No interior do Distrito Federal, escola cultiva alimentos orgânicos e hidropônicos, com benefícios à alimentação e ao ensino. Iniciativa está inscrita no Prêmio von Martius de Sustentabilidade. O Centro de Ensino Fundamental (CEF) São José está a cerca de 70 quilômetros do centro de Brasília. Espaço para mais de 250 filhos de trabalhadores em um núcleo rural cercado por fazendas onde a monocultura de milho e soja reina absoluta. É o tipo de lugar que vê político só em ano de eleição, quando muito. Até esta altura de 2008, nenhum deles sujou o sapato na poeira vermelha daquele pedaço de Cerrado, contam os professores. Enfrentando as dificuldades comuns ao ensino nos interiores do Brasil, a escola completa o parco orçamento com bingos, rifas, doações e festas comunitárias. Apesar de quase esquecida pelos governantes, esbanja teimosia, força de vontade e criatividade. Ingredientes que usou para construir hortas com alimentos orgânicos e hidropônicos. Agora, a alimentação será mais saudável e não dependerá só dos repasses oficiais de alimentos.
No espaço livre de agrotóxicos e outros insumos químicos (ao lado), alface, couve, brócolis, beterraba, repolho e outros vegetais crescem em fileiras irrigadas e adubadas com esterco. Insetos são combatidos com venenos naturais. Ao lado, um minhocário começará em breve a fornecer mais nutrientes à horta.
O centro das atenções, todavia, são as duas estufas com alface e temperos cultivados longe do solo, no sistema de hidroponia, inauguradas esta sexta (19). Inspirados na experiência de uma produtora do município vizinho de Formosa, já em Goiás, os professores do CEF São José usaram telhas de fibrocimento como base para a horta suspensa. A água aditivada com nutrientes chega até os sulcos e raízes com a ajuda de uma pequena bomba elétrica. Depois, segue na carona da gravidade até um tanque, de onde volta a circular.
O modelo é simples e pode ser replicado em pequenas propriedades rurais. Os alimentos crescem duas vezes mais rápido do que na terra e a economia de água chega a até quatro vezes se comparada com a irrigação convencional, conta Gilvan Mateus de Oliveira, diretor da escola. “Uma alface hidropônica pode ser colhida em 30 dias, enquanto que na terra é necessário o dobro do tempo”, disse.
Com o projeto, explica o diretor, a escola quer despertar e fixar o interesse de alunos e familiares pela agricultura orgânica ou de pequena escala. Seus desejos, pelo visto, estão se realizando. A construção das hortas contou com mãos e enxadas de pais, professores, alunos e até de motoristas de ônibus escolares, como o descendente de índios Carajá Manassés Souza Lima. Aos estudantes cabem os cuidados diários, o que fazem mesmo em feriados e fins de semana. “O que fazemos na escola ajuda no trabalho em casa. E o lanche ficou bem melhor”, disse Wéber Chaves, aluno da 7ª série e filho de produtores rurais.
Além das pequenas lavouras livres de agrotóxicos, repletas de legumes e verduras que saem dali direto para as panelas da cozinha, foi montada uma “farmácia” com remédios naturais (imagem ao lado). Assim, além de aprender e repassar aos pais novas técnicas agrícolas, os alunos descobrem que dor de barriga se trata com chá de sete-dores (boldo) ou que um resfriado se combate com uma infusão de funcho ou hortelã. Mais economia, desta vez evitando remédios industriais.
Rotina alterada, para melhor
O dia-a-dia dos alunos também foi transformado pelas oportunidades de ensino proporcionadas pelas hortas. Elas estão alavancando debates sobre uso da terra, artes, sustentabilidade, alimentação, ciclo de vida e até sobre a preservação do Cerrado. “Horta também é sala de aula”, ressalta a professora de Ciências Biológicas Alence da Silva Braga.
A experiência agradou tanto a professores, alunos e comunidade que acabou inscrita na edição deste ano do Prêmio Von Martius de Sustentabilidade, promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha e apoiado por uma série de entidades nacionais e estrangeiras. A entrega aos vencedores será dia 11 de novembro, em Curitiba (PR).
“Nosso objetivo maior não é o prêmio, mas chamar a atenção de organizações não-governamentais e do governo, para conseguir mais apoio ao projeto e à escola”, completou o diretor Gilvan de Oliveira.
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