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Luto do céu acinzentado

Depois de um nebuloso sumiço (e peço desculpas aos leitores), retomo os ensaios aqui na seção. Neste último mês fui ao Rio Negro da Amazônia, naveguei de Novo Airão ao Arquipélago de Mariuá. Lindo o lugar! Água convidativa, sem mosquitos, mata densa, ribeirinhos acolhedores...E um céu acinzentado.

25 de maio de 2008 · 18 anos atrás
  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

Depois de um nebuloso sumiço (e peço desculpas aos leitores), retomo os ensaios aqui na seção. Neste último mês fui ao Rio Negro da Amazônia, naveguei de Novo Airão ao Arquipélago de Mariuá. Lindo o lugar! Água convidativa, sem mosquitos, mata densa, ribeirinhos acolhedores…E um céu acinzentado.

Segui então para a Serra da Canastra, e fui testemunha de um céu acinzentado sobre uma queimada avassaladora, que em três dias queimou mais do que uma semana de queimadas do ano passado! Soube agora que apesar das chuvas esparsas trazendo esperança aos campos nativos, voltou a correr um fogo criminoso. Acabo de ver imagens aéreas do céu acinzentado no sul do Pará e Mato Grosso.

Honestamente, já tinha decidido não expor mais fotografias dos problemas ambientais que assolam este mundo. Creio que devemos gritar aos quatros cantos sobre o descaso governamental, a estupidez imediatista dos piromaníacos, mas afinal sou responsável por uma seção de fotografia, e se já lemos diariamente as expressões pessimistas do que está acontecendo neste país esquecido, olhar para elas também já é demais!

Pensei em pegar carona no veleiro de Laury e Fernando pelo Rio Paraná, e mostrar um pouco do Parque Estadual do Ivinhema, MS, e de amigos citados por eles, como o ex-caçador Carlos Platero, com quem trabalhei inúmeras vezes em capturas de onças, e um dia me confessou entrecortando palavras, que se arrependia das muitas caçadas que fizera. Quem sabe resgatar a história de Marcel Gautherot e seu magnífico registro de um Rio São Francisco do começo do século, ou então trazer o trabalho inusitado de pesquisadores de raias no Rio Paraná. Tudo isto daria ensaios maravilhosos, cênicos, verdadeiros descansos para os olhos e para nossa alma ambiental atormentada por este turbilhão de desgraças.

Mas devo confessar que lendo as chamadas das matérias aqui no ECO, não me contive – e me desculpem novamente se retomo ao assunto. O que veremos aqui são fotografias de quase 15 anos de trilhagem por um Brasil que, proporcionamente ao aumento do número de unidades de conservação, foi o crescimento do abandono. Muita gente bem intencionada e ativa surgiu, é fato! Isto é um alento e talvez o sopro de otimismo para um futuro melhor.

Mas o presente está aí, igualmente soprado por um vento espalhando labaredas sobre árvores seculares. E isto precisa diminuir. O mais desesperador é que as fotos se tornam atemporais. Tão antigas e ao mesmo tempo atuais. Tão denunciantes e ao mesmo tempo tão rotineiras ao nosso inconsciente. Meu medo maior é de que as fotos se banalizem e percam sua força, sua obrigatoriedade de denúncia; e de que o azul do céu seja gradativamente esquecido em algum canto da memória.

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