ser encontrado na mina de bauxita da Alcoa, em Juriti (PA), em pequenas centrais hidrelétricas em Juruena (MT), nos plantios de eucaliptos no Pampa e, quem sabe, no polêmico Complexo de Usinas do Rio Madeira. Todos os empreendimentos enfrentam questionamentos de ambientalistas e de populações locais. Além disso, segundo o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), os investimentos do BNDES em mineração devem crescer 16,4% até 2011.
Falando em Rio Madeira, a imprensa nacional noticiou nos últimos dias um aporte de R$ 600 milhões de fundos de pensão da Caixa Econômica Federal (Funcef) e da Petrobras (Petros) na construção da usina de Santo Antônio. Fundos de pensão são entidades privadas abastecidas com dinheiro de aposentados. Será que eles sabem onde estão investindo? “Parece haver ingerência política nos investimentos desses fundos”, comenta Gustavo Pimentel, da ONG Eco-Finanças, braço nacional da entidade holandesa.
Muito além das assinaturas
De acordo com a BankTrack, desde 2005 houve avanços na atuação dos bancos, mas eles ainda estão muito longe do ideal. Nos sete temas da pesquisa – agricultura, mineração, petróleo e gás, florestas, pesca, barragens, indústria militar – melhorias foram obtidas a partir da adoção de regras internacionais e políticas coletivas, como os Princípios do Equador. “Assinar compromissos coletivos é um primeiro passo, mas é preciso ações específicas para cada setor”, avisa Pimentel
HSBC (Inglaterra) e RaboBank (Holanda) se destacaram em nível global, enquanto por aqui o Banco do Brasil registrou melhora. Segundo Pimentel, os bancos brasileiros estão a meio caminho de instituições internacionais. Na linha do desastre, ele aponta bancos asiáticos da Índia, China, Indonésia. Eles levaram a maioria dos zeros na versão atual do relatório da BankTrack. “Estão todos (nacionais e internacionais) ainda jogando na 3ª divisão do futebol”, diz.
Mas será que bancos públicos têm autonomia para agir fora das diretrizes políticas emanadas do poder central? Para Pimentel, da Eco-Finanças, isso é “perfeitamente possível”. Segundo ele, os bancos tupiniquins assinaram praticamente todos os compromissos globais sobre responsabilidade socioambiental. Agora, resta colocar tudo isso em prática. “Os bancos brasileiros têm que arregaçar as mangas e ajustar seus portfólios para melhor observarem questões socioambientais”, diz.
As próximas edições do relatório BankTrack serão dinâmicas, com informações atualizadas mediante atualizações dos bancos. “O papel dos bancos será cada vez mais importante no financiamento da infra-estrutura e atividades produtivas, mesmo que alguns setores venham se capitalizando”, completa Pimentel.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) serviu de sede para o lançamento do estudo da BankTrack, na última quinta-feira. No entanto, nenhum de seus dirigentes encontrou espaço na agenda para comentar o relatório, segundo sua Assessoria de Imprensa.
45 Bancos Avaliados pela BankTrack
Bancos no clima
Na semana em que se encerraram as negociações sobre clima global em Bali (Indonésia), a BankTrack também chamou a atenção para o papel das instituições financeiras nas alterações do clima. O alerta pesa sobre incentivos a combustíveis fósseis, como gasolina, carvão e diesel. Queimá-los emite o gás Dióxido de Carbono (CO2), um dos vilões do aquecimento global.
“Todos os grandes bancos parecem ter iniciativas climáticas, mas elas apenas arranham a superfície do que realmente deve acontecer. Eles (bancos) seguem financiando novos projetos de petróleo e gás, aos olhos de um público cada vez mais crítico dos cúmplices da destruição do clima”, disse Johan Frijns, coordenador da BankTrack, por meio de nota distribuída pela ONG.
As 23 páginas do documento trazem uma espécie de guia para bancos ajudarem nos esforços contra os desvarios climáticos alimentados pela poluição humana. As sugestões incluem deixar de colocar dinheiro em poços de petróleo e gás, tornar públicas informações sobre emissões oriundas de seus empréstimos e investimentos diretos, definir metas e meios para cortar emissões de gases estufa em todas as operações e serviços.
Observado mais de perto a geração de energia, a Banktrack acredita que instituições financeiras podem apoiar fontes renováveis e mais limpas, como solar, eólica e biomassa, e, ainda, ações de eficiência e economia energética.
“Os bancos, devido a sua participação no financiamento de vários setores da sociedade, deveriam ter maior participação no combate às mudanças do clima”, diz Sebastien Godinot, da Amigos da Terra – França. “Imagine o que aconteceria se eles (bancos) insistissem em compromissos climáticos para todos os seus clientes. Seria um grande impulso à descarbonização da economia”.
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