Fotografia

O impressionismo de Almir Cândido

Almir Cândido começou a fotografar em 1981, com as nostálgicas ‘Xeretas’ da Kodak. De fala calma e curiosidade inata pela fotografia, é daqueles...

Adriano Gambarini ·
26 de outubro de 2007 · 17 anos atrás

Almir Cândido começou a fotografar em 1981, com as nostálgicas ‘Xeretas’ da Kodak. De fala calma e curiosidade inata pela fotografia, é daqueles fotógrafos amadores diferenciados. Há uma preocupação estética, um cuidado técnico em suas imagens. Tanto é que nove anos após sua primeira aquisição no mundo da fotografia, já começou a utilizar câmeras reflex 35 mm e mergulhar nos livros, para um primeiro aprendizado autodidata. “Na minha fase tentativa-e-erro, demorei muito a fazer as primeiras imagens razoáveis”, diz. “Foi então que decidi correr atrás de cursos, aí não parei mais; fiz cursos de revelação em preto-e-branco, retrato, still, iluminação em estúdio, médio e grande formato, etc”.

Difícil dizer se foram os cursos que aprimoraram a estética de seu olhar; questiono um pouco isto. Creio veementemente que a fotografia é um dom, assim como todas as profissões que envolvem senso artístico. Ao longo da história da fotografia, todos tiveram acesso à técnica e equipamentos, mas foram poucos Bressons, Gautherots ou Adams que eternizaram seus nomes. Talvez o fizeram justamente porque tinham a fotografia na alma, e não clicavam sob o filtro traiçoeiro do ego.

Conheci o trabalho de Almir no Grupo Luminous, um grupo de aficionados por fotografia que vem crescendo sob o olhar cuidadoso de Ourivaldo Barbosa. Na Europa e EUA este conceito de grupos de fotógrafos é algo já firmado, onde se discutem fotografia, troca-se informações e promovem saídas para fotografar. Tudo pelo amor à arte. Aqui no Brasil é um movimento que está nascendo, apesar de haver grupos já muito antigos. Gosto de participar destes encontros; creio na obrigação profissional de disponibilizar meu conhecimento a quem anseia aprender. O verdadeiro conhecimento é aquele sem fronteiras mentais, sem vaidades restritivas, onde se fecha um ciclo: o mestre ensina ao discípulo, que vira mestre. E o primeiro aprende com seu próprio ensinamento.

Proprietário de uma pequena editora, Almir cuida da parte administrativa e fotografa para ilustrar as matérias, desde pessoas até prédios e produtos de limpeza, dependendo da matéria que será publicada. “A natureza é meu tema preferido (insetos, pássaros, flores silvestres, paisagens). Meu trabalho não permite sair a ‘campo’ com freqüência, mas sempre consigo arrumar uma desculpa para escapar alguns dias e me embrenhar na natureza, onde esqueço do mundo e posso curtir o som dos grilos e o assovio do vento, e, claro, fotografar”.

Com o advento da fotografia digital contemporânea à valorização da vida ao ar livre, todo mundo ‘virou’ fotógrafo de natureza. Mas apesar de muitos conseguirem retratar com fidelidade o que vêem, efetivamente poucos conseguem trazer algo mais do que a documentação. A natureza por si só é fascinante, plástica. Não precisa de devaneios humanos para valorizar sua beleza. Mas quando alguém ousa brincar, a coisa pode dar certo. Foi o caso deste ensaio de Almir: suas fotos de aves em baixa velocidade trazem um quê de impressionismo. Não há necessidade de legendas nem visa o purismo informativo; inconscientemente ou não, o fotógrafo conseguiu mexer com o imagético do leitor. É tendo realizado isto, cumpriu sua missão.

  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

Leia também

Reportagens
30 de abril de 2024

Ambientalistas acusam multinacional japonesa de lobby contra a criação do Parna do Albardão

A denúncia foi levada ao MPF no Rio Grande do Sul com pedido de providências. Empresa de energias renováveis nega acusações e afirma não ser contra a proteção ambiental da área

Notícias
30 de abril de 2024

Plásticos são encontrados em corpos de botos-cinzas mortos

Estudo identifica microplásticos em todas as doze amostras de botos-cinzas mortos encontrados no Espírito Santo. Um resíduo de 19,22 cm foi retirado de um deles

Reportagens
30 de abril de 2024

Para salvar baleias, socorristas de México e EUA arriscam a própria vida

Registros de baleias presas em equipamentos de pesca estão crescendo na costa oeste do México, no Atlântico Norte e no resto do mundo — assim como os esforços para libertá-las

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.