São Paulo travou. Dito assim, a notícia não chega a ser novidade. O trânsito na maior e quiçá mais poluída cidade do país não é nenhuma maravilha e disso todos sabem. Mas, na quarta-feira, 23, a cidade parou mesmo. Foram registrados pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) nada menos do que 249 km de filas de carros parados tentando andar, recorde no período da manhã. Os congestionamentos foram agravados por uma paralisação de funcionários do Metrô e da Companhia Metropolitana de Trens (CPTM) e parte dos moradores da cidade simplesmente não conseguiu chegar ao trabalho.
Olha esta foto tirada da passarela em frente ao Aeroporto de Congonhas, que mostra o trânsito parado no corredor formado pelas avenidas 23 de Maio e Washington Luís, um dos principais eixos que cortam a cidade de Norte a Sul. Agora imagine a sensação dos milhares de motoristas que perderam horas e horas de vida não fazendo mais do que apertar e puxar o pé nos pedais. Milhares de pessoas paradas, emitindo e respirando fumaça em um desperdício absurdo e sem sentido de tempo e de recursos naturais.
Tenso, certo?
Isso aconteceu na quarta-feira. Também. Mas, não, as fotos acima não são do dia da greve. Elas foram tiradas na segunda-feira, 21. Em dias em que há agravantes, como a paralisação dos metroviários, o caos fica mais evidente, dramático e difícil de aceitar. Mas, como dito no começo deste texto, o colapso nos transportes de São Paulo está longe de ser pontual. O absurdo virou rotina e não é de hoje.
O trânsito da cidade faliu e a responsabilidade tem que ser compartilhada. Mais do que, em uma análise rasa e simplista, culpar somente os metroviários (ou em outras ocasiões a chuva, ou o feriado, ou um acidente) e reclamar, é melhor aproveitar que fomos forçados a parar (literalmente) e estabelecer conexões. Claro que, em vez de cruzar os braços, os operadores dos trens poderiam, sob o risco de punições severas e até responsabilização legal, simplesmente abrir as catracas e deixar de cobrar da população como protesto – alternativa que chegou a ser proposta para o Governo Estadual e recusada. Mas será que são eles, os que decidiram chamar a atenção para um problema que se agrava, para a decadência do sistema de transportes sob trilhos na cidade, que têm que ser unicamente responsabilizados pelo colapso no trânsito desta quarta-feira? A qualidade do metrô se deteriora, o sistema ficou mais caro e os trens mais lotados. Em algumas linhas, as filas para pegar um trem saem para a rua. Em outras, simplesmente não dá para entrar se você não aceita ficar esmagado – o que ninguém deveria aceitar. Mais gente abandona o sistema. E o número de carros aumenta. E as ruas estão cada vez mais entupidas.
De quem é a culpa?
Qual a responsabilidade do Governo Federal, que continua estimulando a compra e circulação de carros e mais carros e recentemente anunciou mais uma redução de Impostos sobre Produtos Industrializados? Qual a culpa dos Governos Estaduais e Municipal, que seguem priorizando melhorias na infraestrutura para o transporte individual (leia-se ampliação de avenidas, viadutos, pontes e túneis) em detrimento de transporte público coletivo? Que papel tem a minoria da população que, por falta de alternativas decentes, conforto, comodidade ou luxo, opta por se deslocar em automóveis, prejudicando a maioria dos que vivem na cidade.
Qual o sentido em continuar separando nos jornais as notícias sobre economia e cidades? Em ler, em uma página que, viva, a redução de IPI vai aquecer a economia, e, em outra, que, droga, o trânsito está cada vez pior? Qual o prejuízo provocado por tantos congestionamentos? Quanto, todos nós, pagamos em saúde pela fumaça que cobre a cidade? Faz mesmo sentido viver em meio à tanta poluição? Quem são os responsáveis por vivermos parados no trânsito engolindo um ar tóxico, meio surdos por conta do barulho?
O silêncio, às vezes, é que incomoda. Mas já que temos com regularidade ficado parados, que paremos para pensar por alguns instantes.
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