Dizem que seu nome significa Floresta Branca. Dizem ainda que ocupa quase 10% do território nacional e é rica em recurso genético por sua alta biodiversidade. Com considerável endemismo, sua fauna e flora apresentam alto grau adaptativo, dado às condições climáticas adversas e baixíssima umidade. Tem sido duramente devastada para extração ilegal de madeira, usada para lenha caseira, fornos precários de produção de cal. e suas planícies à beira do rio São Francisco estão dando lugar a monoculturas de frutas. Mas cabe dizer aqui, no início da semana dedicada ao ecossistema menos protegido no Brasil, que a Caantinga acolhe uma das paisagens mais cênicas, receptivas e íntegras quando a olhamos através das lentes.
Apesar de cada um ter seu próprio conceito e atrativos fotográficos, o que sustenta uma imagem é a luz que a define, forma e colore. E neste sentido, a caatinga é revestida por uma luz espetacular. Poucos são os lugares que se ‘metarmofoseiam’ em tantos outros num único dia. Talvez por sua posição geográfica (nordeste do país), por sua rareada umidade do ar – vasto véu enevoado que cobre tantos outros biomas impedindo que a luz chegue límpida, pura e intensa, o fato é que caminhar sob seu calor escaldante é uma jornada sem volta, um encontro a uma luz que se pronuncia sobre a vegetação minguada de folhas e fauna arisca aos visitantes.
O dia começa abençoado por uma cor dourada e um céu escandalosamente azul, sem nenhuma nuvem para contar história. À medida que o sol toma seu rumo ao topo, as cores perdem força e vem a textura; troncos cobertos de enormes espinhos, rochedos imponentes expõem a aridez da terra e os bichos camuflados somem por completo procurando abrigo. Um calor seco toma conta e cria uma sensação de mal estar, pior só o calor úmido e sufocante da Amazônia. O dia termina tarde com um desenfrear de cores acobertando a todos, decorando as planícies de cactos e avermelhando as paredes de barro das casas. Enigmático se torna também seu povo, cuja luz em seus olhos e atitudes reformulam qualquer conceito urbano de humanismo: o povo sertanejo é a expressão máxima do que é solidariedade.
Nada tem e se desdobram para dividir o que tem com quem chega em sua casa; olham através da câmera com uma integridade ímpar, como se quisessem deixar ali registrados – tenho nada sim sinhô, moro aqui nesta palhoça de taipa que eu mermo fiz, crio minhas cabra para dá de comê a doze fio, pois o úrtimo deus levô, planto uns pé de feijão nesse pedacinho de terra, que graça ao bom Jesus vai chovê em cima. Mas tenho meu nome, minha fé e minha coragem!
E nesta desenfreada declaração de respeito por si mesmo, eles te olham, lá no fundo, atravessam os cristais ópticos, diafragma, filmes e ccds da vida, imprimem sua honra e mostram que a simplicidade é o melhor caminho para ser aceito pela vida.
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