
Nasci numa família de viajantes. Os anos eram divididos entre viagens de fim de semana e as tão esperadas férias de verão, onde os dias eram desenhados na janela do carro, pelas estradas do Brasil afora, e vividos em acampamentos em praias desertas.
Entre os caminhos percorridos em busca de lugares desconhecidos, montanhas e vales, certo dia nos deparamos com a Caverna do Diabo. Minha visão juvenil foi para sempre marcada por salões altíssimos e fartamente ornamentados por pontas rochosas e assustadoras, fazendo jus ao nome do lugar. Mas ironicamente, enxerguei ali um toque ludicamente divino.
O tempo passa, a vida prega peças e tira outras; não saberia dizer se aquele primeiro encontro com o misterioso universo subterrâneo contribuiu para minha escolha intelectual, o fato é que enveredei pelos estudos de Geologia na Universidade de São Paulo, lá pelos idos de 1987.
No ano seguinte, conheci o Prof. Ivo Karmann e colegas de faculdade unidos por um único assunto: cavernas. Como um dejá vu que jamais havia acontecido, reencontrei todos aqueles cenários cavernícolas de outrora, agora sob a ótica das pesquisas e mapeamentos. Um universo de perguntas e estudos se descortinava perante nós. E foi neste contexto que comecei a me interessar por fotografia, principalmente na tentativa de registrar os detalhes das formações e as dimensões dos salões.
Com uma câmera FM2, uma lente fixa e um flash, me embrenhei pelos mistérios da luz e da sombra. De cara, percebi que o conhecimento espeleológico adquirido nas inúmeras viagens pelo Vale do Ribeira seria imprescindível para entender a dinâmica da luz que imprimia o filme, e como ela reage diante dos diferentes tipos de calcário que compõem cavernas e suas formações minerais.
Tomei gosto pelo processo alquímico de iluminar aquela escuridão absoluta. Aliás, gostei tanto desta arte que transita entre o documento e o conceitual, que, em 1992, me tornei fotógrafo, logo depois de finalizar o curso de geociências.
De lá para cá, entre expedições científicas aos confins amazônicos ou à busca perseverante por nossa fauna ameaçada, sempre que pude voltei às origens. Acompanhei explorações e mapeamentos nas mais distantes cavernas e, nos últimos anos, segui o caminho dos obstinados pesquisadores de animais cavernícolas.
Não consigo dissociar minha trajetória profissional da minha formação espeleológica. Para homenagear este fantástico mundo subterrâneo, aqui estou, com essa história e essas imagens, abrindo um série de artigos sobre cavernas em ((o))eco.
Leia também
STF inicia novo julgamento do Marco Temporal
Primeiro dia de votação no Supremo foi marcado por mobilização nacional do movimento indígena; Ações questionam a constitucionalidade da lei do marco, aprovada em 2023 →
Coiab reage à aprovação da PEC do Marco Temporal e alerta para retrocesso constitucional
Aprovada às pressas, a PEC 48/2023 reacende disputa sobre direitos territoriais e ameaça a proteção socioambiental garantida pela Constituição →
Decisão do Congresso sobre licenciamento amplia litígios e riscos ambientais, dizem procuradores
Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público Federal (Abrampa) diz que lei do licenciamento é o maior ataque à política ambiental do país →













